ALIANÇAS I
É tão frequente a seta de Cupido
atravessando corações convencionais,
desprovidos de veias, nada mais
que um contorno apenas concebido;
por muita gente em deboche percebido
como nádegas bem pouco espirituais,
essa flecha sugerindo atos sexuais,
em malicioso amor reconhecido.
Não existem artérias nesse esboço,
somente velas vermelhas em tal barco,
sob a música do vento, em intenções
de prender duas vidas num retoço
e o deus ceguinho vai passando o arco
num violino de dois corações...
ALIANÇAS II
Como esse anel que nos dedos é enfiado,
eterno círculo de amor e romantismo,
fidelidade expressada em seu modismo,
num simbolismo claro e descarado
de como o corpo da mulher, alçado,
o homem prende em laço e naturismo,
prisão inconsequente em saudosismo:
ninguém esqueça que já foi caçado!...
E nesse esfíncter de ouro vaginal
fica selado o orgasmo peniano
(ou, pelo menos, existe essa esperança...)
se bem que hoje até pareça natural
desprezar o matrimônio, sem engano,
simplesmente por questões de segurança!
ALIANÇAS III
E nem sequer se pensa em confissão;
como sinal de inteligência é proclamado:
“muito melhor pegar homem casado,
porque se cuida mais em sua traição!”
Quanto o solteiro é descuidado em cada ação,
nenhum convite poderá ser recusado,
para evitar depois ser acusado
de preferir a masculina comunhão!...
Assim as nádegas do “cúpido Cupido”
mostram de fato o vero simbolismo
e a flecha as corta num empalamento;
sem as cordas das veias, emudecido
o violino em inerme sinfonismo,
nesse perímetro vermelho de um momento.
William Lagos
William Lagos
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