Mentes que visitam

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

CARNAVAL, Tempo de conspiração



“Na ética companheira, o mais importante não é fazer errado, é não ser flagrado.
Falar com a língua presa não é nada, o problema é ter preso o rabo.”
Nelson Motta

Waldo Luís Viana*

         Como se fala de Momo, de bicheiros, escolas de samba, blocos e mulheres nuas no Carnaval. A festa pagã, jovem e bonita como a temperatura de verão, atrai milhões de turistas. Estes, porém, não acostumados a tantos folguedos, se esbaldam, procurando esquecer a seriedade crônica de seus respectivos lugares de origem. Já disseram que o Brasil não é um país sério – pois é!, nossa cultura de faz-de-conta, macunaímica,  tem o condão de por alguns dias decretar a ilusão,  o sorriso e a brincadeira como norma de conduta e nisso somos absolutamente organizados e institucionais.
         No entanto, na obscuridade do recolhimento anônimo e provisório, as elites reúnem-se em lugares ermos, longe da vista despreocupada dos foliões, para simplesmente conspirar. Com eles, o séquito atento e adulador de assessores, sempre atentos, vai se acercando de quem manda para participar dos projetos cavilosos, urdidos longe da mídia, ocupada com os afazeres e as luzes da farra.
         Se inda fosse jornalista – eu que frequentei tantas redações e aprendi  muito com grandes profissionais sem diploma – apostaria em apurar os movimentos surdos dos grandes políticos, empresários e banqueiros. Para onde vão esses senhores, num banho de imersão de completo anonimato? O que discutem à sombra de seus esconderijos?
         Na verdade, existe uma classe dirigente decidida,  que paga certos profissionais para retirá-la das páginas de jornais e revistas e, não querendo realmente aparecer, puxam os cordéis do teatro de fantoches, utilizando-se dos feriados para instruir os ventríloquos políticos. O que acontecerá, então, quando o país voltar a ser sério? Quando a cortina do palco novamente se abrir e virmos, atoleimados, a dimensão do abismo?
         O Brasil prepara-se, celeremente, para não receber a crise européia-americana no colo, porque é orgulhoso exportador de commodities e produtos primários, a preços vis. Nossa desindustrialização interna cresce a olhos vistos, o custo-Brasil está pela hora da morte e os itens diversos de nossa infraestrutura vivem em crise permanente. A sexta economia do mundo é, infelizmente, a 84ª em Índice de Desenvolvimento Humano e não chegou ao cidadão. Nosso crescimento, vítima de um estado hipertrofiado, encobre uma Nação das mais desiguais do planeta...
         Empreiteiros, banqueiros, industriais e políticos, porém, têm o que discutir em seus tabuleiros, trabalhando os cenários da  continuidade do poder. E sabem, muito bem, que a garantia da supremacia depende de atenção e movimentação contínuas. Afinal, é preciso manter o povo sonhando, enganado e convencido através da TV e do futebol, da música caipira e evangélica de que vivemos no melhor dos mundos...
         A política é a estética do engano e a corrupção e o superfaturamento, seus filhos prediletos. O país, suspenso em alienação erótica, torna-se presa fácil desses senhores, oligarcas e plutocratas, com  bocas escancaradas para novas tacadas, no interminável banquete de retaliação do país.
         Ao contrário do que se imagina, eles não descansam no Carnaval. Alinhavam conchavos para o domínio das prefeituras, por exemplo, visando à conquista, logo mais à frente, do pleito real para presidente. Tirando os cânceres, que são lamentáveis probabilidades de percurso – e absolutamente não previsíveis – os personagens já escolheram os perfis, adulando as próprias máscaras. São pierrôs e arlequins no poder, num baile interminável de troca de favores, cargos, comissões e altas negociatas. Idólatras do poder, sem religião, ideologia ou Deus...
         Nesse contexto, sabe-se que o Congresso, onde ficam expostos os deputados e senadores, é um túmulo. Quase todos eles querem  singrar para o Executivo, onde poderão mandar mais e comover as próprias bases eleitorais. Sabem que o que lá se discute não tem a menor repercussão, porque o eleitorado, no período entre eleições, nada espera dos abonados senhores, intérpretes obedientes das classes dominantes. E o povo só os fica assistindo, ressabiado, atrás dos cordões de isolamento!
         A respiração suspensa – qual será a melhor escola de samba? – é substituída ali  por acertos subterrâneos que ninguém vê e jamais serão publicados. No entanto, o que for decidido nesses dias talvez valha para o ano inteiro. Os planos estratégicos são assim construídos, longe do público, e permanecerão secretos, sendo percebidos os seus contornos apenas na medida em que o tempo passe.
         Nem é preciso falar-se em  trilaterais capitalistas, grupos bilderbergs e encontros de espiões. Essas suspeitas tornam-se sempre inviabilizadas por algum professor universitário especialmente escalado para o papel. A mesma coisa acontece com a provável existência dos discos voadores: quem os vê e relata fica desmoralizado, porque o que interessa mesmo é manter a mentalidade dos que acreditam no ....
         O Carnaval é o interlúdio em que a carne vale, antes da Quaresma, período que antigamente servia como recolhimento e respeito, antes da Páscoa. Embora isso não funcione mais, diante das paradas gays e do esmagamento moral das famílias, sabe-se que, pelo menos, as elites mantém o recato do segredo na manutenção do poder.
         No fundo, elas querem certa estabilidade para manter o que está eternamente conquistado, desde as capitanias hereditárias. O problema é que o dinheiro é um sujeito encardido e veloz, que teima em mudar de mãos mafiosas, precisando ser vigiado 24 horas por dia por seus possuidores.
         O dinheiro não aceita desaforo e é erodido pelo tempo, por causa dos juros compostos. Essa realidade é contínua, não é quântica porque tridimensional. Depende do conservadorismo desses senhores, que acham que estão suspensos no ar, protegidos dos movimentos do Universo, só porque têm dinheiro.
         Já dizia nossa grande atriz Elke Maravilha: “tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro.” Pois bem: a elite está a solta, escondida nesse Carnaval e em todos os outros, buscando a manutenção de seus privilégios, tão duramente conquistados.
         Rebola povo – este é o seu papel. Sambe e esqueça o destino. O Carnaval está aí, com suas máscaras e alegrias. E os outros, seus patrões, continuarão mandando, porque aqui a corrupção caminha, desde Pero Vaz...
         Squindô, Squindô..

