Publicado por Fátima Burégio
Uma capacidade brilhante dos psicopatas é o domínio sobre o stress, pois quanto mais complexa a situação, mais frios, focados, obstinados e serenos eles se mantêm.
Frieza, indiferença ante o stress, capacidade de liderar em meios às não poucas adversidades e manter-se sereno: eis algumas características comportamentais que torna, quiçá, vantajoso e interessante ser um psicopata.
Leiam a intrigante e impactante matéria de autoria do Dr. Atahualpa Fernandez publicado no sítio Jus Navigandi.
Kevin Dutton é psicólogo, investigador e membro honorário do Calleva Research Center for Evolution and Human Sciences, Magdalen College, University of Oxford[1]. É autor de um livro sobre psicopatas titulado “The Wisdom of Psychopaths: What saints, spies and serial killers can teach us about success”. A tese de Dutton é que ser um psicopata, alguém que carece de empatia, compaixão e autoconsciência que bloqueiam a gente ordinária, não é tão mau como parece[2].
Os psicopatas não têm medo, são encantadores, capazes de centrar-se ou focalizar-se de forma extraordinária no que lhes interessa, são frios e dispõem de uma capacidade de tomar decisões em situações de alta pressão onde os demais se derrubam. De fato, uma característica na que brilham os psicopatas é a capacidade para tolerar o stress. Quanto mais complicada a situação, mais frios se mantêm os psicopatas. Também são muito bons percebendo as expressões faciais, reconhecendo as emoções e lendo a mente das pessoas, o que é logicamente uma vantagem enorme se queres manipular a alguém. Têm uma habilidade maior do normal para dizer se alguém está mentindo ou é emocionalmente vulnerável.
A psicopatia para Dutton é um «espectro», não uma questão de tudo ou nada, e traços psicopáticos são muito comuns em advogados, santos, soldados de forças especiais, empresários de êxito e cirurgiões. Os psicopatas são carismáticos, alegres e divertidos para estar com eles. Em sua companhia sentimos que «tudo é possível». E uma coisa muito importante: Dutton nunca encontrou um psicopata que lamentara ser psicopata.
Segundo Dutton, ao falar de psicopatas pensamos automaticamente em assassinos, mas a maioria dos psicopatas utiliza a violência de um modo instrumental, como um meio para conseguir um fim. Não estão abarrotados de maldade. Curiosamente, é o contrário: têm demasiado de algo «bom». Quer dizer, para Dutton, a psicopatia pode ser boa, ao menos com moderação. A psicopatia é como a luz do sol. Se te expões demasiado a ela, podes apressurar teu próprio fim de uma maneira grotesca e carcinógena. Mas a exposição regulada a uns níveis controlados e ótimos pode ter um impacto significativo e positivo no bem estar e a qualidade de vida.
Dutton etiqueta um conjunto de sete princípios fundamentais da psicopatia que, repartidos com bom critério e aplicados com o devido cuidado e atenção, podem ajudar-nos a conseguir exatamente o que queremos; podem ajudar-nos a «responder», mais que «reagir», aos desafios da vida moderna; podem transformar nossa atitude de vítima na de vencedor, mas sem converter-nos em vilões: i) impassibilidade; ii) encanto; iii) concentração; iv) fortaleza mental; v) intrepidez; vi) atenção plena; vii) ação. Também diz que todos nos beneficiaríamos de cultivar nossos traços «psicopáticos» latentes. Assim que, a próxima vez que te encontres em uma situação difícil, imagina-te o que farias se não tiveras medo: «PSICOPATIZA-TE!»
Para terminar, uma curiosidade: em um de seus artigos Dutton recolhe o extrato de uma entrevista que fez a um psicopata. A entrevista tem lugar na cárcere e em um momento dado o psicopata lhe dá a entender que se uma mulher não quisera ter relações com ele, ele as conseguiria de outra maneira. Dutton recolhe as coisas para ir-se e lhe diz que aprendeu que eles dois estão desenhados de maneira diferente e que por isso o psicopata está dentro da prisão e Dutton fora. A resposta do psicopata dá muito no que pensar:
“Não deixes que te engane teu cérebro, Kev, com todos esses exames que não te deixam ver a realidade. Só há uma diferença entre tu e eu: Eu quero algo e vou atrás, tu queres e não vais atrás”.“Estás assustado Kev, tens medo. Tens medo de tudo, vejo em teus olhos. Medo das consequências. Medo de que te descubram. Medo do que pensarão. Medo do que te farão quando venham chamar à tua porta. Tens medo de mim”.“Mira-te. Tens razão, tu estás fora e eu estou aqui dentro. Mas, quem é livre, Kev? Livre de verdade, quero dizer. Tu ou eu? Pensa nisso esta noite. Donde estão os barrotes de verdade Kev? Aí fora? (assinala a janela). Ou aqui dentro? (e se toca a cabeça).”
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