Mentes que visitam

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As mãos de meu pai – Quintana


As mãos de meu pai
As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas…
essa chama de vida – que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
Mario Quintana )

(Poema publicado originalmente no livro Esconderijos do Tempo, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 491)

Leia mais Quintana
Por Fabio Rocha, para A Magia da Poesia.

O Lula da Rosemary já estava no Lula que caçava viuvinhas no Sindicato dos Metalúrgicos São Bernardo.


Por Reinaldo Azevedo

Já escrevi aqui um post sobre os aspectos mesquinhos, “petequeiros”, jocosos e até grotescos que envolvem as relações de Rosemary Nóvoa Noronha, um cacho amoroso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a coisa pública.
Eles acabam desviando a nossa atenção do essencial.
À sua maneira, as tentações ancilares do ex-mandatário retiram óbvia gravidade de mais um escândalo. Atrevo-me a dizer que a lambança que ora vem à luz constitui, mais do que o próprio mensalãoum emblema do “jeito petista” de fazer política — ainda que possa não ter o mesmo alcance.
Por quê ? Porque, desta feita, além de todos os escrachos, encurta- se o caminho que separa o que deveria ser a alta política das urgências ou incontinências do baixo ventre.
Lula levou para o ambiente palaciano o que era, segundo ele próprio confessou em uma antológica entrevista, a sua rotina no mundo sindical.
Falando à revista Playboy em 1979, este gigante moral confessou como atuava quando trabalhava na área de seguridade social do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Ficava de olho nas viúvas.
Mal um companheiro batia as botas, ele se apresentava para o trabalho de consolação.Foi com essa disposição, ele próprio contou, que conheceu sua atual mulher, Marisa Letícia.
Um taxista lhe contara que o filho havia sido assassinado e que sua nora havia prometido jamais se casar.
E Lula, este ser, como direi ? Verdadeiramente aristotélico, orientado teleológicamente para o bem, pensou com aquela dignidade que lhe é imanente: “Qualquer dia ainda voou papar a nora desse velho”. 
Eu não estou fazendo caricatura, não ! A fala é dele mesmo ! 
A “nora” era Marisa. Ela deu certo. Miriam Cordeiro nem tanto. Deixemos que ele mesmo fale, com o seu estilo inconfundível:

“Nessa época, a Mariza apareceu no sindicato. Ela foi procurar um atestado de dependência econômica para internar o irmão. Eu tinha dito ao Luisinho, que trabalhava comigo no sindicato, que me avisasse sempre que aparecesse uma viúva bonitinha.
Quando a Marisa apareceu, ele foi me chamar”.

O que diz no mesmo Aristóteles Capítulo I do Livro I de “Política” ?
Isto: “A natureza de uma coisa é o seu estágio final, porquanto o que cada coisa é quando o seu crescimento se completa nós chamamos de natureza de cada coisa, quer falemos de um homem, de um cavalo ou de uma família”. 
Como se nota, na consideração do filósofo, Apedeuta se encaixa também na espécie. O Lula da Rosemary já estava no Lula das viúvas dos companheiros metalúrgicos.
O Lula do Palácio já estava no Lula do sindicato como a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos…
Aristóteles, Machado de Assis… Eu faço um esforço danado para fazer Lula parecer mais interessante do que é …
As folias de alcova são uma espécie de ilustração e de emblema dos que se esbaldam no poder.
Suetônio ( mais um esforço! ), com os “Os Doze Césares”, nos legou certamente uma leitura distorcida dos interiores do Império Romano, com os imperadores meio afrescalhados dos filmes de Hollywood.
Mas ilustrou como ninguém a corrupção de caráter a que pode conduzir o poder. Sempre que Lula faz tábula rasa do passado e se coloca como o ser inaugural da civilização, penso, por exemplo, em Calígula, que mandou tirar do Capítólio e destruir as estátuas de
homens ilustres que Otávio Augusto mandara lá instalar. Tentou banir de Roma os poemas de Homero (!!!), afirmando que o próprio Platão quisera expulsar os poetas da República. Mandou cassar das bibliotecas as obras de Virgílio e Tito Lívio; ao primeiro faltariam engenho e saber; o segundo seria loquaz demais e inexato.
As almas tiranas não se contentam em comprometer o futuro. Também querem reescrever o passado.
Nosso Calígula não papou só viuvinhas. Como escrevi em 2009, olhou um dia para Brizola e Arraes e pensou: “Ainda vou papar a base política deles”. No governo, olhou para FHC e pensou: “Ainda vou papar o Plano Real dele”.
Lula é assim: vai papando o que encontra pela frente: as viúvas, as biografias alheias, a história…
Na entrevista à Playboy, ele também aborda folguedos sexuais com animais — mas não me alongo a respeito.
Antes que continue, respondo a alguns tontos que resolveram invadir o blog para, claro !, atacar… FHC !
Então este também não tivera um caso amoroso fora do casamento?
Não acabou assumindo um filho, que depois se comprovou não ser seu ? Tudo verdade !
Só que há uma diferença essencial: o ex-presidente tucano não alojou uma amante, que depois passou a atuar em benefício de uma quadrilha, num cargo público. Ora, a imprensa brasileira jamais se ocupara antes das namoradas de Lula.
O nosso jornalismo é muito diferente do americano ou do inglês. Se os jornalistas contassem 10% do que sabem das festinhas de Brasília, a República cairia algumas vezes por ano. Mas se calam.
Há um pacto de silêncio que, às vezes, milita contra a verdade e contra o interesse público.
Jornais à moda dos tabloides ingleses fariam a farra por aqui. E não precisariam cometer nenhum dos crimes do News of the World.
Tendo a achar que fariam um bem aos brasileiros.
Na imprensa americana, casos amorosos de autoridades são notícia, esteja ou não o interesse público envolvido. Entende-se que aqueles que se apresentam para representar a sociedade — presidentes, congressistas, juízes — têm de comungar de alguns de seus valores médios.
Talvez fosse o caso de lembrar Aristóteles outra vez: a “cidade tem precedência sobre cada um de nós individualmente”.
Na sua vertente maligna, o princípio justifica ditaduras; na sua vertente benigna, faz as grandes democracias.
Se o sujeito quer ter o poder da representação, obriga-se a acatar certas noções de decoro — e, nesse caso, amantes nunca são uma
questão privada; são questões sempre públicas. Desconfio daqueles que acusam o “excesso de moralismo” do povo americano nessas questões.
Acho que se trata apenas de uma República que leva a sério seus fundamentos. Por aqui, um ministro do Supremo tem o topete de defender na corte que criminosos do colarinho branco não cumpram pena em regime fechado.
Em Banânia, mais lassos, mas relaxados, mais tolerantes, fazemos esta distinção: se a(o) amante nada tem a ver com a administração pública, então não há notícia. Notem que o caso Rosemary circulou por alguns bons dias sem que se desse o devido nome às coisas — ou às relações.
O que os petistas queriam desta vez ? 
Calígula resolve misturar os seus folguedos com as questões da República — sua amante está no centro de um escândalo —, e o país deve fazer de conta que se trata de “questão pessoal”? Tenham paciência.
O Babalorixá de Banânina já chamou de “questão privada” os milhões que a Telemar (hoje Oi) investiu na empresa de um seu filho — a gigante da telefonia tem entre seus sócios o BNDES e foi beneficiada por decisão pessoal do então presidente. Tudo questão privada !!!
Chega, né, Fanfarrão Minésio ? A coisa já foi além da conta ! Perguntem, por exemplo, se a televisão americana noticiou ou não o
caso entre Bill Clinton e aquela estagiária. Ora… E ele estava no exercício da Presidência. Não tentem me provar que somos mais sábios por aqui.
Acho que não ! Tanto não somos que mal um escândalo chega a termo na Justiça, outro já surge.
                                                      
