Mentes que visitam

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Corrupção e o sistema eleitoral clientelista

Por: Leo Rosa de Andrade e Luiz Flávio Gomes
A história do Brasil é uma narrativa de mandonismo e de obediência. Desde a Colônia (1500-1822), nós somos o desdobramento da vontade dos donos do poder territorial (político), econômico e jurídico. Os senhores de terra, e posteriormente os detentores de outros recursos (industriais, financeiros, midiáticos etc.), estabeleceram uma hierarquia e do topo dela têm escrito e controlado a nossa história política e social. Os mandões (da colônia, do Império, da República, das ditaduras e das democracias meramente formais) criaram uma estrutura de dominação clientelista (mantendo-se o cliente na ignorância e sob cabresto), que chegou ao auge nos tempos do coronelismo. Essa prática de relação política consolidou-se durante a Primeira República, também chamada de Velha República (1889-1930), medrando do meio rural e pequenas cidades até a capital do País. O termo “coronelismo” tem origem nos coronéis da Guarda Nacional (criada em 1831), mas coronel foi generalizado pelo povo como título de chefe político.
Essa corporação foi implantada em todos os municípios brasileiros; não obstante ter sido militar, era uma expressão do poder civil. A autoridade sobre o regimento local, exercida sob a patente de coronel, era entregue a um chefe político. Esses chefes, que já eram donos de fato do lugar, ao receberem um poder militar legalmente reconhecido, mais legitimavam o poder de mando, consolidando o prestígio pessoal. A Guarda Nacional foi extinta em 1889, antes, portanto, da República Velha, mas o poder angariado pelos coronéis não morreu. Era dessa gente o poder político, econômico e jurídico. Esse sistema ficou arraigado nos nossos costumes. A hierarquia de cabo eleitoral, de chefe de distrito, de coronel, se não sobrevive com a mesma pujança, perdura como um fundo que infesta o sistema eleitoral até nossos dias. A democracia nascida depois do regime militar (em 1985) é não só de viés basicamente eleitoral (não cidadã), como também “coronelista” (porque o coronelismo continua impregnado na “alma” do brasileiro).
Ainda hoje, a substituição de partido político no comando do governo em qualquer nível não leva à troca do método de governança. Antigamente, é verdade, havia mais coerência no sistema: os que perdiam as eleições compreendiam perfeitamente que “agora é a vez deles”. Então, resignadamente, os derrotados se punham a militar pelo retorno ao poder e ao cofre público. Nos tempos dos coronéis, os mandões, se vencedores, sustentavam os seus com os meios do erário; fora do poder, mantinham a “sua gente” com os próprios bolsos. A questão de honra pública nacional nunca foi o pertencimento cívico a uma ideologia partidária, mas o alinhamento a um potentado local. Ser marcado e reconhecido como alinhado a um coronel nos bons e maus tempos era um sinal de dignidade.
Atualmente, alguns dos que estão fora do poder protestam, mas não no relevante. Note-se, por exemplo, que na CPMI que investigou a roubalheira na Petrobrás alcançou-se o acordo (em novembro/14, entre o PT e o PSDB) de não quebrar o sigilo das empresas envolvidas (que são as financiadoras das campanhas de ambas as siglas). Caso isso fosse feito é de se supor que seria encontrado nos dutos da propina o nome de parlamentares das mais variadas greis partidárias, de situação e de oposição. É isso que somos: um país movido a interesses intermediados por políticos. Já não temos os coronéis (ou eles estão se escasseando), mas preservamos muito da mentalidade clientelista (com tonalidade “servilista”, sem priorizar a distribuição de renda ou educação como fonte de progresso, mesmo que sobre a importância desses temas haja unanimidade nacional). Nossas eleições não são episódios que atraiam por embates de pensamentos, mas por interesses. Um governante não é eleito como um pensador ou um gerente do Brasil, mas como um intermediário de negócios, um despachante de interesses, em geral não confessáveis. Quanto mais satisfaz esses interesses clientelistas, maior a chance de ser eleito (ou de governar sem grandes traumas). Nas eleições de 2014, vencidas novamente pelo PT, muitos eleitores votaram em Dilma por convicção, outros porque suas condições de vida melhoraram (no período de 2003 a 2010), mas ainda preponderou o resgate de práticas de clientelismo “em favor” dos mais carentes. Vejamos a constatação (e o gráfico) do Datafolha:
Corrupo e o sistema eleitoral clientelista
Sem ilusão, de acordo com nossa tradição histórica patrimonialista, político que não gasta (ainda que seja dinheiro do Estado) não se elege e, salvo exceção, político que não rouba (ou que não se envolve com a corrupção) não tem para gastar. E o povo, regra geral, não quer saber de ideia, quer saber da parte dele: isso é o que explicaria os votos majoritários em Dilma dados pelos pobres e excluídos, pela classe média baixa e classe média intermediária (muitos votaram pensando na preservação das benesses, ainda que socialmente distributivas, que lhe são proporcionadas pelo governo, mas vendidas como bondade do governante: bolsa família, bolsas universitárias, auxílio saúde etc.); já a maioria da classe média alta e do topo (classe alta) votou em Aécio, porque muitos querem a manutenção dos seus privilégios de classe, que correm riscos quando há distribuição de “benesses” para o “povão” (programas sociais).
Mário Magalhães (Folha) escreveu: “Não é verdade que todos os ricos votam em Aécio e todos os pobres votam em Dilma; de cada três entrevistados de classe “alta'', no topo da escala, dois votam no tucano (um vota na Dilma); de cada três “excluídos'', no pé, dois preferem a petista (um vota em Aécio). Como os excluídos e os menos favorecidos nas escalas sociais (alvos preferenciais do clientelismo que não prioriza a educação como alavanca de crescimento) são numericamente majoritários, aí estaria a explicação da vitória de Dilma.
O povo é tocado a marketing, promessas, favores e valores, sejam os valores privados, tirados do bolso do político que roubou ou vai roubar, sejam os valores públicos, levados pelas bolsas clientelistas que o PSDB inventou e que o PT fatura. E a tudo se justifica, na lógica de nossos deploráveis hábitos. Não há petista que reconheça que seu partido roubou (sim, não é só o PT: isso é verdade) da Petrobrás, apesar das evidências e mesmo das confissões; todo petista alega julgamento político do Mensalão, apesar de os ministros do STF terem sido (majoritariamente) nomeados por Lula e Dilma. Não há petista que reconheça que essas verbas bilionárias moveram a eleição e reeleição de Dilma.
Ao tempo da Ditadura, o Nordeste ganhava favores e votava na Arena; os nordestinos eram execrados como alienados pela “esquerda”. Hoje o Nordeste (assim como os carentes espalhados por todo o País) majoritariamente “retribui” em votos o “reconhecimento” pelos benefícios públicos que lhe são dirigidos. É o mesmo clientelismo, mas a esquerda, hoje, nomeia esse hábito de consciência eleitoral. Somos isso e nos justificamos. Não vai ser fácil superar a nossa própria História. Mas sem superá-la não seremos nunca uma nação civilizada de primeiro mundo.

