– Arnaldo Jabor ( 1940 - ) - cineasta, livre pensador e prova viva de que
ainda há vida inteligente no País dos Petralhas.
Caríssimos
O holocausto de Santa Maria, ao contrário do que apregoam os
babacas da subjetividade, não foi a vitória do Imprevisto sobre a
Previsibilidade, nem a derrota da Precaução pelo Infortúnio.
Foi, sim, a sobreposição da Idiotice sobre o Bom Senso e o triunfo
da Ganância sobre a Burocracia.
Primeiro, a Idiotice se fez carne e habitou entre nós. Uma das tarefas
mais simples de ser realizada é disseminar a Idiotice.
Se vocês, caros putzeiros, olharem ao redor verão exemplos disso
em cada esquina, em cada discurso de político, em cada propaganda de cosmético.
Já assistiram um desfile de moda?
São mulheres anoréxicas caminhando feito saracuras sequeladas de
AVC, vestindo roupas desenhadas por bichas loucas que não seriam usadas nem por
outras bichas mais loucas. Já viram o tal carnaval baiano? São milhares de retardados
perseguindo, em ruas apinhadas de seus pares, caminhões carregados de pagodeiros
ou seja lá quem forem, distribuindo milhares de decibéis, todos com o único objetivo
de ficar bêbados o mais cedo possível e depois da ressaca dizerem que foi o carnaval
mais arretado do milênio. Igual a espetáculo de rock: mais milhares de idiotas movidos
a canabis e outras cositas, pulando feito jumentos com buscapés nos rabos, ao som
de uma cacofonia infernal produzida por seis ou sete dementes com o uso de
quatro acordes, que eles têm o desplante de chamar de música. Todo esse
conjunto de estupidezes tem um único objetivo: convencer as pessoas que o que é
moda é o melhor para elas, e que ’’estar por dentro’’ é suprema felicidade,
enquanto eles, os promotores da estupidez, forram a guaiaca com a grana dos
felizes consumidores.
E aí chegamos
nas baladas. Originariamente, nos séculos XIV e XV, a palavra referia-se a uma obra
musical de um só movimento, na qual uma voz aguda se destacava e duas outras vozes
mais graves faziam as vezes de instrumentos musicais, quando não os havia. No Classicismo
eram narrativas folclóricas arranjadas em composições.
No Romantismo,
Chopin chamou de baladas quatro de suas peças para piano e foi o primeiro a usar
o termo para obras exclusivamente instrumentais, no que foi posteriormente seguido
por Brahms, Grieg Liszt e Fauré. No século XXI, a balada sofreu uma metamorfose,
e de expressão puramente artística, passou a designar uma espécie de reunião social
hebefrênica, onde ninguém se conhece muito, mas todos usufruem do que de pior a
espécie humana produziu em termos de entretenimento. A balada contemporânea não
é apresentada em ambiente de câmara, mas numa edificação chamada boate ou casa noturna,
construída segundo os mais modernos conceitos de insalubridade. Normalmente as paredes
são pintadas de negro, dando o clima dark, apreciado
por onze entre cada dez freqüentadores descerebrados. Embora a lei proíba o uso
de cigarros e assemelhados no seu interior, ambos são consumidos, na proporção de
dez assemelhados para cada cigarro. Caramelos contendo anfetaminas, ecstasy e outros
estupefacientes são oferecidos à clientela. Para evitar as reclamações da vizinhança
pelo ruído produzido, as paredes são forradas de espuma de borracha sintética recobertas
de papelão, tudo altamente inflamável, como se recomenda a um bom inferninho.
Luz,
há pouca. Apenas canhões de laser e
alguns spots coloridos,
alternando-se com flashes como os de fotografia, que disparam continuamente, de
modo a ninguém perceber pela visão o que se passa a um metro do próprio nariz.
Às vezes, para delírio de todos, o contínuo espocar dos flashes
dispara um gatilho neurológico provocando uma convulsão epiléptica num dos
baladeiros. Um outro artefato chamado Sputnik é
responsável por uma imitação de fogo de artifício, produzindo faíscas altamente
recomendáveis num ambiente inflamável. O tal Sputnik é uma espécie de morteiro
que dispara acionado por uma faísca elétrica uma mistura de pólvora com areia
refratária, atingindo a temperatura de até 3.000 graus centígrados. Levem em
consideração que a platina funde a 1.750 graus e o carbono a 3.485, e verão a
potência destrutiva do artefato usado por brincadeirinha.
