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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O LEÃO E O SENADOR



<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER 

 JUREMIR MACHADO DA SILVA

Aconteceu, em Palomas, um diálogo entre um senador e o leão da Receita Federal. 
Foi algo digno de reflexão. O leão praticava a maiêutica socrática.
O senador esgrimia a "dialética da malandragem". 
Um duelo com precedentes.

- Você me deve - disse o leão.

- Não nego, mas não posso pagar.

- Você não me pagou, nos últimos dez anos, nada sobre o décimo quarto e o décimo
quinto salários. Precisa pagar.

- Aí é que está o erro.

- Não ter recolhido o imposto, senador?

- Receber décimo quarto e décimo quinto. Precisamos mudar isso com urgência. 
É um privilégio que ofende a Nação.

- Enquanto isso, senador, o senhor precisa me pagar.

- O erro foi seu, caro leão. Foi da receita.

- Mas o benefício foi do senhor.

- Não posso pagar por um erro que não cometi. Além disso, a Câmara, diante do 
mesmo fato, já pagou pelos deputados.

- O senhor quer ter o mesmo privilégio?

- Não é justo tratar deputados e senadores diferentemente. Isso cria um privilégio 
insuportável. Creio que estamos diante de um caso que exige isonomia.

- Isonomia no privilégio? O senhor recebeu indevidamente, embolsou e quer que o 
contribuinte pague a sua conta?

- Se a Justiça mandar, se decidir, eu pago.

- A sua consciência não lhe serve de justiça?

- A Justiça é soberana. O Ministério Público pode e deve agir. Ninguém, contudo, 
pode tomar o lugar da Justiça.

- Se o Senado pagar, senador, não haverá pagamento. Será apenas transferência 
nominal de recursos, passagem de dinheiro de um bolso do Tesouro Nacional para 
outro. Se me permite, será um engodo, uma anulação da dívida.

- É um ponto de vista. Na democracia, todos os pontos de vista devem ser ouvidos. 
Depois, a Justiça decide.

- Caro senador, data vênia, tentarei ser mais claro: o senhor está tergiversando, 
sofismando, protelando...

- Como?

- Enrolando.

- Não tenho como pagar agora.

- Parcele em 60 vezes. Ou use o 14 e do 15 deste ano.

- Não é justo fazer isso.

- O senhor não é contra receber 14 e 15?

- Mas é legal. Tenho contas a pagar, compromissos...

- Isso vai afetar a imagem dos políticos.

- Sei, por isso precisamos acabar com o 14 e o 15.

- O senhor é senador ou sonegador?

- Exijo respeito.

- Eu também exijo respeito, como arrecadador e eleitor. Se não pagar, não terá o meu
voto na próxima eleição.

Só em Palomas mesmo.

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