Somos todos Eike!

Somos todos Eike
Confesse. Admita, você também já quis. Pode dizer, ninguém está te vendo à frente desse computador em que se lê esse ajuntamento de letrinhas. Vamos, rapaz. Vamos, moça. Confesse. Você já quis dirigir um carrão desses de sonhos, de bacana. De gente fina. De gente de bem, entende? De gente que usa Prada, que usa Givenchy (adoro a sonoridade desse nome), Hermès, Le Boutin, marcas que a gente vê nos shoppings sangue azul da cidade.
Um carrão de sonho nos coloca fora da realidade dos nossos carros financiados, atrasados, Ipvezados, multados, com mancha de sorvete de criança, mancha de óleo do sanduba que as crianças deixaram cair na batata frita gordurenta, pêlo de cachorro, a ponta da mola que espeta a bunda, porta-luvas com rolo de papel higiênico e flanelinha, porta-malas com chupeta para bateria, carrinho de criança, restos dos restos de supermercado, uma camisa que caiu da lavanderia ano retrasado, carpete cheirando xixi ninguém sabe de quem, nosso carro infernal. A dura realidade. A amarga realidade. A realidade mais chavão de todas, aquela nua e crua, lugar comum de todas as realidades factuais que nos oprimem. Verdadeiramente, a realidade é um saco.
Mas, admita. Ser nobre, ser VIP, entrar no camarote da Brahma no carnaval, tirar selfie com as celebridades, as atrizes, os quase esquecidos dos BBB idos e passados. Entrar na sala VIP de aeroporto, cortar aquele filezão alto, meio mal passado, rosado no centro, num prato magnífico, tomando aquele vinho inacreditável, risoto impronunciável, flambado com cognac francês. Ah, ser rico é um detalhe do bom gosto que nos sobra, sabemos, mas falta a grana! A mísera grana, a grana que – pimba! – lá vem ela de novo, a realidade, nos impede de desfrutar essas pequenas estadias de paraíso.
Ser O Cara. No elevador, o vizinho olha com respeito, temor e inveja. O cunhado inveja, a cunhada lamenta ter você errado de irmã ou de filha, era ela, mas foi outra, fazer o quê? A namoradinha do colégio que trocou você pelo cara do Puma, do Chevette, da Camionete, da Pampa, as idades se sucedem, anda à sua procura no facebook, querendo reaproximar-se ereparar o erro cometido.
Encher o saco do trabalho às três da tarde, largar tudo e se mandar. Ir jogar tênis. Que tênis que nada, golfe. Esse, sim, é esporte de gente fina. Golfe, coisa de americano, não de brasileiro que só sabe (e nem isso sabe mais) chutar uma bola.Dona Helena, estou no Golfe Clube. Só passe recados imprescindíveis, do escritório de New York ou Xangai. Avise minha esposa que jantarei por lá, algo bem simples, uma perdiz grelhada. Fui. Jogar golfe, três da tarde, quarta-feira. O mundo explodindo e você, top one, jogando golfe. Mereço. Afinal, toco esse país pra frente. Impeachment já. Eu já teria dado jeito nessa turma de recebedores de bolsa-vagabundo, ô. Meu pai era engraxate, mas eu estou aqui, no golfe. Meritocracia é isso.
O carrão. Cadê a buzina? Carrão tem buzina ou dispõe de um raro sensor fotoeletromagnético tron plus LD14X, somente usado nas máquinas de teletransporte, que tira da frente essas latas andantes que insistem em me retardar… Buzina é coisa de fusca. Nossa, desculpe, bati na boca, lavei com sabão, nunca mais falo essa palavra, nunca mais, prometo. É coisa de, vai, um Vectra! Esse meu carrão dispensa buzina e a música liga sozinha. Tu pensa na cantora e ela, plá!, começa a cantar, nem precisa pedir. Sertanejo Universitário e funk nem toca. Tem um antivírus pra isso. Só música de bacana, americana, francesa, italiana, orquestrada. Carrão!
Quem vai me ver aqui? Abaixar o vidro é mania de taxista que quer economizar combustível e fica parecendo um suã ignóbil. Quem vai me ver aqui? Bacana é uma gente esquisita, compra o carrão e escurece o vidro para não ser visto por quem está na calçada. Que adianta, então?
Nem o farol, semáforo, sinaleira, aquelas três luzinhas, enfim, nem elas avermelham quando eu passo, respeito é isso, rapaz!, até o vermelho esverdeia quando eu passo. Carrão.