Caso grave
A coisa é grave, sim, por qualquer ângulo que se queira. Rosemary até podia não reivindicar para si somas fabulosas  — uma Pajero em que ela circula pertence ao esquema criminoso —, mas aqueles em favor dos quais atuava mexiam com interesses bilionários.
Tanto ela como Paulo Vieira, apontado como o chefe da quadrilha, estavam em seus respectivos postos por vontade de Lula — aquele que nunca sabe de nada.  Nunca antes neste país tantas pessoas traíram tanto um só homem, não é mesmo ?
Não dá ! A VEJA desta semana traz uma foto da decoração que Rosemary escolheu para o escritório da Presidência em São Paulo.
Há um painel gigantesco de Lula brincando com uma bola. As almofadas dos sofás trazem impressas a imagem de… Lula !
É a perfeita ilustração da captura do bem público por interesses privados.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

NUNCA SE VIU UM CONJUNTO DE CRIMES TÃO GRAVES





ZERO HORA dezembro de 2012 | N° 17271

ENTREVISTA - CARLOS AYRES BRITTO, Ministro aposentado do STF

Por CAROLINA BAHIA e KLÉCIO SANTOS



Em tudo que faço já não faço questão de ser reconhecido. O que eu faço questão é 
de me reconhecer. 
Poemeto inédito do livro que Ayres Britto lançará, chamado DNAlma

Carlos Augusto Ayres Britto de Freitas, 70 anos, ainda está longe de se aposentar. 
Na primeira insinuação de que a vida estaria mais tranquila afastado dos conflitos do 
Supremo Tribunal Federal, responde com a voz serena, mas marcada pelo sotaque 
sergipano:

– Continuo no batidão de sempre.

Uma semana depois de deixar a presidência da mais alta Corte do país, o magistrado 
vem atendendo a numerosos compromissos para conferências e homenagens. Nada, 
porém, denota qualquer estresse no tom cordial de Ayres. Parece se divertir depois 
de três meses de grande tensão à frente do rumoroso julgamento do mensalão. 
O local da entrevista foi uma escolha do ex-ministro, o Ernesto Cafés, um ambiente 
aconchegante que ele costuma frequentar aos domingos.

– Boa tarde, Aninha. Tudo bem com você? Um café com leite – pede o ministro à 
garçonete, que vez por outra ainda serve tapioca doce para o ilustre frequentador.

Entre máquinas de torrefação e cafés aromáticos, Ayres começa a filosofar na tarde 
nublada da última quarta-feira em Brasília, distante do Supremo, que naquele dia 
decidia as penas do delator Roberto Jefferson e do deputado João Paulo Cunha. 
Ao longo de quase duas horas de entrevista, cria neologismos como insimilar e cita 
desde gurus indianos como Jiddu Krishnamurti e Osho (Rajneesh) até o dramaturgo
inglês William Shakespeare, fala de pequenos prazeres como tocar violão e dos 
preparativos para o lançamento de seu sétimo livro de poesia, DNAlma, projeto que 
havia abandonado por não achar conveniente lançá-lo em meio ao julgamento do 
mensalão por conta de liberdades que concede enquanto escreve.

– Escrevo como quem respira, e a publicação naquele momento me traria problemas
– reconhece.

Afinal, o livro contém poemas curtos, tipo haicai, com pérolas como: 
“O que certos políticos sabem cerzir, são as meias verdades”.

Ayres Britto estreia como articulista de ZH

Ayres faz questão de frisar que um dos prefaciadores é o poeta gaúcho Carlos Nejar 
e que irá dedicar a obra a vários escritores, entre eles Fabrício Carpinejar, a quem 
lamenta não conhecer, mas admira a ponto de citar oxímoros de cor. 
Durante a conversa, Ayres carrega o entusiasmo do menino que um dia sonhou em 
ser jogador de futebol. Ele mesmo confessa que era um craque, fazia 400 
embaixadinhas e dominava a bola com os dois pés. Mas o pai, um poeta e juiz 
observador, preconizou:

– O seu negócio é filosofia, meu filho. Você é um homem das letras!

