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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Coisas que todo concurseiro deveria saber

Coisas que todo concurseiro deveria saber
Se você está pensando em prestar um concurso público e ingressar em uma das muitas carreiras que o estado brasileiro lhe oferece, este texto foi feito especialmente para você. Sabemos que um cargo “público” (pelo bem da lógica, doravante estatal) lhe oferecerá remuneração muito superior ao mercadomenor exigência e estabilidade, três características que os concurseiros, quando justificam sua escolha vocacional, costumam resumir na expressão “qualidade de vida”. Sabemos também que será preciso investir tempo aprendendo tópicos tão enfadonhos como as competências materiais municipais, as hipóteses de intervenção e as prerrogativas do presidente da república, dentre inúmeras outras habilidades. Você talvez opte por matricular-se em um cursinho de duração contínua, que em tese o prepara para qualquer concurso bom que aparecer, em um mercado que movimenta cerca de 30 bilhões no país.
Sabemos tudo isso, mas, o que nenhum cursinho irá lhe ensinar (e o que um ocupante de um cargo pode passar a vida toda sem nunca refletir sobre) é o que acontece depois da posse – em outras palavras, o que realmente significa tornar-se um agente estatal. Pois bem, este texto é para suprir essa grave falta do seu plano de estudos. Note que não se pretende aqui abordar juízos normativos sobre como deveria ser (ou se deveria existir) a organização do aparelho estatal. Vamos falar sobre o que é; de resto, como diria o capitão, o poder é de vocês.

Você terá algum (ou muito) poder sobre os demais

A doutrina mais comum do direito administrativo costuma classificar os “agentes públicos” (novamente, os chamaremos de estatais) em “agentes políticos” e “servidores públicos”[1]. Os primeiros são os eleitos do executivo e legislativo, e também os membros do judiciário e do ministério público, a quem a constituição dá a feliz denominação “membros de poder”. Os segundos são os demais agentes, escolhidos por concurso público ou nomeados discricionariamente para serem os executores, longa manus do poder.
Não é uma definição ruim; é fato que há uma relevante diferença de grau de exercício do poder (entendido como coerção legitimada pelo ordenamento jurídico) entre um juiz e seu assessor. Mas existe um abismo ainda mais profundo entre um “agente estatal” e um “não-agente estatal” (os governados), o qual não é devido apenas a uma diferença de grau, mas de espécie.
Em muitas hipóteses um servidor poderá exercer poder: figuras arquetípicas são o carrasco e o cobrador de impostos, mas também o burocrata que concede ou nega uma licença, cria e implementa uma política pública mandatória ou aplica uma multa está em pleno exercício da coerção legitimada. Os membros de poder o exercem por todos os poros: quando legislam, julgam, intimam, ordenam. Mas note que em nenhuma hipótese o “não-agente estatal”, isso é, o administrado, poderá exercer poder sob legitimidade legal (alguém talvez argumente que a exceção seja a voz de prisão, garantida a qualquer cidadão, ou a legítima defesa e o poder parental, mas tais categorias, apesar de legitimadas, não podem ser claramente interpretadas como exercício da coerção).
Desse modo, quando você toma posse em um cargo estatal, sua situação jurídica imediatamente torna-se diferente daquela dos demais membros da sociedade. Você passa do grupo dos desempoderados para o grupo dos empoderados. Diferentemente dos demais, você poderá exercer algum poder; poderá coagir legalmente outras pessoas, em um maior ou menor grau, a depender do cargo. Em alguns casos você pode até ser coagido a coagir, ou estará descumprindo um dever funcional. E, como veremos em um tópico adiante, mesmo que não o faça pessoalmente e seu trabalho se limite a organizar arquivos, a remuneração pelo seu trabalho será invariavelmente fruto do exercício de poder, da coerção legalizada que é a tributação.
Coisas que todo concurseiro deveria saber

