Mentes que visitam

sexta-feira, 23 de março de 2012

Tempo de agradecer a Jayme Monjardim

Publicado 22/03/2012

   O conselho é antigo, poucos o seguem. Diz: é preciso saber fazer e... fazer saber. Pois eu conheço alguém que segue à risca esta receita: Jayme Monjardim, que brilha intensamente fazendo para, depois, com naturalidade, colher os resultados de sua alta criatividade, fazendo saber. Eduardo Macluf e Fábio Castro Neves, obstinados em defesa de O tempo e o vento na cidade, merecem, a esta altura, o reconhecimento da comunidade. Jayme está de volta, o mesmo Jayme que soube consagrar nacionalmente a Princesa do Sul com A casa das sete mulheres. Agindo em nome de seu brilho profissional, de seu amor pelo Rio Grande, e de seu profundo respeito pela nossa história.
Como se A casa... não tivesse bastado, ei-lo de volta, generoso, carregando em sua bagagem toda a poesia de O tempo e o vento, para filmá-lo aqui, naquele que será um bom pedaço da história, entre Pelotas e Bagé, a nossa vizinha da fronteira, vizinha e Rainha, e também bicentenária. Jayme parece repetir aquele antigo sinal de afeto, expressado por Mozart Victor Russomano em seu retorno ao pago, quando disse: -“ Não me deixem o campo livre, não me deixem as rédeas soltas porque, no mesmo instante, eu estarei, a galope, retornando, e trilhando a estrada de ouro que conduz à Cidade de Pelotas! “

Em Russomano me inspiro, nesta oportunidade, por conta de uma eterna amizade, para dar a Jayme Monjardim, através destas palavras, o testemunho de quem agradece em nome de muitos, de pelotenses da gema, de pessoas simples do povo, das esquinas e dos campos, das escolas e das Universidades, da própria história da cidade, das tradições e dos galpões da nossa Colônia, dos salões e dos casebres, da pompa e da humildade, do fogão à lenha lá das coxilhas, lá da estrada de chão batido, e de muitos outros lugares, lá de longe, lá junto às sangas de águas paradas, lá onde se reflete o fogo branco das estrelas, e onde o cruzeiro do Sul, luzindo muito, e subindo sempre, executa a sua viagem sem fim.
Seja bem-vindo à região da Campanha, Jayme Monjardim! Inspire-se neste paraíso de silêncios e de sons naturais. E beba o seu mate, naquele amanhecer diferenciado, quando o véu da noite ainda cobre a terra, e quando ainda é possível observar os moirões dos aramados perfilados campo afora, batidos pelo luar, parecendo gente parada, quieta, escutando o silêncio grande da solidão.
Seja bem-vindo, Jayme Monjardim, nestes 200 anos de tanta história, feitos de charqueadas e de bravuras, de muita cultura e de traços neoclássicos, de tradições portuguesas e de braços negros que operaram o nosso desenvolvimento! Venha, pois esse, também, é tempo de reconhecimentos!

Venha para essa Pelotas das minisséries e dos filmes, pelo teu talento idealizados e executados, e através dos quais ela soube mostrar-se por inteiro aos olhos da nacionalidade.
Venha receber, por relevantes serviços e altos méritos, a Figueira de Bronze do Mérito Zona Sul, incluída no calendário oficial de eventos do Estado do Rio Grande do Sul; e o Treze de Bronze, oferecido pelo segundo debate de rádio mais antigo do Brasil, na Universidade Católica de Pelotas ( 34 anos); e para ser distinguido ainda com a Medalha 200 Anos, concedida pela Comissão dos 200 Anos de Pelotas, da Universidade Federal de Pelotas. Venha, Jayme, pois quando os prêmios se dão aos que os merecem, os mesmos que os murmuram com a boca, os aprovam com o coração. Este é o sentimento reinante em Pelotas em louvor a tua pessoa. Espontâneo e necessário, porque justiceiro. Aqui se compreende que, se numa cidade histórica houver um Monjardim, então nada faltará.

Fonte: Clayton Rocha

domingo, 18 de março de 2012

ESCOLA: UM DOS APARELHOS IDEOLÓGICOS DO ESTADO REPRESENTANDO A VERDADEIRA POBREZA POLÍTICA

Por ALACIR ARRUDA (*)