No próximo domingo, Ayres Britto estreia como articulista mensal de Zero Hora, 
e os leitores poderão desfrutar dessa vocação. A seguir, os principais trechos 
da entrevista a ZH:

Zero Hora – O senhor comentou durante o julgamento do mensalão que condenar 
alguém deixa na boca um gosto de jiló. Esse gosto já passou?

Ayres Britto – Sim. Um juiz criminal tem de julgar com o máximo de cuidado para não 
se sentir culpado ao culpar. No começo, ou até a metade do julgamento, o meu sono
estava mais fatiado do que a metodologia usada por Joaquim Barbosa para o 
julgamento. 
E creio que isso acontecia com os demais ministros. Por isso falei sobre gosto de jiló, 
mandioca brava e berinjela crua. Você fica se questionando o tempo todo. Quando o
caso é de condenação, tem de condenar. Você condena contristadoramente, 
amargamente, principalmente se a condenação for para aplicar a pena privativa de
liberdade.

ZH – Como o senhor vê os comentários de que há exagero nas penas do julgamento
do mensalão?

Ayres – Primeiro, o Supremo fixou uma pena a partir do voto do relator(Joaquim 
Barbosa), que, na maioria das vezes, preponderou sobre o voto do revisor (Ricardo
Lewandowski). Se convencionou para um segundo momento alguns ajustes, para 
que o princípio da proporcionalidade seja observado ao máximo. Alguns ajustes ainda 
virão, sobretudo por efeito da distinção entre crime continuado e concurso material de
crimes. Isso tudo ficou ajustado, é possível, portanto, que mais adiante haja uma 
pequena redução nas penas.

ZH – Como o senhor vê as manifestações de condenados com relação ao Supremo? 
É um amadurecimento da democracia ou uma afronta à Corte?

Ayres – Vejo a irresignação dos réus como uma reação natural de quem vê o
processo pelo prisma do personalíssimo, que diz respeito aos interesses deles.
Essa irresignação fica no princípio da liberdade de pensamento e expressão. 
Nada a censurar. Agora, a minha convicção é de que o Supremo foi serviente 
do direito positivo brasileiro ao emitir os dois juízos centrais: o primeiro de 
condenação e o segundo de apenação, fazendo 
com transparência, responsabilidade, cuidado técnico e isenção.

ZH – É difícil não ceder à pressão da opinião pública num julgamento como o 
do mensalão?

Ayres – Tenho para mim que o Supremo fez mais à opinião pública do que foi 
influenciado por ela. Não vamos inverter as coisas. À medida que o processo
ia transcorrendo e os debates entre os ministros do Supremo se travando, a 
opinião pública foi se formando. Mas não é só: um ministro do Supremo é 
vacinado contra qualquer tipo de pressão.

ZH – O julgamento surpreendeu em parte o cidadão, que não esperava ver 
grandes políticos condenados. Fica um novo padrão para nossa política?

Ayres – Sou de formação holista, tendo a ver as coisas por um prisma esférico. 
Quando você vê a realidade, inclusive jurídica, esfericamente, você a vê por 
todos os ângulos. O que tem sucedido no Supremo na última década? É só 
você pensar: combate ao nepotismo, células-troncos, Lei Maria da Penha, 
liberdade de imprensa, homoafetividade, Lei da Ficha Limpa, fidelidade
partidária, Marcha da Maconha. 
O Supremo vem com histórico de decisões que influenciam o modo de agir e 
pensar dos brasileiros, está mudando a cultura brasileira para mais próxima 
da democracia, do não preconceito e do civismo.

ZH – A tensão entre relator e revisor existia nos bastidores?

Ayres – Em algumas poucas oportunidades, sim. Houve tensão nos bastidores. 
Mas a minha opinião final sobre os ministros é favorável. Acho que, no limite, um
 ministro do Supremo é plenamente consciente de que o senso de institucionalidade
deve preponderar sobre o senso de vaidade, egocentrismo ou coisa que o valha.

ZH – São as vaidades que fazem com que os ministros briguem entre si?

Ayres – Não diria as vaidades, diria o pluralismo, a diversidade, que é própria da 
vida e do ser humano. Há um contraditório argumentativo entre os juízes de um 
mesmo colegiado. E, mais do que saudável, é necessário para legitimar a decisão. 
Como presidente, busquei criar o maior clima possível de liberdade para que as 
discussões aflorassem.

ZH – As transmissões do julgamento pela TV proporcionam um espetáculo?

Ayres – Sou favorável à visibilidade de Executivo, Legislativo e Judiciário. 
A exposição em excesso só influencia julgadores imaturos. Os julgadores 
amadurecidos nas lides forense e judiciária tiram de letra. Eu mesmo nem 
percebo que estou sendo filmado, você se habitua.

ZH – Mas, depois do mensalão, o Supremo pode recuar sobre a transmissão das
 sessões na TV?

Ayres – Acho que não. Vamos ter vantagens e desvantagens. Desvantagens: 
o ministro se sente, digamos, protagonista social mais do que judicial. 
Ele se sente alvo das atenções de todo o país, com o risco de propender ou 
resvalar para o estrelismo, o vedetismo, o marketing pessoal, a chance de sentir
 um pop star, reconhecido nas ruas, com foto nos jornais, imagem no noticiário. 
É o que de pior pode acontecer você se sentir uma estrela. Isso acontece se você 
for imaturo. E ali não tem ninguém imaturo. Dá para administrar a exposição sem s
e deixar afetar por ela.

ZH – E as vantagens?