Suas escolhas poderão afetar milhões de pessoas

Chiovenda afirmava que a atividade jurisdicional do estado é substitutiva, isso é, que a vontade do juiz substitui a vontade das partes. Em outras palavras, que substitui a vontade privada por uma vontade estatal, o que decorre evidentemente do exercício do poder. Trata-se de um termo bastante adequado. É possível dizer que de certa forma toda atividade estatal é substitutiva: a legislação exprime os planos dos legisladores para substituir as ações destinatários das normas, assim como as políticas públicas exprimem os planos dos policy makers e gestores para substituir as alocações de mercado (costumo chamar tais atuações de meios jurisdicionais, regulatórios e fiscais, mas esse é um assunto para outro artigo). Como o estado não têm existência concreta como um ser único, sendo resultado das vontades de múltiplos agentes estatais, os reais emanadores das vontades substitutivas são os membros de poder e (em menor grau) os servidores.
É nessa situação que se encontra o sujeito que é nomeado promotor público e vai parar em alguma cidade do Acre, ou aquele que, recém saído da faculdade, assume um cargo de gestor de políticas públicas da área de segurança em Minas. Muitas de suas vontades, baseadas em suas ideias de mundo, poderão vir a substituir a vontade de milhares e milhares de pessoas. O promotor pode insistir em um termo de ajustamento de conduta que não conta com apoio dos locais; o gestor pode alocar recursos em um programa que jamais seria financiado voluntariamente por alguém.
Nem sempre um agente estatal tem essa percepção. Alguns de fato não demonstram muito pudor em escolher para a sociedade, imbuídos que estão da noção, como citou Faoro, que o governo é a missão para a qual nasceram. Outros realmente não se dão conta de que suas decisões tem um alcance tão amplo. Pensam apenas que estão cumprindo ordens corriqueiras e banais.

Você não adquire conhecimento perfeito com a posse

Coisas que todo concurseiro deveria saber
Suponhamos que você tenha passado em um concurso e finalmente tomou posse em um cargo de analista governamental na sua cidade. Sendo você um sujeito bem intencionado, provavelmente quermudar o mundo para melhor, fazer as coisas certas e defender o interesse público acima de tudo, certo? Mas, como? O que é o interesse público mesmo? É a soma do interesse das pessoas? Quais? É tomar qual posicionamento? É gastar mais em esporte ou cultura? É apoiar qual política? Optar por qual corrente? Atender quais demandas? Defender quais interesses? O agente estatal perspicaz e bem intencionado que possui (ou cria) certo grau de autonomia descobre logo que o mundo do governo é cheio de escolhas trágicas para as quais ele não tem respostas muito certas. Aliás, a vida de todos é cheia de escolhas trágicas. A diferença para o agente estatal, como vimos, é que cada uma de suas escolhas é coletivizada (novamente o exercício do poder), tanto nos inputs (custos) quanto nosoutputs (resultados). Não vale só para a vida dele, vale para toda a sociedade. Você escolherá para milhões de outros, usando os recursos de milhões de outros.
O grande problema é que, no momento da investidura no cargo, nenhum sopro de inteligência sobre-humana é transferido a um agente estatal e assim ele nunca poderá ter certeza sobre a propriedade das suas decisões, ainda que esteja convencido disso. É verdade que você se esforçou e estudou muito, incontáveis horas, para conseguir o tal cargo. Talvez você seja um super tecnocrata, formado na melhor escola de governo do país. Mas, perdoe-me a franqueza, nenhuma onisciência foi adquirida quando seu nome finalmente sai publicado na lista do diário oficial. A posse não tem o condão de dar ao agente estatal mais conhecimento sobre os valores e as preferências do outros membros da sociedade, nem sobre o desenrolar dos acontecimentos futuros, nem grandes certezas sobre o desdobramento do seus próprios atos nem dos atos dos outros agentes estatais. O agente estatal é sujeito aos mesmíssimos problema do (des) conhecimento, da incertezae dasconsequências inintencionais que são condições gerais da ação humana. Ou seja, você não tem conhecimento perfeito; suas decisões podem ser completamente errôneas e levar a resultados sociais desastrosos. E o pior, você pode nem se dar conta disso. Afinal, o único poder especial realmente adquirido com a posse é o Poder.

Você se torna um recebedor líquido de tributos

Se os rendimentos de um agente estatal vêm exclusiva ou majoritariamente de seu cargo, esse agente é um recebedor líquido de tributos. Em outras palavras, apesar de juridicamente não serem isentos, de fato, economicamente, um agente estatal não paga, mas sim recebe tributos pagos por outros. Esta é uma outra importante diferença entre você e os outros membros da sociedade, uma divisão de classes fiscal, como apontou Calhoun. Você poderá protestar que no contracheque virá descontado um valor, que no início do ano você deverá declarar à receita federal e que às vezes você é até mesmo restituído por pagar a maior; de fato, a escolha governamental foi a de manter a situação jurídica de contribuinte a seus agentes, em igualdade formal com os administrados mas a situação fática, real, é o recebimento líquido.
Faoro fez uma descrição forte da divisão de classes fiscal. Dizia, “o estamento de feição burocrática se alimenta de uma classe, a classe comercial, que ele despreza e avilta. Entre os dois grupos, as relações se estruturam no plano existencial, econômico, sem levarem a um estilo de vida comum; aristocrático é só o estamento, só ele está junto da corte, só ele influencia as decisões da Coroa. O comércio enriquece; o estamento consome senhorialmente, pouco preocupado com a sorte da galinha dos ovos de ouro.”
Existem, porém, implicações diretas em não se preocupar com a galinha dos ovos de ouro e pretender atingir remunerações cada vez mais altas por meio do seu cargo estatal. Como a atividade governamental é financiada com recursos extraídos da sociedade produtiva, quanto mais é destinado para o pagamento dos agentes e para manutenção da máquina, menos fica disponível para os membros produtivos da sociedade aplicar e assim cada vez menos ovos tenderão a ser produzidos. O resultado é menos tributo disponível para seus recebedores. Afinal, os agentes estatais tem alguns poderes, mas não o de produzir riquezas, dependendo do desempenho do setor econômico para serem financiados.