      A escola não fala a língua do povo. Ela consegue tagarelar aquilo que a minoria quer ver repetido e reforçado pela maioria esmagadora que compõe a população brasileira. Os currículos são constituídos de falas e falácias extremamente incompreensíveis para aquele (a)s que vêem nesta instituição a mola propulsora para vencer na vida (sic!). Tanto é, que não existe o interesse que deveria haver nas questões relativas à formação humana. No entendimento de um número expressivo de professores, “isto é balela e discurso daquele(a)s que não têm nada o que fazer na escola e ficam inventando modismos. O importante mesmo são os conteúdos escolares, os conhecimentos científicos que os alunos têm que dominar, para se dar bem na vida. O domínio cognitivo é o que continua valendo. Sem essa de avaliação sócio-afetiva ! ”. Esta concepção de aluno vem dominando o cenário educacional desde o período jesuítico, passando, no século XVII, mais explicitamente, a focar a educação da nobreza. Foi neste período histórico que surgiu o criador de uma concepção, que perdura até os dias de hoje: o filósofo francês René Descartes (1596-1650). “Cogito, ergo sum” passou a ser o foco das atenções e o carro-chefe de Descartes. Segundo este mote (penso, logo existo), o sujeito individual, formado numa competência para ponderar e refletir, passa a ser o ponto de convergência do domínio cognitivo, do conhecimento (Hall, 2006).      
      Século após século, até o atual, este é o paradigma do bom aluno. Este autor (Op. Cit.), em seus estudos sobre a identidade cultural na pós-modernidade` denuncia que “esta concepção do sujeito racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento, tem sido conhecida como o ´sujeito cartesiano`(p. 27). Nessa reflexão, a escola continua inserida num contexto caracterizado por Althusser (1998) como Aparelho Ideológico do Estado. É ela uma das maiores, senão a maior, construtora de marionetes, que vêem o estado como o grande pai ou que se integram aos elementos que aceitam as ações dos governos como verdadeiras paternalizações. As ´beneficências`, as ´doações`, todos os tipos de vales (gás, leite etc.). Para o alimento do espírito, o Pai Todo Poderoso, que nos nutre com as suas bênçãos. Para a matéria, o pai, também poderoso, que nos abastece com esses programinhas sem-vergonhas, que se transformam em verdadeiras rédeas eleitoreiras. Essas minúcias politiqueiras, vale a pena lembrar que Maquiavel ensinava o Príncipe a entreter o povo com muita festa e jogos, foi denominada por Foucault ( 1982) como Microfísica do Poder. Hoje, diante de tantas falcatruas que levam ao enriquecimento ilícito de uma minoria através das inúmeras imoralidades que fazem com a saúde pública, não se pode aceitar a implantação de um currículo escolar que reforce os anseios das classes dominantes desse país, prescindindo desses fatos que maculam o espírito do bom cidadão, do exemplar ser humano enquanto elementos de análise e discussão, como conteúdo escolar. Pedro Demo (2006), nesta linha de raciocínio, norteia que a pobreza política é bem mais profunda e arrasadora que a pobreza sócio-econômica, até porque esta é conseqüência daquela. Ao pobre não lhe é dado o direito (já que ele não tem forças para conquistar) de saber porque é pobre. Entendemos a partir dessa reflexão de Demo, que, antes do aluno, é necessário que o professor se enriqueça politicamente, para, então, incentivar aquele para a sua conquista nesse campo. Diante de tantas mazelas, de tão ignóbil ato de falsificação do leite e seus derivados, das bebidas alcoólicas (do whisky à cachaça), ficaria difícil para o homem do povo, se consciência política tivesse de que essas ações o prejudicam profundamente, querer afogar as suas mágoas com um porre homérico, não cabem falas e falácias da escola, que buscam dar continuidade à formação de sujeitos cartesianos num currículo não constituído de matrizes, mas, ainda e por muito tempo, de grades curriculares, aprisionando a criatividade do povo brasileiro e desrespeitando o seu cotidiano, a sua história.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. DEMO, Pedro. Pobreza Política - A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Autores Associados, Campinas, 2006. FOUCAULT. Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomás Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006

 (*) Doutor em Sociologia Politica pela UFRGS/UCLA -2002. Tem trabalhado os seguintes temas: Educação, America Latina, Leste Europeu, Asia e EUA. Possui artigos publicados em 11 universidades estrangeiras e foi pesquisador assistente do Dpt Of Sociology da UCLA-LA – 1995

sábado, 17 de março de 2012

Tô Velho !

 Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa. 
 Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo .. Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia? Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 70 &80, e se eu, ao mesmo tempo, desejo chorar por um amor perdido ... eu vou.
Vou andar na praia em um calção samba canção sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros.
Eles, também, vão envelhecer.
Eu sei que eu sou às vezes esquecido. Mas há algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto.
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais.
Eu ganhei o direito de estar errado.
Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velho. A velhice me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
Que nossa amizade nunca se acabe porque é direto do coração!

quarta-feira, 7 de março de 2012

FESTA DO SUBMUNDO

 Moisés Silveira de Menezes
 Música
  Luzes
  câmeras
 ação...muita ação
 muito pouca luz...
 festa no submundo!!!

 Ratazanas barbudas
 emergem dos esgotos
 festa no submundo!!!
 das sombras, dos porões
 do subsolo
 do sub-humano.

 Que se abram as masmorras
 que se calem as igrejas
 animai-vos tartufos, ladrões e gigolôs
  brindai safados, ladinos e mentirosos
 vosso rei os saúda!!!

 Ratazanas barbudas
 emergem das sombras
 e assombram
 o arquivelho casarão.