Ayres – Você requinta o voto. Ninguém quer passar recibo de decadente, de leviano,
de comparativamente fraco no contexto dos outros ministros. Ali todo mundo tem que
transformar os pré-requisitos de investiduras em requisitos de desempenho.
A tendência de um ministro do Supremo é dizer “eu tenho uma obrigação”. 
E, para isso, tenho que ser preparado tecnicamente o tempo todo e castamente ético.

ZH – O senhor falava que a forma de honrar a indicação para ministro do STF é ser 
independente.

Ayres – O melhor modo de honrar o nomeante é você ser independente, honesto, 
corajoso. Do ângulo do juiz, essa cobertura da imprensa obriga você a se comportar 
em público sem pagar mico. Isso é excelente, você toma cuidados para que suas 
virtudes aflorem e seus defeitos fiquem submersos. Agora, do ângulo do cidadão,
ele começa a internalizar a ideia jurídica de que é direito dele saber como julgam 
os magistrados. 
É um direito do cidadão ver a decisão sendo formada passo a passo, momento a 
momento. E o cidadão vai se habituando a cobrar coerência do julgador. 
A maior de todas as coragens para o Judiciário é a coragem de assumir 
a sua independência.

ZH – Como o senhor vê essas críticas de que o José Dirceu foi condenado sem provas
e de que a Corte teria usado apenas indícios?

Ayres – É um direito de todo o réu persistir na sua defesa. A Constituição assegura ao
réu a intransigente defesa própria ou a não autoincriminação. Isso incorpora o direito
de se insubmeter às decisões no plano argumentativo. Agora, quando dizem que o 
Supremo inovou ou produziu julgamento heterodoxo, eu digo que não, absolutamente 
não. Heterodoxa é a causa.

ZH – Por quê?

Ayres – Nunca se viu no ponto de largada de uma ação penal 40 réus pertencentes às 
mais altas esferas da sociedades: governamental, política, empresarial, bancária. 
Nunca se viu um conjunto de crimes tão graves, tão numerosos e entrelaçados. 
Corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão 
fraudulenta, você nunca viu isso. Então, insimilar é o caso com quase 60 mil páginas, 
600 testemunhas. E o Supremo teria de tomar uma decisão afeiçoada a heterodoxia do 
caso, e o fez tecnicamente, com toda isenção e transparência.

ZH – O senhor foi filiado ao PT nos seus áureos tempos. Na sua opinião, o que fez com
que o partido perdesse o que ele mais pregava?

Ayres – Faço uma distinção. Não é o PT que está sendo julgado, porque os réus são 
dirigentes altivos do PT. E o PT, mais até do que qualquer outro partido, pratica um 
pluralismo de tendências que me obriga a fazer essa distinção. No PT, há quadros, 
personalidades que tenho como dignas de toda admiração, de todo respeito, a partir 
do governador do Rio Grande do Sul, o Tarso Genro. Agora, se você quiser uma 
opinião um pouco mais sociológica, diria que aconteceu com o PT o que aconteceu 
com o PSDB. Esses dois partidos encarnavam o espírito de resistência e chegaram ao
poder máximo. PSDB com Fernando Henrique, PT com Lula. Observou-se no governo 
do PSDB um certo recuo ideológico. O ímpeto transformador dos nossos costumes 
políticos foi sensivelmente reduzido. E o mesmo aconteceu com o PT. Do ponto de vista
social, o Brasil melhorou, tanto no governo do PSDB quanto no do PT. Mas a qualidade
da vida política do país, não. Os dois falharam nisso.

ZH – Há um movimento na internet que defende Joaquim Barbosa para presidente da 
República. Qual a sua opinião?

Ayres – Faz parte da excitação cívica incomum em nosso país ao perceber que um 
princípio fundamental de estruturação das sociedades civilizadas está sendo aplicado
pelo Supremo. O princípio de que a lei é igual para todos, de que ninguém está acima
da lei. Como o ministro Joaquim ganhou mais projeção pelo fato de ser o relator, ele
passa a ser visto como salvador da pátria. Mas é apenas uma euforia que logo refluirá,
 porque o ministro não tem a menor pretensão de ser presidente.

ZH – O senhor é a favor de que os ministros do Supremo tenham mandatos, como 
os políticos?

Ayres – Sim. Chega um tempo em que o cargo tem o direito de nos ver pelas costas.
 Acho que entre oito e 12 anos está de bom tamanho para o exercício do cargo.

ZH – O desfecho do mensalão ajuda a mudar o jeito de fazer política?

Ayres – Sinaliza mais do que uma mudança, uma transformação, na linha do que 
disse Shakespeare: 
"transformação é uma porta que se abre por dentro. Transformar é mais do que mudar,
porque significa você se ver ejetado para o plano da consciência, o mais alto do ser. 
Transformação significa atuar na cultura de um povo. Quando você atua na cultura, 
você deflagra comportamentos de massa muito mais conscientes e sem possibilidade
de retorno precedente. Sinaliza uma transformação nos nossos costumes políticos para
melhor. O que o Supremo está dizendo é o seguinte: há um modo de fazer política, 
há um modo de fazer coalizão e alianças políticas que o Direito brasileiro execra, 
excomunga, não aceita.

