Mentes que visitam

terça-feira, 22 de maio de 2012

A lei natural, a minha samambaia e a ética


Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco, cita que: “É impossível para uma pedra, que tem um movimento natural para baixo, conseguir reverter esse movimento, passando a se movimentar para cima, mesmo se alguém tentar 10 mil vezes inculcar esse hábito nela; nem fazer o fogo se movimentar para baixo, ou se mudar a direção de qualquer ente, atribuído pela natureza...”.

A natureza fascina. Tenho uma samambaia entre duas janelas e costumo trocá-la de foco, fechando um dos lados e abrindo o outro, para vê-la mover seus ramos, paulatinamente, em direção ao lado com maior luz. A ação dela é sempre a mesma! Está amarrada a um código da natureza que a obriga a escolher a claridade para se manter viva e ao qual obedece como uma escrava. Aliás, uma escrava pode recusar a obedecer, decidindo, inclusive, a não viver, mas a minha samambaia nem isso pode. Claro, se um obstáculo a impedir de fabricar o seu alimento básico – a glicose – cuja matéria-prima é a luz solar, a água e o dióxido de carbono, coletado pelas raízes e ramos, ela morre.

Com o animal não humano não é diferente. A natureza também lhe deu uma vida para proteger e cuidar. Não lhe impôs limites mecânicos, como fez com os vegetais, mas lhe deixou para sempre dois mestres, o prazer e a dor, e um potente órgão sensitivo que o avisa dos perigos iminentes ou da sede e fome, induzindo-o a fugir ou reagir, a beber água ou a caçar, mas cada ação não vai além da “presa à boca”, sem quaisquer provisões para o futuro. Intriga a natureza tê-lo proibido de se suicidar: diferente do homem, ele não atenta contra a vida.

O homem também foi condicionado ao prazer e à dor, mas a natureza lhe deu liberdade para escolher os valores que vão ajudá-lo na proteção da vida e no cuidado de mantê-la. Para isso, incutiu-lhe uma poderosa consciência, com capacidade de conhecimento ilimitado. Muniu-o com um sistema mental complexo, em que os sentidos captam as imagens e informações que se transformam em conceitos guardados na memória para a razão analisar e agir, sempre com vistas a melhorar o nível de vida. Trabalha, poupa, investe em métodos longos de produção, faz plano, minimiza os riscos da falta de matérias-primas, insumos e bens e serviços, base do seu sustento e prazer.

O homem não precisaria de guia para orientar as suas escolhas e ações. Mas ele se faz necessário, como um código de ética, pois a natureza criou-os desiguais, surgindo a cobiça e a afronta, ação condenada assim por Ayn Rand: “Nenhum homem – ou grupo, sociedade ou governo – pode iniciar o uso da força contra outro homem, a não ser em retaliação a quem a iniciou... ou obter qualquer valor de outro recorrendo à força”. Esse código não é diferente, na essência, do da minha samambaia. Para ela, o mal é tudo que atente contra a vida e o trabalho na busca da luz, da água e do ar, necessários para fabricar seu alimento, a glicose. O bem é tudo que engrandeça esses valores morais. Sem ele, ela morre. Com o homem não é diferente...

Alfredo Marcolin Peringer

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A TRAIÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL



por Luiz Felipe Pondé

Antes, eram as esferas celestes, agora, são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros.
 
Olha que pérola para começar sua semana: "Esta é a grande tolice do mundo, a de que quando vai mal nossa fortuna -muitas vezes como resultado de nosso próprio comportamento-, culpamos pelos nossos desastres o Sol, a Luz e as estrelas, como se fôssemos vilões por fatalidade, tolos por compulsão celeste, safados, ladrões e traidores por predominância das esferas, bêbados, mentirosos e adúlteros por obediência forçada a influências planetárias". William Shakespeare, "Rei Lear", ato 1, cena 2 (tradução de Barbara Heliodora).

Os psicólogos sociais deveriam ler mais Shakespeare e menos estas cartilhas fanáticas que dizem que o "ser humano é uma construção social", e não um ser livre responsável por suas escolhas, já que seriam vítimas sociais. Os fanáticos culpam a sociedade, assim como na época de Shakespeare os mentirosos culpavam o Sol e a Lua.

