JARDIM DA INSÂNIA I
Não que me sinta presa da loucura,
mas que seria de mim sem tal insânia?
Quem se dispõe a suportar a infâmia
sofre na mente um corte que perdura.
E não se trata de inconsciência pura,
nem se ver dessecado pela lâmia,
nem desgastado por aborrecida inânia,
nem entrevisto em tenebrosa agrura.
Insânia e insônia são gêmeas vitelinas,
diferençadas por uma letra apenas
(talvez exista qualquer outra interação);
quer seja a insônia a origem dessas sinas
ou cause a insânia as solitárias penas
de quem perdeu do sonho a proteção.
JARDIM DA INSÂNIA II
Apenas sei que, em meus sonhos coloridos,
eu não encontro o fio do racional;
o sonho é circular e nem faz mal
que não se encontrem os resultados perseguidos.
Na matemática do sonho são contidos
os resultados do sistema decimal;
na hegemonia do duodecimal
sonhamos sonhos sumérios esquecidos,
presas nas fímbrias as chagas dos guerreiros
e o ardor das fornalhas do passado
em flores rubras de carne alaranjada,
cinzas lançadas de mistura nos canteiros,
sem dar lugar ao sábio atribulado
ou a raciocínios de secura dessangrada.
JARDIM DA INSÂNIA III
Assim os sonhos da insânia são bromélias,
dando ninho para larvas de mosquitos,
a gerar em pesadelos faniquitos
monstros do Id em cataduras velhas,
sacrifícios a imolar nas aracélias,
para os Baals e Moloques infinitos,
no rebrotar das preces dos aflitos,
no despencar constante das camélias.
William Lagos
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