Redes sociais expõem conduta de políticos. Formais na tribuna, os políticos se soltam nas redes sociais. A liberdade, a informalidade e a facilidade de comunicação do Twitter revelam uma faceta pouco conhecida da população.PAULO GERMANO, zero hora 01/04/2012
Experimente procurar no Twitter o prefeito, o vereador ou o deputado em que você votou. É provável que ele esteja lá – e é provável que outra faceta dele surja estampada sob aquele passarinho azul.
Popular o suficiente para qualquer pessoa acessá-lo, mas ainda com baixa penetração se comparado ao rádio e à TV, o Twitter mantém uma particularidade: não exige terno e gravata nem discurso decorado. Essa espontaneidade, claro, pode servir para o bem ou para o mal.
– Cada vez mais os políticos aderem ao Twitter para atingir um novo público. Mas ainda acreditam que o impacto de suas declarações será pequeno. Por isso, muitas vezes se expressam de maneira que, em outras circunstâncias, evitariam – diz a professora Maria do Socorro Braga, especialista em comunicação política da Universidade de São Carlos.
Ela ressalta que as tuitadas ganham propagação maior quando outros meios de comunicação decidem repercuti-las. Dificilmente o deputado federal Romário (PSB-RJ), por exemplo, chamaria uma pessoa de imbecil e burra se estivesse em frente a câmeras de televisão – no microblog, ele fez. Por outro lado, o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT), encontrou no Twitter um mediador poderoso para corrigir problemas da cidade.
– O cidadão me cobra sobre a lâmpada queimada, o problema de limpeza, a falta d’água. Eu tento resolver tudo – garante.
Ministro xingou assessor do RS
Um episódio recente envolveu um morador que, no microblog, procurou Vanazzi para reclamar do barulho na Avenida Feitoria. Depois que um técnico foi averiguar o caso, a prefeitura iniciou um estudo sobre a instalação de quebra-molas e tachões no local – porque a barulheira decorria de derrapagens de carros em uma curva fechada.
Mas o próprio prefeito também derrapa: a exposição no Twitter mostra um Vanazzi pouco íntimo da língua portuguesa. Erros de ortografia como “enteresses” e “inesplicavel” são escorregões frequentes.
– No começo, me xingaram muito, diziam “seu analfabeto, volta para a escola”. Reconheço que erro bastante, mas vou tentando melhorar – afirma ele.
Em resumo, o microblog até pode beneficiar o político – mas também pode expor seu calcanhar de aquiles. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Vera Chaia ressalta que os assessores se fazem cada vez mais necessários:
– Afinal, o Twitter dá uma nova visibilidade ao homem público. E a visibilidade é uma faca de dois gumes: ou você aparece bem ou você expõe todas as suas fraquezas.
E mesmo os assessores às vezes se atrapalham. Em maio do ano passado, um auxiliar do governador Tarso Genro, ao comentar no Twitter uma notícia de jornal, criticou um suposto cerco do Ministério das Comunicações às rádios comunitárias. Ele nunca imaginou que o ministro Paulo Bernardo, filiado ao mesmo PT de Tarso, lesse suas tuitadas. Levou uma carraspana.
“O senhor faria muito bem se evitasse disseminar informações furadas. (...) Tenha respeito!”, esbravejou Paulo Bernardo em um de seus quatro posts furiosos. O assessor se desculpou.
– No Twitter, nada é segredo. Tudo fica gravado na pedra durante anos. Nem sempre as pessoas têm esta noção – conclui Alessandro Barbosa Lima, sócio-diretor da E.life, empresa especializada em pesquisas em redes sociais.
Ministros têm celulares recolhidos
Ninguém entra em uma audiência com Dilma Rousseff portando celular – a presidente ainda lembra dos tempos de Lula, quando ministros ficavam tuitando em meio a reuniões.
E Dilma acha isso irritante. Portanto, os celulares ficam depositados em escaninhos na porta do gabinete, com um segurança. Os ministros de Dilma têm uma orientação mais rígida: Twitter é para fins profissionais, nada de ficar mandando beijo para filho, comentando jogo de futebol ou simulando gargalhadas.
– Eles são orientados a ser discretos. Esta é a recomendação – diz um assessor do Planalto.
O Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência da República, chegou a lançar alertas para servidores do alto escalão que se empolgavam no Twitter. No caso de Dilma, sua opção foi largar o Twitter depois que se elegeu presidente. Um auxiliar é que atualizava sua conta durante a campanha – sempre escrevendo em primeira pessoa, como se fosse a própria Dilma –, mas após a eleição essa assessoria acabou.
– A presidente nem simpatiza muito com essas coisas. Acha que o cargo deve primar pela formalidade, pelas declarações oficiais – afirma um petista com trânsito no Palácio.
Pouco íntima das redes sociais, Dilma aprendeu a usar o Twitter com o então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, quando era chefe da Casa Civil.
Na época, Padilha – um dos mais jovens ministros de Lula – era alvo da chacota de colegas porque sempre tuitava em reuniões ministeriais. Hoje ministro da Saúde, Padilha só tuíta bem longe de Dilma.
Manual de etiqueta nas redes
- Regra básica: antes de escrever qualquer coisa, pare e pense: você se importaria se o post fosse divulgado no jornal, no rádio ou na TV?
- Periodicidade: evite usar o Twitter apenas durante a campanha eleitoral e abandoná-lo em seguida. Parece que você mentiu que é usuário.
- Vida pessoal: é uma seara delicada. Em alguns casos, pode humanizar o político. Em outros, pode ridicularizá-lo. Fotos com a família são aceitas, mas nunca se exponha bêbado, por exemplo.
- Piadas: melhor passar longe. Boa parte das piadas envolvem minorias, e será fácil tachá-lo de preconceituoso.
- Palavrões: você é uma figura pública. Diria um palavrão na TV?
- Erros de português: se você for o Tiririca (PR-SP) e quiser se expor de forma engraçada, talvez até funcione. Mas não se esqueça que o Tiririca teve uma orientação de marketing por trás.
- Agressividade: uma manifestação ríspida pode ser bem aceita se envolver um problema grave de parte da população. Mesmo assim, faça uma avaliação prévia.
Fonte: Fontes: Alessandro Barbosa Lima, da empresa E.life; Maria do Socorro Braga, da Universidade de São Carlos; e Vera Chaia, da PUC-SP
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