ZERO HORA, Flávio Tavares - O Supremo Tribunal errou – e errou feio – ao considerar o
“mensalão” um crime “sem paralelo”, que “maculou a dignidade da República”. Nada disto! 
O julgamento nem se iniciara quando algo mais insidioso e nauseabundo crescia nos 
labirintos do poder, a partir do gabinete da Presidência da República (em São Paulo) em 
conluio com a Advocacia-Geral da União.
Este órgão representa em juízo a União e, assim, deve resguardar e proteger o interesse
público, o que seja do povo, pois a nação é quem nela vive. Tem estrutura de ministério e 
subordinação direta à presidente da República. Um organizado esquema de corrupção, 
porém, transformou a AGU (ou parte dela) num covil de legalização de multimilionárias 
falcatruas em duas estratégicas agências reguladoras (Aviação Civil e de Águas) e que 
chegam ao Banco do Brasil, aos Correios e ao Ministério de Educação. 
Ou, talvez, a outros órgãos mais. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A PROFECIA MAIA, por FERNANDO MALKUN

Especialista em cultura Maia explica o que  esta civilização escreveu para o ano de 2012 
 

Há quinze anos atrás, Fernando Malkun, barranquillero ( natural de Barranquilla, uma cidade da Colômbia) de origem libanesa, deixou a arquitetura que tinha estudado na Universidade de los Andes, e a qual havia se dedicado por  quase uma década, para responder às perguntas que se atravessaram em sua vida. Durante esse tempo, ele se encontrou com a cultura Maia e dedicou-se completamente ao seu estudo. Hoje é um especialista no tema, com reconhecimento internacional e continua viajando pelo mundo  explicando a mensagem que esta civilização deixou para os seres humanos.
 

 
 
. Os maias disseram que o mundo iria acabar em 2012?
 
- Estão gerando um pânico coletivo absurdo aduzindo que eles tinham anunciado que o mundo iria acabar em dezembro de 2012. Não é verdade, os Maias nunca usaram a palavra fim.  Anunciaram um momento de mudança, de grande aumento de energia do planeta, o que causaria“eventos de destino”, isto é, definitivos, nas pessoas. O problema é  que o nível de consciência da maioria das pessoas atinge apenas o fim do mundo e não a transformação de consciência.
 
 
. Quando isso vai acontecer?
 
- Não vai acontecer, está acontecendo. As pessoas não estão juntando todas as peças do quebra-cabeças para perceber isso. Acreditam apenas que estes eventos atuais são causados por um conjunto de “coincidências” evolutivas. Mas estamos em uma onda de mudanças como nunca antes.
 
 
. O que se percebe, segundo o que é dito pelos Maias?
 
- A profecia anunciou que o planeta  aumentaria a sua freqüência vibracional, o que é um fato: esta freqüência, que  se mede com a ressonância Schumann, passou de  8 a 13 ciclos. Todos os planetas do sistema solar estão mudando. De 1992 até hoje, os pólos de Marte desapareceram  60 por cento e Vênus tem quase o dobro de luminescência. Passamos 300 anos registrando o Sol e as tempestades solares maiores têm ocorrido nos últimos seis meses. Houve um aumento de terremotos de 425 por cento. Tudo está  acelerado dos pontos de vista geofísico e solar. Nosso cérebro, que irradia  suas próprias ondas, é afetado por essa maior irradiação do sol. Essa carga eletromagnética é o motivo por que  sentimos o tempo mais rápidoNão é o tempo físico, mas o tempo de percepção emocional.


 
 
. Fale sobre 1992. Por que este ano? O que aconteceu ?
 
- A essência das profecias maias é comunicar a existência de um ciclo de 26.000 anos, chamado “o grande ciclo  cósmico”. Tudo, estações, meses, dias se ajustam a esse ciclo. Há 13 mil anos atrás, o sol –assim como agora- irradiou mais energia no planeta e derreteu a camada de gelo . Essa camada desaguou no mar, elevou o seu nível em 120 metros e ocorreu o chamado “Dilúvio Universal “. Os Maias disseram que quando o sistema solar estiver  novamente a 180 graus de onde estava a 13.000 anos atrás, a Estrela do Norte brilha sobre o pólo, a constelação de Aquário aparece no horizonte e o trânsito décimo terceiro de Vênus se der –  o que vai acontecer em 6 de junho de 2012 – o centro da galáxia pulsará  e haverá manifestações de fogo, água,terra, ar. Eles falam, especificamente, de dois períodos de vinte anos , de 1992 a 2012 e 2012-2032 – de intensas mudanças.


 
 . Por que anunciavam isso?
 
- A proximidade da morte faz com que as pessoas repensem suas vidas,
 examinem e corrijam a direção que tomam. Isso é algo que ocorre somente se algo se aproxima de você, ou você passa diretamente, te impacta tremendamente. Isto é o que tem acontecido com os tsunamis,os terremotos, as catástrofes naturais de que vivemos, os conflitos sociais, econômicos, etc.

 
Então, eles falam de morte?
- Eles falam de mudança, de um despertar da consciência.Tudo o que está errado com o planeta está se potencializando com o objetivo de que a mente humana se dedique a resolvê-lo.Há uma crise de consciência individual. As pessoas estão vivendo “eventos de destino”, seja em seus relacionamentos, seus recursos, em sua saúde. É um processo de mudança que se baseia principalmente no desdobramento invisível, e está afetando em especial  à mulher.
 
. Por que as mulheres?
- A mulher é quem terá o poder de criar a nova era, devido à sua maior sensibilidade. De acordo com as profecias -  não só as maias, mas muitas-,  a era que se aproxima é de harmonia e espiritualidade. As coisas que estão mal vão se resolver no período que os Maias chamaram de “tempo do não tempo”, que será de 2012-2032
.. Desde 1992, o percentual de mulheres que vêem a aura (seres curadores) do planeta tem aumentado. Hoje, é de 8,6 por cento. Imagine que em 2014 seja de 10 por cento. Isso significaria o início de um período mais transparente. Essa seria a direção da mudança não violenta. 


 
. Mas o que se vê hoje é um aumento na agressividade ….

 
- As duas polaridades são intensificadas. Estão abertos os dois caminhos, o negativo, escuro, destruição, de  confronto do homem com o homem; e o de crescimento da consciência. Existem várias vozes que estão levando os seres humanos a pensar sobre isso. Desde 1992, as informações proibidas dos agnósticos, dos maçons, dos Illuminati, estão  abertas para que se utilize  no processo de mudança de si mesmo.. A religião esta acabando e a religiosidade é que irá permanecer.
 