Não quero dizer que não sejamos influenciados pela sociedade, assim como somos pelo peso de nossos corpos, mas a liberdade nunca se deu no vácuo de limites sociais, biológicos e psíquicos. Só os mentirosos, do passado e do presente, negam que sejamos responsáveis por nossas escolhas.

Mas antes, um pouco de contexto para você entender o que eu quero dizer.

Outro dia, dois sujeitos tentaram assaltar a padaria da esquina da minha casa. Um dos donos pegou um dos bandidos. Dei parabéns para ele. Mas há quem discorde. Muita gente acha que ladrão que rouba mulheres e homens indo para o trabalho rouba porque é vítima social. Tadinho dele...

Isso é papo-furado, mas alguns acham que esse papo-furado é ciência, mais exatamente, psicologia social. Nada tenho contra a psicologia, ao contrário, ela é um dos meus amores - ao lado da filosofia, da literatura e do cinema. Mas a psicologia social, contra quem nada tenho a priori, às vezes exagera na dose.

O primeiro exagero é o modo como a psicologia social tenta ser a única a dizer a verdade sobre o ser humano, contaminando os alunos. Afora os órgãos de classe. Claro, a psicologia social feita desta forma é pura patrulha ideológica do tipo: "Você acredita no Foucault? Não?! Fogueira para você!".

Mas até aí, este pecado de fazer bullying com quem discorda de você é uma prática comum na universidade (principalmente por parte daqueles que se julgam do lado do "bem"), não é um pecado único do clero fanático desta forma de psicologia social. Digo "desta forma" porque existem outras formas mais interessantes e pretendo fazer indicação de uma delas abaixo.

Sumariamente, a forma de psicologia social da qual discordo é a seguinte: o sujeito é "construído" socialmente, logo, quem faz besteira ou erra na vida (comete crimes ou é infeliz e incapaz) o faz porque é vítima social. Se prestar atenção na citação acima, verá que esta "construção social do sujeito" está exatamente no lugar do que Shakespeare diz quando se refere às "esferas celestes" como responsáveis por nossos atos.

Antes, eram as esferas celestes, agora, são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros, ou não trabalharmos ou sermos infelizes. Se eu roubo você, você é que é culpado, e não eu, coitado de mim, sua real vítima. Teorias como estas deveriam ser jogadas na lata de lixo, se não pela falsidade delas, pelo menos pelo seu ridículo.

Todos (principalmente os profissionais da área) deveriam ler Theodore Dalrymple e seu magnífico "Life at The Bottom, The Worldview that Makes the Underclass", editora Ivan R. Dee, Chicago (a vida de baixo, a visão de mundo da classe baixa), em vez do blá-blá-blá de sempre de que somos construídos socialmente e, portanto, não responsáveis por nossos atos.

Dalrymple, psiquiatra inglês que atuou por décadas em hospitais dos bairros miseráveis de Londres e na África, descreve como a teoria da construção do sujeito como vítimas sociais faz das pessoas preguiçosas, perversas e mentirosas sobre a motivação de seus atos. Lendo-o, vemos que existe vida inteligente entre aqueles que atuam em psicologia social, para além da vitimização social que faz de nós todos uns retardados morais.

Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa).

EDUCAÇÃO É REPROVADA EM TODAS AS QUESTÕES


  

EDITORIAL JORNAL DO COMÉRCIO, de 21/05/2012
  
É triste, incomoda, mas contra fatos não há argumentos: em 2011, 22% dos alunos de Ensino Médio em escolas públicas foram reprovados, contra 8% em 2010. O pior de tudo é que os números colocam o Rio Grande do Sul na ponta, pois de cada cinco estudantes, um é reprovado. Números do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) dizem que estudantes do Ensino Médio no Estado são os que apresentam a maior taxa de repetência do Brasil, 20,7%. O Rio Grande do Sul sempre se ufanou do diferencial político, cultural e educacional em relação ao resto do Brasil. Tudo caiu por terra, lastimavelmente para nós. A média nacional de reprovação ficou em 13,1% em 2011, a mais alta desde 1999, primeiro ano disponível para consulta. Como o Ensino Médio é predominantemente estadual e houve mudanças de governo em muitos estados no ano passado, novos secretários de educação, novas atitudes, novos procedimentos, talvez tenha aí alguma explicação, segundo o ministro Aloizio Mercadante. Por isso será criado um exame nacional para estudantes de 7 e 8 anos, de todas as escolas públicas do País, para avaliar o seu desempenho em leitura, redação e matemática. A avaliação será nos moldes da Provinha Brasil, atualmente aplicada para crianças no segundo ano de escolarização da rede pública.