O melhor carrão é aquele que é dos outros, mas já quase não é mais, meio apreendido, meio arrestado, um pouco penhorado, quase penhorado, enfim, detalhes jurídicos que não impedem de eu sentir a aceleração de zero a cem, delícia!
Se o Zé das Arruelas pode ser depositário, se o Tonho da Farmácia, o Jão da Pipoca, o Pedro Coveiro, o Manassés, a Magnólia da Barraca do Alface, o Tavinho Chaveiro, a Zilda Porteira, o Mané da Elétrica, o Carlos Coito, o Binho, a Zefa da Feira da Caridade, o Maluco Corintiano, podem ser depositários do carrão, por que não eu? Cadê a lei que se me impede de sê-lo sem jamais ter sido? Cadê, bando de jurisconsultos de Civic financiado? Cadê? É só mimimi.
Vocês de bocão e eu de carrão!
E pensar que me pagam pra tudo isso. Nota preta. Não dá pra esse carrão, mas me divirto pra caramba.
Vidão!
Publicado por João Paulo Morais
Por Roberto Tardelli 

Justiça está mais rígida com quem usa a internet para difamar pessoas

Quem posta ou compartilha também é punido.

Responsável pela ofensa pode pagar multa.


Neide DuarteSão Paulo, SP                                                                                       

O mundo que se exibe numa tela, onde a vida é meio de verdade, meio de mentira, meio civilizada, meio selvagem, e cada um diz o que quer acreditando estar livre de qualquer conseqüência, a cada dia fica mais parecido com o mundo real.
Nos últimos seis anos passaram pela justiça brasileira mais de 500 casos de vítimas de ofensas virtuais. Na grande maioria quem ofendeu foi julgado criminalmente e, além disso, pagou uma multa de R$ 20 mil a R$ 30 mil.
Quem responde pelo crime virtual? Em primeiro lugar, o responsável pela internet naquele computador.
“Como no caso de automóveis, aquele que vai responder se não puder dizer que foi outra pessoa e apresentar, é o dono do veículo que tem identidade amarrada à placa o carro. A mesma coisa acontece na internet. Em termos de resultados para isso é que a internet gera mais provas. Está tudo documentado”, diz a advogada especialista em crimes virtuais, Patrícia Peck.
A publicitária Viviane Teves sabe disso e pretende entrar na justiça por causa de estranhas mensagens que vem recebendo. Ela foi estuprada, dez anos atrás e agora resolveu contar essa história numa rede social, como forma de alerta para outras mulheres.
“Deu meia-noite e eu comecei a receber mensagens no celular: ‘parabéns pelos 10 anos de estupro, espero que seja estuprada novamente, só vim aqui para te dar parabéns’”, conta.
“Alguém começa uma piada, uma brincadeira de mau gosto e as outras pessoas curtem e começam a compartilhar isso achando que 'tudo bem, não vai me acontecer nada'. Mas não é assim. Todos os que se juntam na ofensa à uma pessoa, respondem junto com a pessoa que publicou aquele conteúdo”, explica  a advogada.
Uma menina de 11 anos está sofrendo há alguns anos com ofensas de colegas de classe, pessoais e nos últimos tempos virtuais. Este ano além do grupo da rede social, os colegas criaram um grupo no celular.
“Conversava das lições tudo. Aí depois, a gente entrava num assunto começava a me chamar de chata, de gorda, de monstra”, conta a menina.
“Pretendo marcar com pais dessas crianças que fazem isso com minha filha: para pararem que a gente sabe onde isso acaba... Em depressão. Ela não vai querer mais estudar por causa disso. E coisas piores. A gente vê isso na família”, fala a mãe da menina.
“A internet promove uma certa covardia. É público, mas acaba sendo de uma forma, pelas costas, com requinte de maldade. Hoje crimes tipificáveis pelo Código Penal Brasileiro tem sido o de difamação, que seria você expor a honra, a imagem de uma pessoa pela internet, e esse crime pode estar associado a outros: incitação ao crime, por exemplo, a ameaça. Se decidir ir para justiça tem prova para punir essas pessoas”, completa  a advogada.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Psicopatiza-te! Aprenda as delícias de ser um Psicopata