. Tudo isso , os Maias deixaram de escrito, assim específico?
- Não a esse ponto. Eles disseram que o sol iria mudar as condições do planeta e criar “eventos de destino “. O sol bateu todos os recordes este ano. Os  Terremotos aumentaram 425 por cento. A mudança de temperatura é muito intensa: de 92 para cá aumentou quase um grau, o mesmo que  subiu nos últimos 100 anos anteriores. Antes, havia 600 ou  700 tormentas elétricas simultâneas, hoje há duas mil. Antes se Registravam  80 raios por segundo, agora caem entre 180 e 220.


 
 . Como eles sabiam que isso ia acontecer?
- Eles tinham uma tecnologia extraordinária
. Em suas  pirâmides havia altares de onde eles estudaram o movimento do sol no horizonte. Produziam gráficos com os quais sabiam quando haveria as manchas solares, quando aconteceriam tempestades elétricas. Foi um conhecimento que receberam dos egípcios, que, por sua vez, o receberam dos sacerdotes sobreviventes da Atlântida, civilização destruída 13.000 anos atrás. Os Maias  aperfeiçoaram os conhecimentos e foram os criadores dos calendários mais precisos. Um deles, chamado“Conta larga” termina em 21 de dezembro de 2012e marca o ponto do centro exato do período de 26.000 anos. Eles sabiam que essas mudanças estavam vindo e o que eles fizeram foi dar essa informação para o homem de 2012.


 

 . Será que estas mudanças só foram levantadas por eles? 
- Todas as profecias falam da mesma coisa. Os hindus, por exemplo, anunciam o momento de mudança e falam sobre a chegada de um ser extraordinário qual o mundo ocidental cristão apregoa. Os Maias nunca falaram de um ser extraordinário que viria para nos salvar, mas falaram de crescer em consciência e assumir a responsabilidade, cada  ser na sua individualidade.


 
 
. E  as pessoas que não acreditam nisso?
 
- Acreditando ou não, vão  senti-lo no seu interior. A mudança que estamos vivenciando não é algo de se acreditar ou não. Neste momento,a maioria está vivendo um tempo de avaliação de sua vida. Por que estou aqui, o que está acontecendo, para onde eu quero ir? Basta olhar o crescimento da busca de espiritualidade, não de religiosidade, porque a religião não está dando mais respostas às pessoas.
 


 
. A sua vida pessoal mudou?
- Há quinze anos atrás, eu era tremendamente materialista. Minha conduta é muito diferente hoje. Eu me perguntei por que  estava aqui, para quê, e por razões especiais acabei metido no mundo Maia. E posso afirmar que não se tratam de crenças falsas para substituir crenças falsas. Tirei muitas histórias da minha mente, mas eu ainda estou no terceiro nível de consciência, que é dominante no planeta.
 


. Quem está mais em cima?
- Há pessoas que estão em um nível 4 ou 5. São as menos famosas, de perfil baixo. Em uma viagem  conheci um jardineiro extraordinário, por exemplo. Estes seres estão em serviço permanente, afetando a vida de muitas pessoas, mas não publicamente.
 


 
. O que devemos fazer, de acordo com essa teoria?
 - O universo está nos dando uma oportunidade individual para reestruturar nossas vidas. A maneira de sincronizar-nos é, primeiro, não ter medo, perceber que podemos mudar nossa consciência. A física quântica já disse: a consciência modifica a matéria. O que significa que sua vida depende daquilo que você pensa. A distância entre causa e efeito tem diminuído. Há vinte anos atrás, para que se manifestasse algo em sua vida, necessitava-se  de muita energia. Há vinte anos atrás qualquer fator de punição de um ato maldoso ganhavam-se anos para receber alarde. Hoje tudo ganha destaque rápido. A corrupção pelo mundo afora tem ganhado destaque internacional. As ditaduras estão caindo. As religiões estão a cada dia mais problemáticas, Hoje, você pensa algo e em uma semana está acontecendo. Sua mente causa isso. O que devemos é buscar, as respostas estão aí. Basta ter olhos para ver e ouvidos para ouvir.

 
 Fernando Malkún
 
 Deus nos proteja contra todos os males.
Sóluz (SK).

A estética da corrupção



Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

Meu Deus, como a CPI do Cachoeira e o "mensalão" do Zé Dirceu têm nos ensinado no último ano... Aprendemos muito sobre a estética da corrupção, sobre a semiologia dos casos cabeludos. Eu adoro o vocabulário das defesas, das dissimulações, as carinhas franzidas dos acusados na TV ostentando dignidade, adoro ver ladrões de olhos em brasa, dedos espetados, uivos de falsas virtudes. 
Quando explode um choro, é um êxtase. Alegam, entre soluços, que são sérios, donos de empresas impecáveis. Vai-se olhar as empresas, e nunca nada rola normal, como numa padaria. As empresas sempre são "em sanfona", "en abîme" - uma dentro da outra, sempre com "holdings", subsidiárias, firmas sem dono, sem dinheiro, sem obras, vagando num labirinto jurídico e contábil que leva a um precioso caos proposital, pois o emaranhado de ladrões dificulta apurações. Me emociona a amizade dentro das famílias corruptas. São inúmeros os primos, tios, ex-sócios, ex-mulheres que assumem os contratos de gaveta, os recibos falsos, todos labutando unidos. Baixa-me imensa nostalgia de uma família que não tenho e fico imaginando os cálidos abraços, os sussurros de segredo nos cantos das varandas, o piscar de olhos matreiros, as cotoveladas cúmplices quando uma verba é liberada em 24 horas, os charutos comemorativos; tenho inveja dos vastos jantares repletos de moquecas e gargalhadas, piadas, dichotes, sacanagens tão jucundas, tão "coisas nossas", que até me enternecem pela preciosidade antropológica de nossa sordidez.