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(*) - Waldo Luís Viana, 52, é escritor, economista e jornalista. 

Formou-se em Economia pela Universidade Gama Filho, mas, desde cedo, sua vocação o conduziu ao jornalismo e ao assessoramento de alto nível de parlamentares, cientistas, professores universitários, mestrandos e doutorandos em suas diversificadas necessidades corporativas e acadêmicas

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

EUROPA : PREVISÕES - Comentários de um chinês!


Opinião de um professor chinês de economia, sobre a Europa - o Prof. Kuing Yamang, que viveu em França.



1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir.

O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros.

Mas , ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar.

Só três coisas lhes interessam: lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV!

Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos ...

2. Os seus industriais deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada.

3. Portanto endividam-se, vivem a crédito.


Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.

4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo.


Votam orçamentos sempre deficitários.

Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.

5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes.


A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal.

É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.

6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um.


Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas.

É uma inversão de valores.

7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação.


A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do... da China!

8. Dentro de uma ou duas gerações, 'nós' (chineses) iremos ultrapassá-los.


Eles tornar-se-ão os nossos pobres.

Dar-lhes-emos sacos de arroz...

9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve.


Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um
desempregado...

10. (Os europeus) vão diretos a um muro e a alta velocidade...


O Brasil que se cuide pois estamos com políticas semelhantes às da Europa.



Vital para a felicidade.



Arnaldo Jabor ( 1940 - ) - cineasta, livre pensador e prova viva de que ainda há vida inteligente no País dos Petralhas.

Caríssimos
O holocausto de Santa Maria, ao contrário do que apregoam os babacas da subjetividade, não foi a vitória do Imprevisto sobre a Previsibilidade, nem a derrota da Precaução pelo Infortúnio.
Foi, sim, a sobreposição da Idiotice sobre o Bom Senso e o triunfo da Ganância sobre a Burocracia.