Publicado por Fátima Burégio

Uma capacidade brilhante dos psicopatas é o domínio sobre o stress, pois quanto mais complexa a situação, mais frios, focados, obstinados e serenos eles se mantêm.

Frieza, indiferença ante o stress, capacidade de liderar em meios às não poucas adversidades e manter-se sereno: eis algumas características comportamentais que torna, quiçá, vantajoso e interessante ser um psicopata.
Leiam a intrigante e impactante matéria de autoria do Dr. Atahualpa Fernandez publicado no sítio Jus Navigandi.
Kevin Dutton é psicólogo, investigador e membro honorário do Calleva Research Center for Evolution and Human Sciences, Magdalen College, University of Oxford[1]. É autor de um livro sobre psicopatas titulado “The Wisdom of Psychopaths: What saints, spies and serial killers can teach us about success”. A tese de Dutton é que ser um psicopata, alguém que carece de empatia, compaixão e autoconsciência que bloqueiam a gente ordinária, não é tão mau como parece[2].
Os psicopatas não têm medo, são encantadores, capazes de centrar-se ou focalizar-se de forma extraordinária no que lhes interessa, são frios e dispõem de uma capacidade de tomar decisões em situações de alta pressão onde os demais se derrubam. De fato, uma característica na que brilham os psicopatas é a capacidade para tolerar o stress. Quanto mais complicada a situação, mais frios se mantêm os psicopatas. Também são muito bons percebendo as expressões faciais, reconhecendo as emoções e lendo a mente das pessoas, o que é logicamente uma vantagem enorme se queres manipular a alguém. Têm uma habilidade maior do normal para dizer se alguém está mentindo ou é emocionalmente vulnerável.
A psicopatia para Dutton é um «espectro», não uma questão de tudo ou nada, e traços psicopáticos são muito comuns em advogados, santos, soldados de forças especiais, empresários de êxito e cirurgiões. Os psicopatas são carismáticos, alegres e divertidos para estar com eles. Em sua companhia sentimos que «tudo é possível». E uma coisa muito importante: Dutton nunca encontrou um psicopata que lamentara ser psicopata.
Segundo Dutton, ao falar de psicopatas pensamos automaticamente em assassinos, mas a maioria dos psicopatas utiliza a violência de um modo instrumental, como um meio para conseguir um fim. Não estão abarrotados de maldade. Curiosamente, é o contrário: têm demasiado de algo «bom». Quer dizer, para Dutton, a psicopatia pode ser boa, ao menos com moderação. A psicopatia é como a luz do sol. Se te expões demasiado a ela, podes apressurar teu próprio fim de uma maneira grotesca e carcinógena. Mas a exposição regulada a uns níveis controlados e ótimos pode ter um impacto significativo e positivo no bem estar e a qualidade de vida.
Dutton etiqueta um conjunto de sete princípios fundamentais da psicopatia que, repartidos com bom critério e aplicados com o devido cuidado e atenção, podem ajudar-nos a conseguir exatamente o que queremos; podem ajudar-nos a «responder», mais que «reagir», aos desafios da vida moderna; podem transformar nossa atitude de vítima na de vencedor, mas sem converter-nos em vilões: i) impassibilidade; ii) encanto; iii) concentração; iv) fortaleza mental; v) intrepidez; vi) atenção plena; vii) ação. Também diz que todos nos beneficiaríamos de cultivar nossos traços «psicopáticos» latentes. Assim que, a próxima vez que te encontres em uma situação difícil, imagina-te o que farias se não tiveras medo: «PSICOPATIZA-TE!»
Para terminar, uma curiosidade: em um de seus artigos Dutton recolhe o extrato de uma entrevista que fez a um psicopata. A entrevista tem lugar na cárcere e em um momento dado o psicopata lhe dá a entender que se uma mulher não quisera ter relações com ele, ele as conseguiria de outra maneira. Dutton recolhe as coisas para ir-se e lhe diz que aprendeu que eles dois estão desenhados de maneira diferente e que por isso o psicopata está dentro da prisão e Dutton fora. A resposta do psicopata dá muito no que pensar:
“Não deixes que te engane teu cérebro, Kev, com todos esses exames que não te deixam ver a realidade. Só há uma diferença entre tu e eu: Eu quero algo e vou atrás, tu queres e não vais atrás”.
“Estás assustado Kev, tens medo. Tens medo de tudo, vejo em teus olhos. Medo das consequências. Medo de que te descubram. Medo do que pensarão. Medo do que te farão quando venham chamar à tua porta. Tens medo de mim”.
“Mira-te. Tens razão, tu estás fora e eu estou aqui dentro. Mas, quem é livre, Kev? Livre de verdade, quero dizer. Tu ou eu? Pensa nisso esta noite. Donde estão os barrotes de verdade Kev? Aí fora? (assinala a janela). Ou aqui dentro? (e se toca a cabeça).”
Bacharelando em Direito