Adoro ver as caras dos canalhas. Muitos são bochechudos, muitos cachaços grossos, contrastando com o "style" anoréxico das vítimas da seca, da fome - proletários 'chiques', 'elegantérrimos' pela dieta da miséria. Os corruptos tendem para a obesidade e parecem acumular dentro das barrigas suas riquezas sempre iguais: piscinas, fazendas, lanchões, 'miamis'. Todos têm amantes, todos com esposas desprezadas e tristes se consumindo em plásticas e murchando sob litros de botox, têm filhos paspalhões, deformados pelas doenças atávicas dos pais e avôs. Aprecio muito bigodões e bigodinhos. Nas oligarquias, os bigodes corruptos são poderosos, impositivos, bigodes que ocultam origens humildes criadas à farinha d'água e batata-de-umbu, camuflando ancestrais miscigenados com índios e negros, na clara dissimulação de um racismo contra si mesmos.
Amo o vocabulário dos velhacos e tartufos. É delicioso ver as caras indignadas na TV, as juras de honestidade, ouvir as interjeições e adjetivos raros: "ilibado", "estarrecido", "despautério", "infâmias", "aleivosias"... Os corruptos amam a norma castiça da língua, palavras que dormem em estado de dicionário e despertam na hora de negar as roubalheiras. São termos solenes, ao contrário das gravações em telefone: "Manda a grana logo para o F.d.p. do banco, que é um grande *#@, senão eu vou #@** a mãe deste *#&@ !!!" Outra coisa maravilhosa nos canalhas é a falta de memória. Ninguém se lembra de nada nunca: "Como? Aquela mulher ali, loura, 'popozuda', de minissaia? Não me lembro se foi minha secretária ou não". E o aparente descaso com o dinheiro? Na vida real, farejam a grana como perdigueiros e, no entanto, dizem nos inquéritos: "Ih!... como será que apareceram R$ 10 milhões na minha conta? Nem reparei. Ah... esta minha memória!..."

E logo acorrem os juízes das comarcas amigas, que dão liminares e mandados de segurança de madrugada, de pijama, no sólido apadrinhamento oligárquico, na cordialidade forense e sempre alerta, feita de protelações, dasaforamentos, instâncias infinitas, até o momento em que surge um juiz decente e jovem, que condena alguém e é logo xingado de "exibicionista". Adoro as imposturas, as perfídias, os sepulcros caiados, os beijos de Judas, os abraços de tamanduá, as lágrimas de crocodilo. Adoro a paisagem vagabunda de nossa vida brasileira, adoro esses exemplos de sordidez descarada, que tanto ensinam sobre o nosso Brasil. Amo também ver o balé jurídico da impunidade. Assim que se pega o gatuno, ali, na boca da cumbuca, ali, na hora da "mão grande", surgem logo os advogados, com ternos brilhantes, sisudos semblantes, liminares na cinta, serenidade cafajeste e, por trás de muitos deles, dá para enxergar as faculdades malfeitas, as 'chicaninhas' decoradas, os diplomas comprados. Imagino a adrenalina que lhes acende o sangue quando a mala preta voa em sua direção, cheia de dólares. Imagino os olhos covardes dos juízes que lhes dão ganho de causa, fingindo não perceber a piscadela cúmplice que lhes enviam na hora da emissão da liminar.

Os canalhas explicam o Brasil de hoje. Eles têm raízes: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degredado. Durante quatro séculos, homens como eles criaram capitanias, igrejas, congressos, labirintos. Nunca serão exterminados; ao contrário - estão crescendo. Acham-se sempre certos, pois são 'vítimas' de um mal antigo: uma vingança pela humilhação infantil, pela mãe lavadeira ou prostituta que trabalhou duro para comprar seu diploma falso de advogado. Não adianta prender nem matar; sacripantas, velhacos, biltres e salafrários renascerão com outros nomes, inventando novas formas de roubar o País.

Adoro ver como eles gostam do delicioso arrepio de se saberem olhados nos restaurantes e bordeis; homens e mulheres veem-nos com volúpia: "Olha, lá vai o ladrão..." - sussurram fascinados por seu cinismo sorridente, os "maîtres" se arremessando nas churrascarias de Brasília e eles flutuando entre picanhas e chuletas. Enquanto houver 25 mil cargos de confiança no País, enquanto houver autarquias dando empréstimos a fundo perdido, eles viverão. Não adiantam CPIs querendo punir. No caso do mensalão, durante suas defesas no STF, vimos que muitos contavam justamente com as deficiências da Justiça para ganhar. Pode ser que agora mude tudo, depois desse julgamento histórico. Mas, enquanto houver este bendito Código de Processo Penal, eles sempre renascerão como rabos de lagartixa.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Falácia

Falácia : É um mau raciocínio, um raciocínio errado. Pode não ser intencional, mas ocorre na maioria dos argumentos que encontramos . Uma falácia pode partir de premissas verdadeiras, porém sua conclusão é um erro. Um exemplo : 

Premissa 1 : todos os leões rugem 
Premissa 2 : todo leão é um animal 
Conclusão : todos os animais rugem 

Essa é uma falácia de generalização. 

Duas premissas verdadeiras cuja conclusão é um erro. 

Uma falácia recorrente é a falácia ad hominem que é o ataque pessoal ao seu interlocutor ao invés de atacar o argumento. É uma falácia que visa fugir do assunto proposto e em geral é feita quando o falacioso percebe que seus argumentos foram refutados ou quando ele não tem argumentos para refutar os do seu interlocutor. É uma tentativa de desqualificar o interlocutor, desviando o argumento para o lado pessoal, citando exemplos da sua vida, ou coisas que fez ou escreveu fora do assunto em questão. Além disso é uma covardia e desqualifica o próprio atacante.


