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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Idiota à brasileira

Ele fura fila. Ele estaciona atravessado. Acha que pertence a uma casta privilegiada. Anda de metrô - mas só no exterior. Conheça o PIB (Perfeito Idiota Brasileiro). E entenda como ele mantém puxado o freio de mão do nosso país

Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de "tigres" - porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras.
O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas - nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente.
É o tipo de cara que pede um copo d'água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto - transformar quem o cerca em seus otários particulares.
O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino - porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.
Idiota brasileira
O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará.
Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.
O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.
Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de "cheguei lá" e "eu posso". O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho - preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.
O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.
E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.
Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo - enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.
Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres - não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos - e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A justiça injusta: prisão nos Estados Unidos

advogada trabalhista

Quem aqui não se lembra daquele jovem brasileiro que foi passar as festas de final de ano com os pais no maior navio do mundo e não retornou ao seu país, acusado de envolvimento com uma menor de idade americana?
Pois bem, eu me lembro de cada notícia, cada informação controvertida e da “sede” dos canais midiáticos em noticiar o ocorrido, transformando aquela pessoa que eu até então desconhecia num verdadeiro “playboy delinquente” que “foi se aventurar no desconhecido” e que agora “apodreceria atrás das grades”.
Nunca acreditei muito naquela novela que a mídia vendia e imaginava que o pobre rapaz era na verdade um baita azarado... Não sou criminalista, minha área passa longe dos tipos penais, mas não era preciso ser expert para constatar que algo estava errado naquela história, e muito.
Um ano mais tarde, conheci o tal rapaz, que quando me falou seu nome fez minha memória girar em falso inúmeras vezes, trazendo imagens que eu havia visto nos jornais quando tudo aconteceu. Se eu me afastei dele? Ao contrário, passei meu telefone!
Com o passar dos dias fomos nos conhecendo melhor e não conseguia enxergar como aquele “monstro” que a mídia pintou poderia habitar o mesmo corpo daquela pessoa tão inocente e pura.
Quando o rapaz disse que tinha algo para me contar já o tranquilizei, dizendo que eu já sabia do que se tratava e ele, surpreso com minha resposta ficou calado por alguns segundos e então continuou a falar, dizendo que gostaria então de me contar a sua versão dos fatos.
Tudo o que ouvi e vi com meus próprios olhos foi suficiente para me motivar a disseminar a sua real história a todos aqueles que um dia o julgaram. Durante os mais de oito meses em que esteve preso em Fort Lauderdale aquele garoto (sim, ele tinha apenas vinte anos) escreveu um livro.
Na verdade, o que ele me apresentou eram folhas de papel almaço escritas a lápis, onde eu podia ver seus relatos, histórias e desabafos. Aquilo prendeu minha atenção e eu o perguntei se ele tinha a intenção de publicar o tal livro. A princípio ele me disse que não sabia, que estava tentando há meses começar, mas que era doloroso reviver toda aquela imersão no passado, algo que ele gostaria de enterrar.
Pois bem, de certo ele poderia tê-lo feito, se a internet não tivesse ceifado-lhe a chance de mostrar quem ele realmente era, fechando as portas e oportunidades para uma pessoa que estava apenas no início de sua vida profissional, retomando os estudos na faculdade, após um ano carregado de energias negativas.
Amadurecida a ideia decidimos começar a digitalizar aquelas folhas escritas com um grafite grosso, que eu depois descobrir tratar-se de tocos de lápis, sabendo que aquele era um caminho sem volta e que apenas chegaríamos ao fim quando o livro estivesse pronto. Sabíamos que aquilo poderia salvar a sua reputação, abrir-lhe as portas que outrora foram fechadas.
Mais de dois anos se passaram e em 11 de abril de 2015 o tal livro, intitulado A VIRADA, foi finalmente publicado. De um jeito completamente amador, sem ajuda ou apoio de editoras, da digitalização à criação da arte para a capa do exemplar, aquelas centenas de folhas literalmente tomaram forma e corpo de uma obra, destinada a contar ao mundo a sua história.
Agora você me pergunta:
Por que apenas o seu caso fora tão noticiado?
Guardadas as proporções, acredito que apenas o caso do Marco Archer, brasileiro fuzilado na Indonésia tomou tantas páginas no Google. O choque cultural pode ser o verdadeiro inimigo daqueles que vão se aventurar por países estrangeiros... Mesmo quando se trata de um inocente.
Onde está a presunção de inocência neste caso?
Esse é um ponto crucial: não houve presunção de inocência nesse caso. Eu seria hipócrita se dissesse que nunca proferi indecências contra criminosos no calor da emoção, mas aprendi nos anos de faculdade que é preferível a absolvição de um bandido à condenação de um inocente, como no tão estudado caso dos Irmãos Naves. Entretanto, não foi o que aconteceu com o tal rapaz.
Afinal, ele é ou não culpado?
Oras, essa pergunta é a mais fácil de ser respondida! Basta juntar as “peças” do “quebra-cabeças” e pensar um pouco: a penalidade máxima para o crime de estupro nos Estados Unidos é de trinta anos; ele, brasileiro conhecido no Estado, pela enorme repercussão que seu caso teve por aquelas bandas, acusado de estuprar uma menor de idade, negra e filha de uma juíza americana, que ele sequer conhecia, num país extremamente rígido, onde um passo em falso pode acabar com a liberdade de um cidadão, após oito meses preso retornou ao Brasil. Resta alguma dúvida que ele não é culpado?
Se ele não é culpado, porque sua soltura não foi noticiada?
Talvez porque nada tenha chamado tanto a atenção da mídia como uma notícia desse nível, fresquinha e envolvendo uma pessoa de classe média alta. Entretanto, caso a mídia tivesse ajudado a “consertar” o mal que havia gerado, talvez o rapaz não tivesse se motivado a ponto de escrever um livro.
Agora sou eu quem questiono:
É possível que a mídia deturpe a imagem de uma pessoa e nada possa ser feito? É certo que um inocente que estava no lugar errado e na hora errada tenha que conviver carregando o fardo de ser taxado de “estuprador”? É cabível que uma pessoa que amargou uma virada na sua vida não possa de uma vez por todas mostrar ao mundo que todo o julgamento foi leviano? E os tão aclamados danos morais? A lesão à honra? Muitas vezes acompanhamos aventuras judiciárias onde o patrimônio moral é “comercializado”, beirando à indecência diga-se de passagem, mas o que seria tão cruel quanto ter seu nome mais disseminado que doença contagiosa, sofrer olhares de repreensão daqueles que sequer o conhecem e ainda assim, ser inocente e manter a vontade incessante de vencer na vida?
Senhores, apresento-lhes a verdadeira VIRADA.
Espero que um dia o mundo saiba a verdadeira história de Luiz Antonio Scavone Neto, uma pessoa iluminada que aos agora vinte e quatro anos de vida carrega mais experiência do que muitos pais de família.
Priso nos Estados Unidos