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domingo, 27 de janeiro de 2013

NEM ESTUDAM, NEM TRABALHAM


REVISTA ISTO É N° Edição: 2246

Apesar do crescimento econômico do País, aumentou na última década o 
número de brasileiros entre 18 e 25 anos sem escola e sem emprego. 
Eles são 20% dos jovens 

Rachel Costa 



EM CASA
Violão e academia são os passatempos de Thaís, 18 anos,
para as tardes desde que terminou o ensino médio

Fora do mercado formal, o trabalho da jovem Miessa Pagliato, 25 anos, é correr atrás
do filho Arthur, de 3 anos. Desde que engravidou, trocou o emprego de assistente 
administrativa pela família. Planejava, para 2013, pôr Arthur na escola e voltar a 
trabalhar, mas uma nova gravidez a fez encarar mais um período em casa. O futuro 
que lhe espera, ela sabe, não será dos mais fáceis. “Já não sou mais tão nova, estou
defasada para o mercado de trabalho e não tenho uma boa formação”, resume a 
jovem, que engrossa a lista dos “nem-nens”, tradução para o português do termo 
espanhol “nini”, uma corruptela de “ni estudian, ni trabajan”. O termo tornou-se 
popular em uma Espanha arrasada pela crise e onde os jovens têm encontrado muita 
dificuldade para conseguir trabalho. Aqui, de acordo com o último censo do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os “nem-nens” já são um a cada cinco 
jovens entre 18 e 25 anos, uma massa de 5,3 milhões de pessoas. Em 2000, no censo
anterior, eram 4,8 milhões de “nem-nens”, que representavam 18,2% da população. 
O que impressiona é que nem a redução do desemprego nem a ampliação das vagas
de formação técnica e superior foram capazes de reverter o número.

“Ficamos surpresos, esperávamos encontrar menos jovens nessa situação”, diz 
Adalberto Cardoso, coordenador do projeto Juventudes, Desigualdades e o Futuro do
Rio de Janeiro, responsável pelo cruzamento dos dados do Censo. A grande questão 
é entender por que brasileiros têm seguido por esse caminho. Para uma parcela 
significativa, a resposta é a mesma de Miessa: a maternidade. Cerca de um terço dos
“nem-nens” são jovens mães. “Essa era uma trajetória comum no passado, mas, como
se vê, ainda tem sobrevivido”, considera Mario Rodarte, da Faculdade de Administração
e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Outro grande grupo,
acredita Rodarte, seria formado por uma juventude descontente, que não se sente 
seduzida pela transição entre educação e trabalho, que normalmente ocorre nessa 
idade. Nessa ciranda, que envolve ensino de má qualidade e postos de trabalho 
pouco atrativos, os mais prejudicados são os mais carentes – 70% dos “nem-nens”
fazem parte dos 40% mais pobres da população. “Também não podemos esquecer que
uma parte pode estar envolvida com a criminalidade, muito associada a homens nessa
faixa etária”, avalia André Portela, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas. 


À ESPERA
Daniel, 19 anos, depois de uma tentativa frustrada
de trabalho, promete que ainda volta a estudar

Mas isso não significa que classes sociais altas também não produzam seus “nem-nens". 
Em um bairro de classe média da zona oeste de São Paulo, o jovem Daniel Jachimowicz,
de 19 anos, largou os estudos em um colégio particular sem nem completar o primeiro 
ano do ensino médio. “Tomei ‘pau’ duas vezes e desisti”, resume. Neste ano, 
experimentou trabalhar em um rodízio de comida japonesa, mas achou que era muito
 esforço para pouco salário. “Durei um mês. Não me sobrava tempo livre”, queixa-se. 
Decidiu então continuar em casa, acordando tarde e gastando os dias entre computador,
videogame, ensaios da banda e rodas de cerveja com os amigos. Para o futuro, planeja
um curso de gastronomia, mas primeiro ainda precisa de um diploma do ensino médio.

Em casos como o de Jachimowicz, a geração “nini” brasileira se aproxima mais da 
europeia. Lá, antes da crise, o conforto provocado pelo crescimento econômico na 
década passada e o bem-estar social já faziam os jovens enxergarem a casa como uma
opção. “Não queria ir para a universidade ainda, porque não tinha certeza do curso a 
fazer”, diz Thaís Romano, 18 anos. Ela vai prestar vestibular, mas decidiu não priorizar 
os estudos em seu ano sabático, que dedicou à academia e ao violão. “Vou tentar na 
raça”, conta. “Meus irmãos mais velhos são os que mais me xingam. Eles me mandam 
arrumar alguma coisa para fazer.”


MÃE
Miessa, 25 anos, precisou deixar o trabalho para cuidar do filho Arthur.
Grávida novamente, sabe que não será fácil se reinserir no mercado

Nesses casos em que a família tem mais recursos é mais fácil para os “nem-nens” se 
reinserirem no mercado. Com menor ou maior intensidade, porém, há sempre perda. 
“Quanto mais o jovem retarda o início de sua vida profissional e não se qualifica, mais 
a concorrência se acirra, porque vai haver mais gente com mais experiência disputando
vagas”, afirma Eduardo de Oliveira, do Centro de Integração Escola Empresa. É essa 
experiência que vive hoje Mariana Ferreira Gugê, 20 anos. Filha de pai vendedor e mãe
administradora, ela resolveu sair da escola em 2010, sem completar o primeiro ano do 
ensino médio. Agora, resolveu buscar emprego. Descobriu, porém, que embora haja 
muitas vagas de trabalho, seu currículo é fraco por causa da formação acadêmica 
deficiente e da falta de experiência. “Hoje eu me arrependo. No começo foi tudo uma 
festa, mas depois eu fui ficando cansada de ficar em casa e quis trabalhar”, diz ela, 
que planeja fazer supletivo em 2013.



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