A ideia é uma avaliação diagnóstica, para orientação pedagógica, de leitura e redação e primeiras contas, com 7 anos. Aliás, que saudades dos tempos da leitura, redação e do ditado em sala de aula. Não precisa avaliação alguma para saber que as crianças mal sabem ler e escrever. É um hábito em total desuso. Ideias, mais ideias, porém nada altera a triste realidade do ensino. O Censo Demográfico do MEC de 2010 provou, também novamente, o óbvio, pela pobreza financeira e falta de estrutura governamental, que a taxa de crianças com 8 anos não alfabetizadas nos estados do Nordeste e Norte é bem superior à média nacional, de 15,2%. Há estados no Brasil em que uma em cada três crianças não aprende a ler e escrever na escola até 8 anos. E isso não pode continuar. A creche e a pré-escola estimulam esse processo. O programa será focado para que as crianças saibam ler e escrever e dominem as primeiras contas, porque essas duas ferramentas são decisivas para toda a vida escolar, outra obviedade acaciana dita pelo ministro da Educação.

Entre os estudantes gaúchos de Ensino Fundamental, a média de reprovação é de 13,1%, acima da média nacional que é de 9,6%. Os índices são maiores na rede pública. No Ensino Fundamental, a média de repetentes é de 14,1% nas escolas públicas e de 3,7% nas particulares. No Ensino Médio, são 22,2% nos colégios públicos e 8,1% nas escolas particulares, uma tristeza. E para afundar ainda mais o já periclitante orgulho gaúcho, o concurso público para o magistério estadual foi um fiasco. Mas quem busca carreiras na educação com os salários pagos?  Aqui e em todo o Brasil? Temos que tomar pulso e fazer as coisas acontecerem. Nada de blindar mudanças sob a égide de direitos adquiridos. Debater com os interessados, tudo bem. Mas foi dito que a unanimidade é burra. Logo, em algum momento e que não seja muito demorado, alguém tem que bater na mesa e bradar: educação ou a morte do Estado e do País!

domingo, 20 de maio de 2012

Jovens e drogas

   Conversando com uma jovem hoje, ela me disse que alguns jovens de uma maneira geral estão substituindo o álcool, uma droga legal, por outras drogas ilegais.
   A alegação dos tais jovens é que o álcool é identificado nos testes do bafômetro, enquanto que as drogas ilegais não o são.
   Uma questão a ser pensada e considerada, dado que é comum pessoas apresentarem comportamentos e atitudes estranhas apesar do teste negativo de alcoolemia.
   Outra curiosidade no processo de fiscalização é que, dado negativo o teste de alcoolemia, nenhum fiscal sugere ou solicita que a pessoa de comportamento estranho e nitidamente fora das suas faculdades normais faça exame clínico ou pericial para ver se há outras drogas, tão ou mais nocivas que o álcool, na sua corrente sanguínea e contribuem, muito mais que o álcool, para a ocorrência de acidentes em geral.
   Será que estamos num processo "branco" de liberação das drogas ilícitas?

sábado, 12 de maio de 2012

LEI de 03Abr12 - Emprego obrigatório da flexão de gênero para nomear profissão


Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

 Determina o emprego obrigatório da flexão de gênero para nomear profissão ou grau em diplomas.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o  As instituições de ensino públicas e privadas expedirão diplomas e certificados com a flexão de gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada, ao designar a profissão e o grau obtido. 

Art. 2o  As pessoas já diplomadas poderão requerer das instituições referidas no art. 1o a reemissão gratuita dos diplomas, com a devida correção, segundo regulamento do respectivo sistema de ensino. 

Art. 3o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

Brasília,  3  de  abril  de 2012; 191o da Independência e 124o da República. 

DILMA ROUSSEFF
Aloizio Mercadante
Eleonora Menicucci de Oliveira
Este texto não substitui o publicado no DOU de 4.4.2012