Primeiro, a Idiotice se fez carne e habitou entre nós. Uma das tarefas mais simples de ser realizada é disseminar a Idiotice.
Se vocês, caros putzeiros, olharem ao redor verão exemplos disso em cada esquina, em cada discurso de político, em cada propaganda de cosmético. Já assistiram um desfile de moda?
São mulheres anoréxicas caminhando feito saracuras sequeladas de AVC, vestindo roupas desenhadas por bichas loucas que não seriam usadas nem por outras bichas mais loucas. Já viram o tal carnaval baiano? São milhares de retardados perseguindo, em ruas apinhadas de seus pares, caminhões carregados de pagodeiros ou seja lá quem forem, distribuindo milhares de decibéis, todos com o único objetivo de ficar bêbados o mais cedo possível e depois da ressaca dizerem que foi o carnaval mais arretado do milênio. Igual a espetáculo de rock: mais milhares de idiotas movidos a canabis e outras cositas, pulando feito jumentos com buscapés nos rabos, ao som de uma cacofonia infernal produzida por seis ou sete dementes com o uso de quatro acordes, que eles têm o desplante de chamar de música. Todo esse conjunto de estupidezes tem um único objetivo: convencer as pessoas que o que é moda é o melhor para elas, e que ’’estar por dentro’’ é suprema felicidade, enquanto eles, os promotores da estupidez, forram a guaiaca com a grana dos felizes consumidores.

E aí chegamos nas baladas. Originariamente, nos séculos XIV e XV, a palavra referia-se a uma obra musical de um só movimento, na qual uma voz aguda se destacava e duas outras vozes mais graves faziam as vezes de instrumentos musicais, quando não os havia. No Classicismo eram narrativas folclóricas arranjadas em composições.
No Romantismo, Chopin chamou de baladas quatro de suas peças para piano e foi o primeiro a usar o termo para obras exclusivamente instrumentais, no que foi posteriormente seguido por Brahms, Grieg Liszt e Fauré. No século XXI, a balada sofreu uma metamorfose, e de expressão puramente artística, passou a designar uma espécie de reunião social hebefrênica, onde ninguém se conhece muito, mas todos usufruem do que de pior a espécie humana produziu em termos de entretenimento. A balada contemporânea não é apresentada em ambiente de câmara, mas numa edificação chamada boate ou casa noturna, construída segundo os mais modernos conceitos de insalubridade. Normalmente as paredes são pintadas de negro, dando o clima dark, apreciado por onze entre cada dez freqüentadores descerebrados. Embora a lei proíba o uso de cigarros e assemelhados no seu interior, ambos são consumidos, na proporção de dez assemelhados para cada cigarro. Caramelos contendo anfetaminas, ecstasy e outros estupefacientes são oferecidos à clientela. Para evitar as reclamações da vizinhança pelo ruído produzido, as paredes são forradas de espuma de borracha sintética recobertas de papelão, tudo altamente inflamável, como se recomenda a um bom inferninho.

Luz, há pouca. Apenas canhões de laser e alguns spots coloridos, alternando-se com flashes como os de fotografia, que disparam continuamente, de modo a ninguém perceber pela visão o que se passa a um metro do próprio nariz. Às vezes, para delírio de todos, o contínuo espocar dos flashes dispara um gatilho neurológico provocando uma convulsão epiléptica num dos baladeiros. Um outro artefato chamado Sputnik é responsável por uma imitação de fogo de artifício, produzindo faíscas altamente recomendáveis num ambiente inflamável. O tal Sputnik é uma espécie de morteiro que dispara acionado por uma faísca elétrica uma mistura de pólvora com areia refratária, atingindo a temperatura de até 3.000 graus centígrados. Levem em consideração que a platina funde a 1.750 graus e o carbono a 3.485, e verão a potência destrutiva do artefato usado por brincadeirinha.

O encarregado do barulho é um profissional altamente valorizado, conhecido pelas iniciais DJ. Nenhum dos freqüentadores sabe o
Significado da sigla, mas todos sabem a função do DJ – produzir decibéis em quantidades amazônicas, de modo a saturar a audição dos prezados freqüentadores e impedir qualquer tentativa de comunicação através da palavra. No mister de fazer barulho, conjuntos pseudo-musicais chamados bandas apresentam-se quando o DJ vai esvaziar o joelho ou descolar um baseado nas coxias. Como sói acontecer, tais bandas escondem sua absoluta falta de talento entoando a milhão músicas que ofenderiam a inteligência de uma marmota com tumor cerebral e apresentando efeitos luminosos e pirotécnicos que desviam a atenção de sua infeliz parafernália cacofônica.

