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quarta-feira, 19 de junho de 2013

D Í V I D A P Ú B L I C A


Samir Keedi
 

Todos acham natural uma dívida interna de 65,4% do PIB e que isso seja perfeitamente administrável. Isso é muito relativo. Costumamos dizer aos nossos alunos que o absoluto não existe. Tudo, absolutamente tudo é relativo. Só o relativo dá a real dimensão dos fatos.
Dívida de 65,4% do PIB é administrável quando estável. Não quando é fortemente crescente como a nossa. Para entendimento do que queremos dizer, vejamos a real dívida interna da União (não a divulgada na imprensa). Em 1994 a dívida era de 88 bilhões de reais. Em 2002 já era de 1,1 trilhão de reais. Em 2010 já estava em 2,39 trilhões de reais. Em dezembro de 2012 alcançou 2,89 trilhões de reais. Tudo distribuído da seguinte forma: 1,92 trilhões em poder do público, 879 bilhões em poder do Banco Central e 91 bilhões da dívida externa líquida.
Como se vê, não é um crescimento natural, mas geométrico. Muito, muito além do crescimento do PIB. Isso significa, ceteris paribus, e pelo histórico, uma dívida de cerca de 3,4 trilhões ao final de 2014. Com uma dívida bem além do PIB em 2020, para o qual já previmos o Armagedom em um artigo anterior ("Brasil: buraco 2020").
A Europa está fazendo água, em especial no caso da Grécia, Espanha, Portugal, Itália e outros com dívidas iguais ou maiores do que a nossa. E, certamente, alguns deles com dívida menor do que será a nossa em 2020.
Qual a chance de mudança? Nenhuma. E é simples entender. Basta ver o histórico e o seu crescimento, de 1994 a 2012. E, também, lembrar que o superávit primário, aquela parcela da arrecadação economizada para pagar os juros da dívida, tem sido cerca de apenas 1/3 do necessário - o que explica o aumento constante da dívida. E essa economia está caindo, e será bem menor em 2013, por tudo que se tem feito e falado. Em 2014, ano de eleições, será um "Deus nos acuda" para poder ganhá-la.
Para isso, a carga tributária continuará crescendo, sem chance de diminuição. O que agrava ainda mais o consumo, com constante redução da renda disponível de cada um.
E sem investimento e consumo, perpetua-se o subdesenvolvimento e a quase estagnação ou, pior, vem a estagflação.
 A dívida já é hoje impagável, pelo quem vimos acima. Não é difícil imaginar o quadro com ela acima do PIB em 2020. Não é catastrofismo, é realidade. Quem tem olhos a enxergue. Quem tem calculadora faça cálculos. Quem tem juízo faça alguma coisa. Ajudem-nos nesta batalha em que estamos quase sozinhos há anos diante da descrença quase geral. Será o Pré-Sal a luz no final do túnel, quando o mundo está querendo enterrar o petróleo como energia? Vamos continuar andando na contramão como temos feito?
 
*Samir Keedi é bacharel em economia, consultor e professor da Aduaneiras e autor de diversos livros em comércio exterior.

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