As outras carreiras serão suas concorrentes

Se por um lado temos a disputa fiscal entre estado e sociedade, por outro, no estado, entre os próprios agentes estatais existe uma competição pelos recursos arrecadados, seja para o financiamento daspolicies de sua competência, seja para sua remuneração. Os agentes estatais dos diferentes entes, poderes, órgãos e carreiras organizam-se para a distribuição do orçamento que os financiam, o que se dá de forma mais harmônica nas fases de aceleração da arrecadação e mais conflituosa nas fases de desaceleração. Embora os ganhos de arrecadação tenham sido enormes nas últimas décadas, há sempre um limite na disputa de recursos com a sociedade, como mencionado no tópico anterior, o que desloca a tensão do eixo agentes-tributados para o eixo agentes-agentes.
Algumas áreas acabam se preponderando a outras e conseguem obter parcelas fixas de financiamento garantidas legal ou constitucionalmente, como no caso da saúde e da educação. Carreiras irmãs estão sempre em disputa. Um defensor público cedo descobrirá que o promotor é um importante rival, assim como o policial civil acompanhará com afinco cada avanço das carreiras militares; servidores de políticas públicas distintas também concorrem: professores estaduais se sentirão desvalorizados quando a polícia militar recebe um reajuste maior que o seu. Assim, a disputa orçamentária segue entre os diversos entes, poderes e órgãos, em uma dinâmica bastante desconhecida pelo público.
A tendência geral para os agentes é portanto a de buscar expandir seus próprios poderes, quadros e a porção orçamentária, o que Niskanen explicou em seu budget-maximizing model. Cada órgão tenta aumentar suas competências e prerrogativas e ser destinatário de uma maior fatia de recursos, o que garante prestígio e salários mais elevados para seus componentes. Não é uma estratégia fácil — é preciso obter o convencimento de agentes políticos, engendrar reformas legais e até constitucionais – e nem sempre é vencedora. Concurseiros que conhecem profundamente as diversas carreiras estatais costumam prestar diferentes certames e permanecer naquelas mais prováveis de maximizar seu orçamento a longo prazo, em geral carreiras dos entes federais e as que possuem competências do tipochecks and balances, prerrogativas importantes para a disputa intrapoder.
Coisas que todo concurseiro deveria saber
1] Também temos na divisão os “particulares em colaboração”, em geral prestador de alguma atividade estatopolizada, como os cartórios. Muitas das observações que faremos aqui servem para eles, mas vamos nos ater aos membros de poder e servidores. Os celetistas já são um caso à parte, visto que o regime jurídico para a empresa estatal devem, em geral, ser o mesmo do público, não gozando sempre, um celetista, das mesmas prerrogativas dos demais agentes estatais.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Homem mais feliz do mundo recomenda o amor como investimento mais seguro

Matthieu Ricard, o monge budista declarado como o homem mais feliz do planeta após um estudo neuronal da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, lembrou no Chile que o amor "é o único que sempre é multiplicado a cada vez que é investido".

Ricard, que era biólogo molecular, disse que se transformar em monge foi mais fácil do que mudar o jaleco do laboratório pela túnica do mosteiro nepalês Shechen Tennyi Dargyeling. O complicado foi mudar seu estilo de vida.

"O fato de ser um monge não importa realmente. Essa não foi a decisão real da minha vida, não. A verdadeira decisão foi mudar minha vida de Paris, onde era aprendiz de cientista, para viver no Himalaia, e essa decisão foi tomada depois que conheci grandes professores", comentou o francês em Santiago.

Filho de um filósofo e uma pintora, desde criança ele foi cercado por intelectuais, pensadores e artistas que circulavam com taças de vinho em sua casa em Paris.