A segurança dos inferninhos é feita por uns caras enormes, vestidos de preto, alguns usando óculos de sol às três da matina. São ex-policiais normalmente expulsos das corporações, ex-presidiários ou lutadores de qualquer coisa. Sua função é a segurança, quer dizer, é segurar os consumidores que pretendem escafeder-se sem pagar a conta (que aqui chamam de comanda). Por isso, as casas noturnas tem uma só saída, que é também a entrada, quando todas as legislações municipais obrigam a existência de saídas de emergência. Algumas chegam a ter uma sala para onde os fujões são levados e obrigados a pagar a conta na base da porrada ou coisa pior.

Proprietários de casas noturnas são uns caras da pior espécie. Como os banqueiros (de banco ou de bicho), seu negócio é ganhar dinheiro fácil e rápido, o que significa investir pouco e aplicar na bolsa (na bolsa dos outros, é claro). Investir pouco quer dizer pagar barato por materiais de terceira categoria e burlar ou comprar a fiscalização. Por isso, o revestimento da Kiss era de papelão e espuma de poliuretano, muitíssimo mais barato, por exemplo, do que o isolamento termoacústico não inflamável baseado em nanotecnologia. E revisar periodicamente os extintores de incêndio, nem pensar. Assim, a Ganância triunfou sobre a Burocracia. A espuma de poliuretano, quando queimada, libera uma mistura letal de cianetos, ácido clorídrico e monóxido de carbono. Nem os executores de Auschwitz fariam melhor.

A mesma ganância impulsiona os donos dessas arapucas a admitirem a entrada de quantas pessoas couberem no recinto. No caso da Kiss, a boate tinha uma área de 615 m2. E, segundo as estimativas havia no seu interior entre 1.500 e 2.000 pessoas. Façam a conta, por baixo:
615:1500 = 0,41, ou seja, cada pessoa dispunha de 0,41m2 para “divertir-se”. Quer dizer um quadrado de 64 cm de lado!!! Se fossem 2.000 pessoas, o quadrado baixaria para 55 cm de lado.

Longe de mim criminalizar as vítimas, mas, pelas barbas do Profeta, o que leva alguém a freqüentar um lugar onde dispõe de menos de meio metro quadrado, no escuro, sem poder falar, ter a audição lesionada por decibéis incontáveis, sem saída de emergência, respirando ar viciado e pagando 15 reais pela vagabunda e quente cerveja nacional?

A consumação da tragédia deu-se por mais um ato de idiotice sem precedentes: acender um sinalizador num ambiente fechado. O resultado final foi o que se viu.

Na contramão da tragédia, a petezada não se fartou de faturar. Dilma veio ao Rio Grande com a respectiva comitiva de sicofantas e apaniguados e exigiu “providências urgentes” no atendimento aos feridos. Imediatamente apareceram como por milagre respiradores, oxigenadores, médicos, enfermeiros, leitos hospitalares e tudo o mais que falta rotineiramente aos pacientes do SUS, bem como grana grossa à bolapé. Dilma não conteve abundantes lágrimas ao lado de
Tarso et caterva, ao ver os até então 231 corpos atirados no chão de um estádio. Dilma é assim, tri-emotiva. Dilma choraria até desidratar‐se em lágrimas se visse alinhados como os imolados de Santa Maria:
Os 50.000 cidadãos que morrem por ano em Acidentes de trânsito. Os 40.000 brasileiros que Morrem por assassinato.
E os 8.000 jovens que morrem por overdose.

Aí apareceriam verbas para as estradas, dinheiro para as cadeias e pena de morte para os traficantes. Enquanto nada acontece, só resta dizer triplo... PUTZ.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Santa Maria e a Guerra do Vietnã