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O terrível mundo dos comentários na internet


Publicado por Fernanda F. 
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O terrvel mundo dos comentrios na internet
"À medida que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou nazismo aproxima-se de 100%." A Lei de Godwin, batizada em homenagem ao advogado americano que decretou isso no longínquo 1990, costuma ser certeira ainda hoje. A ideia contida na sentença diz que discussões digitais tendem a se radicalizar e mudar de foco. Faça o teste. Clique em qualquer notícia na internet e você encontrará postagens extremistas e ofensas gratuitas.
Seu avô já dizia que discutir política, religião e futebol podia dar encrenca. Se esses embates podem ocorrer no bar com amigos, na terra de anônimos da internet a coisa beira a selvageria. No começo de 2014, algumas mulheres criaram páginas no Facebook contra o assédio sexual. Uma causa séria e delicada. Menos para os homens que as ameaçaram de estupro. E a violência não se limita a questões de gênero, é claro. Em junho do ano passado, em uma notícia publicada no portal Exame. Com sobre os países com menores índices de violência, um usuário escreveu: "É muito difícil para algumas pessoas aceitar o fato de que, além de ser bonita e inteligente, a raça branca é a mais evoluída. Não estou cometendo racismo, apenas citando um fato." Há muito lixo na internet.
GARIS DIGITAIS
Durante um mês, mergulhei nesse lodaçal de comentários. Não me fez muito bem. Então imagine como é trabalhar todo dia com isso. É a função dos moderadores, que limpam diariamente blogs e sites do chorume da internet, a fim de remover frases ofensivas. É um trabalho enorme. Só no Facebook, mais de 1,2 bilhão de pessoas compartilham links e opiniões por mês. A moderação desse conteúdo conta com algoritmos que fazem uma filtragem prévia, mas isso é parte do trabalho, que ainda precisa de pessoas. Elas são, em grande parte, estudantes da Ásia, África e América Central que ganham cerca de US$ 4 por hora para ver e limpar conteúdo envolvendo abuso animal, violência, racismo, pedofilia, necrofilia, suicídios e coisas do tipo.
Bruna é uma delas. O nome é fictício porque seu trabalho a torna alvo de radicais da internet. Ela trabalha em uma empresa terceirizada que modera comentários em fóruns, notícias e blogs de empresas de comunicação do Brasil. A regra geral é barrar todo conteúdo ofensivo, com apologia à violência, preconceito, homofobia ou palavrões. "Em redes sociais, os moderadores são obrigados a ver conteúdos que vão de gente mutilada a pedofilia. Em comentários de notícias, o que mais assusta é o preconceito, que é muito forte no Brasil", diz. Se esse preconceito fica mais nítido em páginas na internet do que na fila do mercado, um motivo é claro: o anonimato.
Em 1976, em um clássico estudo da psicologia social, pesquisadores da Universidade de Washington observaram cerca de 1,3 mil crianças na brincadeira de travessuras e gostosuras do Dia das Bruxas. Em 27 casas, elas eram recebidas por um adulto que lhes mostrava dois potes — um com dinheiro, outro com doces. As crianças não deveriam mexer no primeiro e só poderiam pegar um doce cada. Em parte das casas, a anfitriã perguntava nome e endereço de todos. Nas outras, não. Em seguida, saía de cena e deixava a garotada sozinha. O resultado foi o esperado: houve mais trapaça entre crianças em grupo, especialmente quando elas eram anônimas. Quando davam nome e endereço, 20% trapaceavam. Quando não diziam nada, 60% enchiam os bolsos de doces e, às vezes, até de moedas. A conclusão todo moleque que já quebrou vidraça do vizinho sabe. Grupos de anônimos são mais propensos a desrespeitar regras, pois acreditam que sairão impunes.
Essa desindividualização é comum. Parado no trânsito, você já se pegou fazendo coro a outros motoristas dizendo coisas horríveis ao fulano lá na frente que travou um cruzamento? E xingar a mãe do juiz no estádio? Somos um só nessa bagunça, não há um indivíduo definido. Não nos sentimos responsáveis.
A internet é isso, só que pior, porque não há corpo presente e a turba é incrivelmente maior. Assim, o usuário se sente ainda mais impune — e poderoso. E isso fica irresistível na hora de disparar impropérios contra aqueles que têm um ponto de vista diferente. Alguns desses sites e blogs são terreno fértil para a proliferação dos chamados haters, ou, em bom português, odiadores. É o caso do Blog do Sakamoto, do portal UOL. Responsável pela página sobre direitos humanos, o jornalista Leonardo Sakamoto atrai a ira de muitos brasileiros. "Estou acostumado. Sei que esse pessoal está aí para fazer bullying. Mas quem não está preparado pode ter a vida transformada em um inferno", diz. Mesmo assim, após oito anos de blog, ele continua se surpreendendo com as reações aos seus posts. "A ideia nunca foi criar algo polêmico. Mas não sabia que direitos humanos era um tema tão espinhoso no Brasil." Sakamoto não acredita que os comentaristas da internet representem um retrato fiel da população. "Os reacionários são minoria, mas são os mais barulhentos. Acho que muita gente que concorda comigo não comenta. Em blogs que defendem ideias de direita, quem é de esquerda é que pega mais pesado", afirma.