O
encarregado do barulho é um profissional altamente valorizado, conhecido pelas
iniciais DJ. Nenhum dos freqüentadores sabe o
Significado
da sigla, mas todos sabem a função do DJ – produzir decibéis em quantidades
amazônicas, de modo a saturar a audição dos prezados freqüentadores e impedir
qualquer tentativa de comunicação através da palavra. No mister de fazer
barulho, conjuntos pseudo-musicais chamados bandas apresentam-se quando o DJ
vai esvaziar o joelho ou descolar um baseado nas coxias. Como sói acontecer,
tais bandas escondem sua absoluta falta de talento entoando a milhão músicas
que ofenderiam a inteligência de uma marmota com tumor cerebral e apresentando
efeitos luminosos e pirotécnicos que desviam a atenção de sua infeliz
parafernália cacofônica.
A segurança
dos inferninhos é feita por uns caras enormes, vestidos de preto, alguns usando
óculos de sol às três da matina. São ex-policiais normalmente expulsos das corporações,
ex-presidiários ou lutadores de qualquer coisa. Sua função é a segurança, quer dizer,
é segurar os consumidores que pretendem escafeder-se sem pagar a conta (que aqui
chamam de comanda). Por isso, as casas noturnas tem uma só saída, que é também a
entrada, quando todas as legislações municipais obrigam a existência de saídas de
emergência. Algumas chegam a ter uma sala para onde os fujões são levados e obrigados
a pagar a conta na base da porrada ou coisa pior.
Proprietários
de casas noturnas são uns caras da pior espécie. Como os banqueiros (de banco ou
de bicho), seu negócio é ganhar dinheiro fácil e rápido, o que significa investir
pouco e aplicar na bolsa (na bolsa dos outros, é claro). Investir pouco quer dizer
pagar barato por materiais de terceira categoria e burlar ou comprar a fiscalização.
Por isso, o revestimento da Kiss era de papelão e espuma de poliuretano, muitíssimo
mais barato, por exemplo, do que o isolamento termoacústico não inflamável baseado
em nanotecnologia. E
revisar periodicamente os extintores de incêndio, nem pensar. Assim, a Ganância
triunfou sobre a Burocracia. A espuma de poliuretano, quando queimada, libera uma
mistura letal de cianetos, ácido clorídrico e monóxido de carbono. Nem os executores
de Auschwitz fariam melhor.
A mesma
ganância impulsiona os donos dessas arapucas a admitirem a entrada de quantas pessoas
couberem no recinto. No caso da Kiss, a boate tinha uma área de 615 m2 .
E, segundo as estimativas havia no seu interior entre 1.500 e 2.000 pessoas. Façam
a conta, por baixo:
615:1500
= 0,41, ou seja, cada pessoa dispunha de 0,41m2 para
“divertir-se”. Quer dizer um quadrado de 64 cm de lado!!! Se fossem 2.000 pessoas, o quadrado
baixaria para 55 cm
de lado.
Longe
de mim criminalizar as vítimas, mas, pelas barbas do Profeta, o que leva alguém
a freqüentar um lugar onde dispõe de menos de meio metro quadrado, no escuro, sem
poder falar, ter a audição lesionada por decibéis incontáveis, sem saída de emergência,
respirando ar viciado e pagando 15 reais pela vagabunda e quente cerveja nacional?
A consumação
da tragédia deu-se por mais um ato de idiotice sem precedentes: acender um sinalizador
num ambiente fechado. O resultado final foi o que se viu.
Na contramão da tragédia, a petezada não se fartou de faturar. Dilma
veio ao Rio Grande com a respectiva comitiva de sicofantas e apaniguados e exigiu
“providências urgentes” no atendimento aos feridos. Imediatamente apareceram como
por milagre respiradores, oxigenadores, médicos, enfermeiros, leitos hospitalares
e tudo o mais que falta rotineiramente aos pacientes do SUS, bem como grana grossa
à bolapé. Dilma não conteve abundantes lágrimas ao lado de
Tarso et caterva, ao ver os até então 231 corpos atirados no chão de
um estádio. Dilma é assim, tri-emotiva. Dilma choraria até desidratar‐se em lágrimas
se visse alinhados como os imolados de Santa Maria:
Os 50.000 cidadãos que morrem por ano em Acidentes de trânsito. Os 40.000
brasileiros que Morrem por assassinato.
E os 8.000 jovens que morrem por overdose.
Aí apareceriam
verbas para as estradas, dinheiro para as cadeias e pena de morte para os traficantes.
Enquanto nada acontece, só resta dizer triplo... PUTZ.
Esse texto não é do Jabor.
ResponderExcluirQue vergonha, escrever querendo ser lido e creditar ao Jabor. Para quem se auto-intitula ávido por leitura e conhecimento estás muito mal das pernas no quesito "ética" e "respeito". Vá lavar uma louça suja em casa que serás de mais valia.
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