"Notei que não conseguia encontrar uma relação entre ter um talento especial e ser uma boa pessoa. Há grandes seres humanos, e seres humanos mais difíceis, mas não há relação com o que fazem. Ser um artista excepcional não quer dizer que seja um ser humano excepcional", assinalou o francês que é autor de livros.

Ao conhecer os grandes professores do budismo, ele se deu conta que para pregar a felicidade "não se pode ser somente o mensageiro, é preciso ser também a mensagem".

Ricard então trocou o microscópio e as provetas pela meditação e o estudo, o que o transformou no único europeu que domina o tibetano clássico. E afirma que, apesar das condições externas, "a felicidade está na mente de cada um".

"Certamente as condições importam: necessitamos de remédios, festa, educação e liberdade para florescer, mas não podemos negar nossas necessidades internas", explicou ele que aos 30 anos optou pelo celibato.

A chave para esse budista está em equilibrar os gastos: "É preciso construir recursos internos. Os gastos sempre caem nos nossos pés e nós temos de ter a certeza que quando cheguem as adversidades saberemos contorná-las com nossa força interna. Sua mente pode ser sua melhor amiga ou sua pior inimiga".

Toda a renda conseguida com a venda de seus livros foi entregue à caridade: "A compaixão e a empatia funcionam de modos diferentes. É preciso mudar a empatia pelo amor puro e, nesse momento, qualquer átomo do seu corpo que possa estar sofrendo se transforma em um átomo de amor e seu estado mental será completamente diferente".

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Corrupção, um dilema político ou humano?

Quem "rouba" uma caneta, "rouba" um país, pois ser honesto não tem tamanho.


Nosso Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou neste mês de abril/14 aumento no número de brasileiros filiados a partidos políticos. Segundo registros da Corte, de outubro/13 para ca 64.455 novas filiações foram processadas, praticamente 10 mil novos filiados por mês.
Temos hoje 15.329.320 cidadãos filiados às 32 siglas partidárias ativas, correspondendo a 7,6% da população. Será que isso é muito, ou pouco, num país de 200 milhões de habitantes?
No Brasil, a única forma de participar da política é através da filiação partidária. No nosso atual formato, candidaturas independentes, os “sem partido”, não têm espaço. Por quê? Simples, o partido é a manifestação ideológica de um grupo de militantes, que através do processo eleitoral e do alcance do poder político, levarão propostas de melhoria social para votação (legislativo) e aplicação (executivo).
A Lei dos Partidos Político, Lei 9.096/95, em seu artigo primeiro, torna isso bem claro:
“Art.  O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.”
Apesar disso, é comum ouvirmos: “Não gosto de política”, “Políticos são corruptos”, etc.
À primeira questão, é preciso refletir o seguinte: a política, muito debatida e amplamente criticada, é o único meio de criação e implantação de projetos que realmente venham a mudar a vida das pessoas. Escolas, postes de luz, pontes, ruas, atendimento sanitário, saúde pública, e tantas outras questões, dependem do gestor público e do legislador para serem colocadas em prática. Não bastasse isso, não gostar de política é uma grande inverdade. Todo ser humano faz política desde que nasce, assim que chora pela primeira vez, manifestando suas necessidades e negociando formas de atendê-la. A criança ou o jovem que se torna representante de classe, defende o interesse de um grupo (os alunos) perante algo maior (escola), e isso é manifestação política. O morador que se torna presidente de bairro, ou síndico de condomínio, e luta por redução de custos, organização da vida coletiva, também defende seu grupo (moradores). A dona de casa que sai às compras e negocia descontos em nome da economia familiar, também defende interesses de um grupo (a família). A política, por assim dizer, está na natureza humana.
Quanto à segunda questão, corrupção, na verdade, o problema não está na política, e sim, no ser humano. Não podemos colocar a política como vilã quando ela é apenas consequência, e não causa. A causa somos nós, homens e mulheres. Somos nós que precisamos melhorar nossos valores, nossas atitudes, para, assim, melhorarmos a política. Tem um ditado que diz: "quem pode o mais, pode o menos". Então, quem "rouba" uma caneta, "rouba" um país, pois ser honesto não tem tamanho.