É o que acontece com outro blogueiro famoso por atrair detratores, Rodrigo Constantino, do portal Veja. Com. "A maioria dos que criticam parte para ofensas pessoais, ataques chulos ou repetição automática de slogans marxistas", diz o economista. Personalidades polêmicas na internet costumam atrair haters. Mas todo mundo que posta alguma coisa, seja alguém de extrema direita, de extrema esquerda ou você reclamando do preço da passagem, é sujeito a levar pedradas. É um comportamento típico da internet. Odiadores odiarão, sentença que é mais conhecida no inglês: haters gonna hate.
POÇO DE ÓDIO
Os psicólogos Justin Hepler e Dolores Albarracín, das universidades americanas de Illinois e da Pensilvânia, respectivamente, publicaram um estudo em 2013 que ajuda a explicar o ódio online. Eles pediram para voluntários indicarem, em uma escala, como se sentiam em relação a estímulos variados. O resultado dividiu as pessoas em dois grupos: abertas ao desconhecido e fechadas. O primeiro grupo tende a ser mais curioso. O segundo não gosta de nada. Isso cria um padrão de comportamento em que o que é avaliado é menos importante do que quem avalia. Os haters pertencem ao segundo grupo, pois odeiam o desconhecido — que permanece desconhecido por causa de outro fenômeno, o viés de confirmação. Esse conceito da psicologia cognitiva diz que tendemos a ignorar ou desprezar fatos que contradigam algo em que acreditamos.
Outro estudo, da Universidade do Estado de Ohio, mostrou que as pessoas passam 36% mais tempo lendo um texto se ele se alinha com sua opinião. "Você fica tão confiante na sua visão de mundo que ninguém consegue dissuadi-lo", explica o jornalista americano David McCraney no livro "Você Não é Tão Esperto Quanto Pensa". O conformismo de bater nas mesmas teclas alimenta o medo de absorver ideias novas — e vice-versa. No anonimato da internet, esse é o combustível para comentários inflamados de ódio e a razão da existência e proliferação dos haters. Para piorar, isso sustenta outra praga da internet: as teorias da conspiração. Se você procurar no Google apenas provas de que o homem não foi à Lua, vai encontrar várias — e se sentir aliviado por achar que está certo.
Mas e quando o anonimato recua e as pessoas mostram a cara? Uma TV americana, em parceria com a Universidade do Texas, fez o seguinte estudo: por 70 dias, ela lidou com 2,5 mil comentários postados em sua página no Facebook de diversas maneiras. Algumas vezes, um repórter famoso do canal interagia com as pessoas. Em outras, o perfil oficial da emissora respondia. Quando o repórter comentava, houve 15% menos insultos do que nos tópicos sem interação. O estudo concluiu que quando o lado de lá participa, como, por exemplo, ao elogiar comentários que acrescentam algo à discussão, as pessoas veem que atitudes têm consequências e que a internet, no fim das contas, é feita de pessoas.
Só que tem um problema: existem pessoas e pessoas. E algumas delas são trolls.
POR TRÁS DA TROLLAGEM
Os trolls apareceram na rede de fóruns Usenet nos anos 80. O termo vem da expressão trolling for suckers. Trolling é uma técnica de pesca em que linhas com iscas são deixadas na água e arrastadas a partir de um barco em movimento, à espera de peixes que as abocanhem. É isso o que o troll faz na internet: provocar e esperar alguém que se irrite. Hoje, o termo abrange diversos tipos de comportamento. Para a moderadora Bruna, o pior é aquele que conhece os limites do que pode ser publicado. Não ofende ninguém, mas é campeão de discórdia. "Eles entram numa notícia de uma celebridade só para falar mal dela e irritar os fãs. Você não pode chutá-los porque estão dentro das regras, mas muita gente se revolta e perde a linha — e no final elas acabam bloqueadas."
Tom Postmes, professor das universidades de Exeter (Inglaterra) e Groningen (Holanda), pesquisa o comportamento online das pessoas há 20 anos e notou que o estilo troll está cada vez mais bem definido. "Eles querem promover emoções antipáticas de nojo e indignação", diz. Segundo um estudo de 2013 do Centro de Pesquisa em Comunidades Online e Sistemas de E-Learning do Parlamento Europeu, na Bélgica, trolls têm muitas características em comum com pessoas que sofrem de um transtorno de personalidade antissocial. A causa seriam problemas de autoconfiança.
A internet é uma adolescente. Ela existe há 44 anos, mas começou a fazer parte da nossa vida para valer há no máximo 20. Então, estamos todos amadurecendo nosso comportamento. Lembra seus primeiros posts no Orkut, em blogs antigos ou logo que entrou no Facebook? Bateu uma vergonha? É normal. A web cresce assim. Aos poucos, a noção falsa de que há uma fronteira entre comportamento online e offline enfraquece. A internet não é uma terra amoral, onde vale tudo. Ela é uma extensão da sociedade. Para o bem e para o mal.
Por Ana Paula - SUPERINTERESSANTE

