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sexta-feira, 6 de abril de 2012

REPROVAÇÃO DO ENSINO MÉDIO

Danilo Gandin, Professor, escritor e conferencista - ZERO HORA 29/03/2012

Há situações que se repetem periodicamente. Muitas vezes não quer dizer que desapareçam em algum momento, mas sim que, por entrarem na mídia, nos pareça que existam e, por dela saírem, sintamos como se tivessem sumido.

Um exemplo é a reprovação no Ensino Médio de que tanto se fala agora, que sempre esteve conosco e que “ninguém sabia que existia”.

Lembro-me de que, quando fui, há mais de 30 anos, diretor adjunto do Departamento de Educação Média da Secretaria de Educação do Estado, aconteceu algo igual ao que hoje é tonitruante: a notícia de que o Ensino Médio reprovava muitos alunos, além do que seria razoável. O então secretário de Educação do Estado acabou com o problema em três dias: constituiu uma comissão para apresentar, em 90 dias, soluções para diminuir a repetência. Obviamente, ninguém mais falou no assunto porque “o problema estava sendo solucionado” e porque, depois de 90 dias, o relatório da comissão foi para a gaveta e todos esqueceram que a comissão existira.

A comissão, da qual eu fiz parte, embatucou na primeira semana de trabalho. Conseguimos imediatamente mais dados do que os que necessitávamos; entre eles, a matrícula e a reprovação em cada série, de cada escola do Estado. Primeiro tropeço: havia escolas que não reprovavam ninguém e outras que o faziam com 60% dos seus alunos. Nós não conseguimos decidir quais eram as melhores. Minha proposta de que julgássemos melhores as que reprovavam menos foi rejeitada, sem apelação, em cinco minutos. Mas a todos repugnou, também, a ideia de que aquelas que reprovam muito fossem boas escolas. Segundo tropeço (ou é o mesmo?): saber onde se está só tem sentido se se sabe para onde se quer ir. Nossa pobre comissão, embora composta de grandes educadores que, individual- mente, tinham clarezas e convicções, não conseguiu produzir um pensamento grupal que pudesse servir como referencial para o então ensino de segundo grau. Um dos grandes motivos para que não conseguíssemos isto foi, aliás, o fato de que sabíamos que não nos seria permitido fugir do senso comum social de que a reprovação é coisa boa.

Quero, então, mesmo que apoiado mais na idade do que na inteligência, fazer duas observações sobre a atual crítica às escolas que reprovam.

A primeira, embora eu tenha que enunciá-la com uma boa pitada de ironia, é que valeria a pena uma pesquisa para dirimir a seguinte dúvida: é motivo de orgulho ou de tristeza, para os gaúchos, terem as escolas de Ensino Médio que mais reprovam? Talvez esteja a população pensando que, se reprovamos mais, somos os que mais levam a sério a escola e os que têm os jovens mais preparados.

A segunda é, mais, uma advertência: de modo algum adianta debater as causas da reprovação em qualquer grau de ensino se não houver um compromisso de examinar questões conexas e, mais do que isto, a decisão de introduzir as mudanças que a realidade exige. A reprovação é o que aparece; suas causas são a pobreza curricular – algum saber formal sobre algumas pouquíssimas disciplinas –, o professor falando o tempo todo, o uso da nota para castigo, o vestibular como meta, o livro didático fastidioso, a própria disciplinaridade do ensino...

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