Banana para o racismo

A inesperada reação do jogador Daniel Alves diante de mais uma inescrupulosa ofensa racista no mundo futebolístico surpreendeu e repercutiu no mundo todo. Todo racismo constitui uma imbecilidade porque, desde logo, traz consigo um deplorável fundamentalismo, ancorado na suposição de uma superioridade individual sobre o seu semelhante. Nosso genial Lima Barreto (1881-1922), filho de escravos, escreveu: “A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos, a posteriori” (Contos Completos, Companhia das Letras, 2010, p. 602).
Só existe racismo porque algumas condutas irracionais contam com solidariedade grupal. Nada que um bom ensino de ética não possa mudar. Educação (disse o próprio Daniel Alves). O racismo nada mais é que uma manifestação de um preconceito, que é uma valoração desfavorável frente a alguma pessoa, que se caracteriza pela emocionalidade baseada em crenças, julgamentos ou generalizações sobre indivíduos ou grupos (veja Luís Mir, Guerra civil). Do preconceito se passa para a discriminação (ato que exterioriza um preconceito) e essa discriminação muitas vezes possui motivo racista.
O racista é um alienado porque ostensivamente discrimina outra pessoa, julgando-a gratuitamente uma inimiga, não por razões racionais, sim, em virtude de uma dinâmica social incivilizada. O racismo, tanto quanto o bullying, desapareceria da face da terra, se não tivesse o apoio social de setores da sociedade. O mais deplorável nele é o fato de o racista desumanizar a sua vítima, ou seja, julgá-la desumana ou sub-humana. Quando alguém é desumanizado por um indivíduo ou um grupo, a aberrante ofensa se torna absurdamente palatável no meio em que ele vive, ficando muitas vezes imune às repreensões morais, porque (consoante as convicções racistas) não se sancionam os ataques contra os inválidos, os inferiores, contra os desprezados, os discriminados.
Enquanto uma parcela das sociedades continuar aceitando a animalização ou desumanização dos semelhantes, não vamos nunca sair do grande meio-dia de Nietzsche, ou seja, não vamos nunca evoluir e aceitar que todas as populações saíram da África (e que a pelé branca não tem mais do que 10 ou 15 mil anos, que não são nada nesse transcurso do processo evolutivo darwiniano, que já conta com mais de 7 milhões de anos). Os discriminadores e xenófobos são, assim, bípedes ignorantes e incultos, que perambulam pela terra sem nenhuma noção do que é a ciência e a história. Sua estupidez somente não é maior que sua ignorância e sua irresponsabilidade intelectual e social. Uma banana, portanto, para o racismo e para os racistas!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sou servidor(a) público(a) e gostaria de garantir uma segunda aposentadoria pelo INSS, é possível?

Aposentar-se como servidor público e também pelo INSS é possível, mas há exceções.


Sim, é possível. Um servidor público amparado por RPPS* também exerce outra atividade, pode ser também filiado ao RGPS* (deverá contribuir nos dois e gozará dos benefícios de ambos – ex.: duas aposentadorias). É o que diz o RPS (Regulamento da Previdência Social - Decreto 3.048/99):
Decreto 3.048/99, art. 10. O servidor civil ocupante de cargo efetivo ou o militar da União, Estado, Distrito Federal ou Município, bem como o das respectivas autarquias e fundações, são excluídos do Regime Geral de Previdência Social consubstanciado neste Regulamento, desde que amparados por regime próprio de previdência social.
(...)
§ 2º Caso o servidor ou o militar venham a exercer, concomitantemente, uma ou mais atividades abrangidas pelo Regime Geral de Previdência Social, tornar-se-ão segurados obrigatórios em relação a essas atividades.
(...)
Entretanto, segurados de RPPS não podem contribuir como segurado facultativo. Veja:
Decreto 3.048/99, art. 11. É segurado facultativo o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da previdência social.
(...)
§ 2º É vedada a filiação ao Regime Geral de Previdência Social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência social, salvo na hipótese de afastamento sem vencimento e desde que não permitida, nesta condição, contribuição ao respectivo regime próprio.
Ou seja, é necessário que o servidor público exerça uma atividade REMUNERADA para poder contribuir também com o INSS (por exemplo: um juiz que também dá aulas em uma faculdade particular).
*RPPS significa Regime Próprio de Previdência Social, que é o regime previdenciário dos servidores públicos. Existem vários regimes próprios, como o regime próprio de previdência social dos servidores públicos da União, o Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo, o Regime Próprio de Previdência dos Militares do Estado de São Paulo (estes dois últimos administrados pelo SPPREV), dentre muitos outros.
*RGPS significa Regime Geral de Previdência Social, que é o regime comum, administrado pelo INSS.
Aviso importante
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Este artigo foi postado originalmente no meu blog e, posteriormente, no meu perfil do site JusBrasil e pode ser acessado a partir dos seguintes links:
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