3 maneiras de melhorar sua memória comprovadas pela ciência

Uma pesquisa feita em 2013 mostrou que jovens adultos (com idades entre 18 e 34 anos) têm mais dificuldade do que pessoas com mais de 55 anos de lembrar de datas (15% vs. 7%), onde guardam as chaves (14% vs 8%), de fazer o almoço (9% vs 3%) e até de tomar banho (6% vs 2%).
Você acha que se encaixaria nessas estatísticas? Está se sentindo esquecido? Vale testar as dicas que separamos, baseadas na ciência, para recuperar o controle sobre sua memória:
1. Associe suas memórias com objetos físicos
Você já deve ter passado por esse problema: acabou de ser apresentado a alguém e, assim que a pessoa vira as costas, você já esqueceu o nome dela. Acontece - mas é extremamente embaraçoso precisar perguntar o nome dela novamente. A dica é associar o nome a algum objeto. Por exemplo, se você acabou de conhecer a Giovana e ela estava próxima de uma janela, pense nela como a Giovana da Janela. Parece um truque estúpido, mas funciona. E, claro, não só para nomes de pessoas, mas para qualquer coisa: relatórios, documentos, marcas. Associando conceitos a objetos fica mais fácil de lembrar. E, claro, quanto mais absurdas forem as associações mais fácil é lembrar delas.
2. Não memorize apenas por repetição
Ao ver ou participar de apresentações você deve ter sentido isso - é muito claro quando alguém apenas decorou o que devia falar. Mas basta acontecer alguma mudança no roteiro ou um 'branco' para que a pessoa se perca. Memorizar algo de fato depende de compreensão. Então, ao pensar em falas e apresentações, tente entender o conceito todo ao redor do que você está falando. Pesquisas mostram que apenas a repetição automática pode até impedir que você entenda o que está expondo.
3. Rabisque!
Estudos indicam que rabiscar enquanto 'ingerimos' informações não visuais (em aulas, por exemplo) aumenta a capacidade de nossa memória. Uma pesquisa de 2009 mostrou que pessoas que rabiscavam enquanto ouviam uma lista de nomes lembravam 29% a mais dos nomes ditos. Da próxima vez que for a uma palestra, leve uma caneta e bloquinho e rabisque!
Via The Muse

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O poder da empatia revisitado