Milton Pires
29/01/2013
Em 1967 a Guerra do Vietnam envolvia um contingente cada vez maior de soldados americanos. A necessidade de atendimento aos feridos graves, entre eles as vítimas de queimadura e intoxicação, demandavam recursos materiais e humanos cada vez mais complexos. Os EUA construíram, na cidade litorânea de Da Nang, um hospital militar com o objetivo de atender suas tropas.
Nesta época não existia propriamente a especialidade hoje conhecida como Terapia Intensiva. Foi com espanto que os médicos militares começaram a atender um número cada vez maior de pacientes vítimas de intoxicação em função do chamado “agente laranja” e outras substâncias químicas utilizadas para desfolhamento de florestas e localização dos esconderijos inimigos.
As pessoas apresentavam como quadro clínico uma síndrome que envolvia, entre outros sinais e sintomas, acúmulo de líquidos nos pulmões e diminuição da capacidade de oxigenação do sangue.  
Essa nova doença ficou conhecida como “Pulmão de Da Nang” e hoje, nós intensivistas, a chamamos de SARA – Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto.  
Fiz esta breve introdução para dizer que é isto que pode acontecer com os sobreviventes do incêndio de Santa Maria. Mais; gostaria que ficasse muito claro a todos que este tipo de “coisa” não pode ser atendido (numa situação que envolve um número de pacientes tão grandes) com segurança em nenhuma capital brasileira. 
Isto ocorre porque simplesmente não há unidades de terapia intensiva em número suficiente nem respiradores artificiais para atender tanta gente. 
Em meio a tanto desespero não há um só político ou autoridade da saúde com honestidade suficiente para dizer aquilo que escrevi acima. 
Há pelo menos quatro décadas assistimos gerações e mais gerações de secretários e ministros da saúde insistindo na ideia de medicina comunitária e prevenção. 
Pois bem, pergunto agora: o que nós, médicos intensivistas, devemos fazer com as pessoas que sobreviveram ao incêndio de Santa Maria?  
Encaminhá-las para postos de saúde? Não se constrói um hospital público em Porto Alegre desde 1970! Pelo contrário; vários foram à falência e fecharam!
Que o Brasil inteiro saiba que é MENTIRA a afirmação das autoridades de que Porto Alegre tem leitos de UTI suficientes para atender toda essa gente! 
A secretaria estadual da saúde pode, se necessário, comprar leitos na rede privada mas mesmo assim é muita sorte haver algum disponível.
Com relação aos responsáveis por esta tragédia, deixo aqui a minha opinião – foi o poder público corrupto, negligente e incompetente, quem MATOU todos estes jovens! 
É esse tipo de gente que quer entupir o  Brasil com médicos de Cuba e do Paraguai, que manda médicos para o Haiti e que insiste em saúde “comunitária”, que agora aparece na televisão chorando e abraçando os pais das pessoas que morreram.  
Termino aqui; como em toda situação de guerra, a primeira vítima de Santa Maria, assim como em Da Nang, foi a verdade – jamais esqueçam isto !
Milton Pires
Médico Intensivista
Porto Alegre – RS. Fonte ¨Blog de Rodrigo Constantino"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Finança mundial


Adriano Benayon * 

Novos dados informam que somente cinco bancos têm ativos de  8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB dos Estados Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo.

02. Os dez maiores bancos do mundo teriam US$ 6,4 trilhões dos mais de US$ 30 trilhões aplicados nos paraísos fiscais  (offshore).  Somente 92 mil pessoas (0,001% da população mundial) possuem US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos EUA só 400 indivíduos teriam riqueza igual à de 50% da população do país.

03. Aí estão ilustrações do que tenho exposto: os concentradores aumentam seu poder durante a depressão econômica e não têm interesse em que ela acabe.

04. Durante as fases de crescimento real da economia, após certo tempo, a finança começa a crescer mais que a produção de bens e serviços, inclusive porque os lucros crescem mais rápido que os salários.

05. Além disso, no setor produtivo as fusões e aquisições de empresas levam a aumento da concentração. Após um tempo, os salários, exceto o de muito poucas categorias, começam a decrescer em termos reais, perdendo para a inflação dos preços.

06. Paralelamente, como é natural, a demanda por bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as bolhas, como foi o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do colapso financeiro iniciado em 2007/2008.

07. Entretanto, essa não é a única nem a principal bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados financeiros, como foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a imensa que a ela se seguiu, a dos derivativos. 

08. Nesta foram  gerados mais de 600 trilhões de dólares, nos computadores do sistema financeiro: títulos montados em cima de outros títulos e de coisas irreais, como: apostas em inadimplência de títulos (credit default swaps) e em índices de taxas de juro, de taxas de câmbio; operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo, na alta e na baixa dos mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na elevação dos juros dessa dívida,  como fez o Goldman Sachs com a Grécia, entre outros. 

09. Assim, a par da concentração e maior oligopolização dos setores produtivos, a financeirização da economia foi assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode definir como a formação de ativos financeiros em proporção exponencialmente maior que a dos ativos reais e produtivos.