NEM ESTUDAM, NEM TRABALHAM


REVISTA ISTO É N° Edição: 2246

Apesar do crescimento econômico do País, aumentou na última década o 
número de brasileiros entre 18 e 25 anos sem escola e sem emprego. 
Eles são 20% dos jovens 

Rachel Costa 



EM CASA
Violão e academia são os passatempos de Thaís, 18 anos,
para as tardes desde que terminou o ensino médio

Fora do mercado formal, o trabalho da jovem Miessa Pagliato, 25 anos, é correr atrás
do filho Arthur, de 3 anos. Desde que engravidou, trocou o emprego de assistente 
administrativa pela família. Planejava, para 2013, pôr Arthur na escola e voltar a 
trabalhar, mas uma nova gravidez a fez encarar mais um período em casa. O futuro 
que lhe espera, ela sabe, não será dos mais fáceis. “Já não sou mais tão nova, estou
defasada para o mercado de trabalho e não tenho uma boa formação”, resume a 
jovem, que engrossa a lista dos “nem-nens”, tradução para o português do termo 
espanhol “nini”, uma corruptela de “ni estudian, ni trabajan”. O termo tornou-se 
popular em uma Espanha arrasada pela crise e onde os jovens têm encontrado muita 
dificuldade para conseguir trabalho. Aqui, de acordo com o último censo do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os “nem-nens” já são um a cada cinco 
jovens entre 18 e 25 anos, uma massa de 5,3 milhões de pessoas. Em 2000, no censo
anterior, eram 4,8 milhões de “nem-nens”, que representavam 18,2% da população. 
O que impressiona é que nem a redução do desemprego nem a ampliação das vagas
de formação técnica e superior foram capazes de reverter o número.

“Ficamos surpresos, esperávamos encontrar menos jovens nessa situação”, diz 
Adalberto Cardoso, coordenador do projeto Juventudes, Desigualdades e o Futuro do
Rio de Janeiro, responsável pelo cruzamento dos dados do Censo. A grande questão 
é entender por que brasileiros têm seguido por esse caminho. Para uma parcela 
significativa, a resposta é a mesma de Miessa: a maternidade. Cerca de um terço dos
“nem-nens” são jovens mães. “Essa era uma trajetória comum no passado, mas, como
se vê, ainda tem sobrevivido”, considera Mario Rodarte, da Faculdade de Administração
e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Outro grande grupo,
acredita Rodarte, seria formado por uma juventude descontente, que não se sente 
seduzida pela transição entre educação e trabalho, que normalmente ocorre nessa 
idade. Nessa ciranda, que envolve ensino de má qualidade e postos de trabalho 
pouco atrativos, os mais prejudicados são os mais carentes – 70% dos “nem-nens”
fazem parte dos 40% mais pobres da população. “Também não podemos esquecer que
uma parte pode estar envolvida com a criminalidade, muito associada a homens nessa
faixa etária”, avalia André Portela, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas. 


À ESPERA
Daniel, 19 anos, depois de uma tentativa frustrada
de trabalho, promete que ainda volta a estudar

Mas isso não significa que classes sociais altas também não produzam seus “nem-nens". 
Em um bairro de classe média da zona oeste de São Paulo, o jovem Daniel Jachimowicz,
de 19 anos, largou os estudos em um colégio particular sem nem completar o primeiro 
ano do ensino médio. “Tomei ‘pau’ duas vezes e desisti”, resume. Neste ano, 
experimentou trabalhar em um rodízio de comida japonesa, mas achou que era muito
 esforço para pouco salário. “Durei um mês. Não me sobrava tempo livre”, queixa-se. 
Decidiu então continuar em casa, acordando tarde e gastando os dias entre computador,
videogame, ensaios da banda e rodas de cerveja com os amigos. Para o futuro, planeja
um curso de gastronomia, mas primeiro ainda precisa de um diploma do ensino médio.

Em casos como o de Jachimowicz, a geração “nini” brasileira se aproxima mais da 
europeia. Lá, antes da crise, o conforto provocado pelo crescimento econômico na 
década passada e o bem-estar social já faziam os jovens enxergarem a casa como uma
opção. “Não queria ir para a universidade ainda, porque não tinha certeza do curso a 
fazer”, diz Thaís Romano, 18 anos. Ela vai prestar vestibular, mas decidiu não priorizar 
os estudos em seu ano sabático, que dedicou à academia e ao violão. “Vou tentar na 
raça”, conta. “Meus irmãos mais velhos são os que mais me xingam. Eles me mandam 
arrumar alguma coisa para fazer.”


MÃE
Miessa, 25 anos, precisou deixar o trabalho para cuidar do filho Arthur.
Grávida novamente, sabe que não será fácil se reinserir no mercado

Nesses casos em que a família tem mais recursos é mais fácil para os “nem-nens” se 
reinserirem no mercado. Com menor ou maior intensidade, porém, há sempre perda. 
“Quanto mais o jovem retarda o início de sua vida profissional e não se qualifica, mais 
a concorrência se acirra, porque vai haver mais gente com mais experiência disputando
vagas”, afirma Eduardo de Oliveira, do Centro de Integração Escola Empresa. É essa 
experiência que vive hoje Mariana Ferreira Gugê, 20 anos. Filha de pai vendedor e mãe
administradora, ela resolveu sair da escola em 2010, sem completar o primeiro ano do 
ensino médio. Agora, resolveu buscar emprego. Descobriu, porém, que embora haja 
muitas vagas de trabalho, seu currículo é fraco por causa da formação acadêmica 
deficiente e da falta de experiência. “Hoje eu me arrependo. No começo foi tudo uma 
festa, mas depois eu fui ficando cansada de ficar em casa e quis trabalhar”, diz ela, 
que planeja fazer supletivo em 2013.