Sociólogo, curador de conhecimento e fundador do site Pitacodemia

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Um tema ou assunto que costumo ouvir e ver muito nos meios na atualidade é empatia. Sim, a coisa, grosso modo falando, de se conectar com o outro. Entender a dor do outro, sentir e estar em conexão. Conexão. Tudo que fazemos hoje, #sóquenão!
Cada vez mais as pessoas estão desconectadas acerca do que estão falando. Isso tem a ver (tudo grosso modo...as coisas são bem mais complexas né...) com o ímpeto e o desejo de falarmos somente sobre nós mesmos para nós mesmos, e de acordo com nós mesmos. Isso não é de todo ruim, se pensarmos que algumas pessoas poderiam ganhar visibilidade, poderiam estar "finalmente" no spot: sendo ouvida, reconhecida, compreendida. Hummm.. Not.
O que vemos é uma sucessão de palcos do eu-isolado, que, conforme sua história, suas vontades e suas regras, liga o megafone (potencializado lindamente nas redes sociais) e desliga o fone de ouvido para não ouvir o que não é eu. O "outro"? Que "outro" que não minha audiência?
Nesse processo perdemos muito com algo bem sério: o outro, de fato. Vozes minoritárias, historicamente negadas de privilégio e prestígio, de lugar e reconhecimento, são silenciadas nessa verve por apenas falar e ouvir o que nós queremos.
"- Ué, mas não tem acesso?" Do que adianta acesso a voz sem ninguém está realmente escutando?
Nesse sentido, um pensamento surge: por que não fazemos o exercício de aplicação da empatia? Por que não tomamos esse conceito em sua real aplicação e não apenas como uma dica abstrata em manuais de auto ajuda?
Em uma breve fala, a pesquisadora norte-americana Brene Brown nos ensina sobre empatia, e como ela seria diferente (e mais interessante) do que é simpatia. Simpatia é não conseguir ver a dor do alheia, tentando tornar positivo (e forçar a barra) sobre problemas que nem estamos tentando compreender. Empatia, por outro lado, se refere ao processo de se conectar com o outro, envolvendo basicamente 4 processos de aproximação: (a) entendimento de perspectiva, (b) reconhecimento da perspectiva do outro como verdade, (c) não julga-las, e (d) reconhecer emoção em outras pessoas, comunicando isso.
O que gostaria de propor é que começássemos a (tentar) colocar em prática a empatia como processo real, concreto, de interação com o outro. Nesse processo ouvimos, escutamos para aprender, e sentimos, no máximo, a dor (ou problema) colocado pelo outro. E não julgamos ou (como tem sido frequente nas questões de desigualdade como raça, gênero e sexualidade) contra-atacamos, se dizendo "vítimas de algo contra-que-não-existe".
Ouvir, escutar. Reconhecer a dor do outro, e a verdade colocada naquela dor, no que outro está sentindo. El@ está falando. Escute. Escute o que @s negr@s estão falando sobre racismo. Escute o que as mulheres estão falando machismo, e o valor do feminismo para lutar contra. Escute o que gays, lésbicas, transexuais e travestis estão falando sobre homofobia e transfobia. Em suma, escute as vozes que, por anos e anos, foram alijadas de representatividade e reconhecimento. São vozes que representam a luta para superação e quebra de privilégios, de desigualdades.
Não é tarefa fácil e muitas vezes é cheia de dores e ouvimos coisas que não gostaríamos de escutar. Empatia é uma escolha de vulnerabilidade. E, nessa escolha, ouvir e entender o lugar do Outro é revolucionário e transformador a partir do momento em que se demonstra ser um caminho viável para quebra de privilégios e silenciamentos, sem "simpatia" ou visão de pena. Simpatia não quebra privilégios, mas sim (consciente ou inconscientemente) os reproduz.
Com a empatia, estabelecemos uma conexão, que vê no outro (uso repetidas vezes esse termo de propósito) alguém a se considerar, escutar e respeitar. No limite, vê nas questões do outro pontos que tangenciam (e acredite: sempre tangencia!) a sua própria vida, sua própria realidade - e de uma maneira que você nunca teria pensado sobre. E talvez, finalmente, possibilita o que todas as pessoas na atualidade sinalizam "querer fazer": se conectar. Só que de verdade.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

É preciso educar os educadores?

"Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo." - Entrevista com Edgar Morin.


O Globo: Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação? 
Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado. É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.
O Globo: Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?
Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.
O Globo: O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento?
Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar. Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo.
Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O meu livro “O homem e a morte” é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.
O Globo: Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional?Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente.
O Globo: A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê?
Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário.
Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência dessa missão.
Fonte: O Globo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Viver mais...


Depois de olhar, andar por diversos países, viver e sentir, estou definitivamente convencido: a cidade - seja ela qual for - tem que ser 'para as pessoas', e não para os carros. 
É preciso mais espaços para o verde, para caminhadas. Para o lazer e a cultura. Para apreciarmos simples momentos ao lado de quem gostamos, ou vermos com outros olhos belezas que passam batidas no atropelo do dia-a-dia. Isso é qualidade de vida. Em regra, trabalhamos muito, e vivemos pouco.

Chega a ser estúpido o que acontece em minha cidade, no estado ou no país, onde o 'bonito' é entrar no carro, acelerar, buzinar e resmungar - culpando seja quem for pela 'demora' em chegarmos aonde quer que seja.

A mudança cultural, por certo, será delicada. Afinal, alterações que mexem com nossa 'zona de conforto' são, invariavelmente, traumáticas. 

Planejar (etapas e garantir o recurso devido) é fundamental - incluindo neste processo novos modais, um transporte público barato e eficiente, além de espaços que conservem o passado, valorizem o meio ambiente e abram caminho para o futuro. 

Pode ser sonho, mas estou convencido de que é possível. Mais do que isso, é necessário.

Vamos ver no que vai dar.