10. Após anos nessa escalada, é natural que os preços desses ativos também aumentem exponencialmente e que, em determinado ponto, se verifique sua irrealidade, o que dá início ao estouro das bolhas.

11. Esse ponto foi atingido em 2007/2008, e a partir daí os preços dos ativos começam a cair. Os devedores viram-se presos numa armadilha, pois continuaram tendo que pagar as dívidas, e muitos deles não mais o puderam fazer, tendo suas casas sido tomadas pelos bancos.

12. Hoje  nos EUA as dívidas dos estudantes ultrapassaram  US$ 1 trilhão, e os saldos devedores dos cartões de crédito chegam a U$ 800 bilhões.

13. Em 2007/2008, as empresas de muitos manipuladores financeiros entraram em dificuldades, embora não os seus donos e executivos, que haviam transferido, para si mesmos em outras destinações. a maior parte dos lucros com a especulação, movida através de alta alavancagem (uso de margem mínima de capital próprio nas operações financeiras). 

14. Os grandes bancos ficaram praticamente falidos quando a bolha levou a perceber que o valor real dos derivativos não correspondia senão a pequena fração, próxima a zero, do valor nominal desses títulos.

15. Então, por que não foram liquidados, o que teria permitido aos Tesouros nacionais dos EUA, e de vários países europeus, por exemplo, sanear as finanças e a economia?

16. Porque os Tesouros e os bancos centrais os salvaram, com dezenas de trilhões de dólares e de euros  dos contribuintes e principalmente com emissões de dinheiro (especialmente nos EUA)  e de títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor nominal os títulos podres  dos bancos e empresas financeiras.

17. Os pseudo-governos desses países têm o desplante de dizer que são democráticos. Os grandes bancos os controlam, como controlam  "mercados financeiros".

18. Tal é a manipulação nesses mercados, que, apesar das dezenas de trilhões de dólares criados do nada , o preço do ouro permanece no patamar em que terminou o ano de 2011 (US$ 1.650 por onça), depois de haver atingido naquele ano o pico de quase US$ 2.000.

19.  O  jornalista financeiro Evans-Pritchard publicou artigo no The Telegraph, de Londres (13.01.2013), em que diz estar o  mundo caminhando para um padrão-ouro de fato, no qual o metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da moeda chinesa e de outras com potencial de solidez.

20. Ele se baseia  no relatório “GFMS Gold Survey for 2012”, segundo o qual os bancos centrais compraram mais ouro em 2012 do que em qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas reservas em 536 toneladas.

21. Como ele recorda, os bancos centrais de países da órbita anglo-americana (Reino Unido, Espanha, Holanda, Suíça e outros) firmaram,  há anos, o acordo de Washington, comprometendo-se  a regularmente fazer vendas de  ouro, sustentando as moedas inflacionadas (dólares principalmente).

22. Nessas operações – especialmente o Banco da Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois o preço do ouro aumentou de US$ 300 em 2003 para o atual nível, superior a US$ 1.600.

23. Outro sinal foi a decisão do parlamento da Alemanha  de trazer ao país seus estoques de ouro guardados nos EUA e na França, havendo dúvidas de se os EUA ainda têm o que oficialmente consta.

24. Há enorme potencial para as compras principalmente pela  China, que teria o projeto de elevar suas reservas de ouro para 2% de suas reservas totais. 

25. Isso ainda é muito pouco  já que o dólar e o euro não têm condições de justificar o otimismo, do ponto de vista do cartel dos bancos,  de que essas duas moedas permaneçam como as principais divisas mundiais.

26. A dívida pública e o déficit federal dos EUA, depois de ultrapassarem o PIB desse país, com montantes acima de US$ 16 trilhões, continuarão sendo financiados com emissões de moeda e de títulos públicos, os quais estão perdendo adquirentes, salvo o  Federal Reserve.

27. A China detém algo próximo a 1,2 trilhões desses títulos, mas, há  um ano, esse montante era maior, e ele só representa um terço das reservas totais, enquanto o Japão chegou a quase aquele valor,  que, no caso dele, representa mais de 90% de suas reservas. A meta da Rússia é aumentar a reserva de ouro para  10% das totais, hoje  da ordem de US$ 560 bilhões.


* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.