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terça-feira, 2 de abril de 2013

Especialistas e Generalistas













Por Alan Schlup Sant’Anna

Isaac Newton, físico e matemático inglês (1643-1727), dominava boa parte da ciência desenvolvida até sua época e é considerado por muitos como o maior cientista de todos os tempos.
No entanto, se Newton vivesse hoje, e com todo respeito à sua genialidade, dificilmente ele conseguiria aprender uma milésima parte da ciência conhecida.

Uma das conseqüências do enorme volume e grande complexidade do conhecimento humano moderno, é que precisamos de especialistas. Diante da impossibilidade de dominar todo o conjunto do conhecimento temos que optar por uma parte dele e nos especializar.
Até aí tudo bem. A coisa, no entanto, se complica quando o especialista se concentra tanto naquele pequeno pedaço do Universo que perde a visão de conjunto.

Diz-se por aí que: “especialista é aquele que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, até que fica sabendo praticamente tudo sobre praticamente nada”.
Especialista é o sujeito que examina o mundo com um microscópio e descobre muita coisa interessante, mas como ele olha muito de perto acaba produzindo uma interpretação muito estreita da realidade.

É neste momento que entra a famosa interdisciplinaridade. É preciso trabalhar em equipe e, sobretudo, saber interagir de modo eficaz com os membros da equipe. É preciso consultar outras pessoas que tenham especialidades, paradigmas e visões diferentes da nossa.

Muitas organizações já passaram pelo clássico drama da chamada promoção para a incompetência, ou seja, você promove um excelente especialista para um cargo em que as habilidades generalistas são absolutamente indispensáveis, e é claro perde o funcionário.

Vamos exemplificar:
Diante do afastamento do presidente de uma empresa, os sócios decidem oferecer a vaga ao diretor financeiro, o Sr. B. Ele fazia um trabalho excepcional nas finanças e já provara competência e dedicação.

Algo errado? Talvez.
Acontece que o Sr. B é muito mal preparado nas áreas de recursos humanos e marketing, por exemplo. Para completar a tragédia, ele tem desprezo por estas especialidades e as julga como questões de menor importância, recusando-se, portanto, a estudá-las e a valer-se, mesmo que temporariamente, da experiência dos especialistas destas áreas na organização.

O resultado é previsível.
Como a empresa não se faz apenas com uma boa administração financeira, as coisas começam a ir mal e antes que todo o barco afunde os sócios tem duas opções, que são, demiti-lo ou oferecer a ele o cargo anterior, o que via de regra ele não aceitará.
Saldo do erro: queda temporária nos resultados da empresa e a perda de um excelente diretor financeiro.

Posições de liderança devem ser ocupadas por generalistas, com uma ampla visão de conjunto e grande inteligência emocional, que lhes permita liderar eficazmente pessoas de especialidades muito diferentes.
É preciso esclarecer que as condições de especialista e generalista, não são, em hipótese alguma, mutuamente excludentes.

Alguém altamente especializado pode ter uma excelente visão de conjunto de uma atividade ou até, em termos mais amplos, do conhecimento e da experiência humanos.
Além de indispensável pré-requisito para a liderança, as habilidades generalistas são de grande valia, mesmo fora dos postos de comando. A visão de conjunto ou holística, permite àquele que a possui, perceber ameaças e oportunidades onde um especialista restrito nada vê.

Mas como construir uma visão ampla, holística, generalista?
O primeiro passo é desenvolver respeito por todas as áreas da atividade humana, da ciência à religião, passando pelas artes, esportes, negócios e até a política. Deve-se evitar preconceitos e valorizar todas as áreas de atividade do homem, evidentemente observando preceitos mínimos, como o respeito à vida e à liberdade responsável.

O segundo passo é desenvolver interesse por um amplo leque de conhecimentos e atividades. É preciso ser curioso, fazer perguntas, investigar, conhecer realidades diferentes daquelas a que estamos acostumados.
Livres de preconceitos, e munidos de legítimo interesse, o passo seguinte é interagir com as pessoas, ler, ler muito, e aproveitar as oportunidades de aprendizado que o Universo nos oferece. Tudo isto a nossa volta é uma enorme escola, para quem souber aproveitar.

Se você é médico cardiologista e, em uma viagem, sentou-se ao seu lado um comandante da marinha mercante, converse com ele sobre o seu trabalho, aprenda com ele, amplie sua visão de mundo, independente da “distante” relação que transporte naval possa ter com cardiologia.
Todos nós somos em maior ou menor grau, especialistas, mas temos que estar atentos para não fechar as portas de nossas mentes para outras realidades fora de nossa especialidade. Todos podemos ser, ao mesmo tempo, especialistas e generalistas.

Quero voltar a insistir na questão da leitura. Ler! Ler muito!
Não há substituto eficaz para a leitura e, em minha opinião, é muito difícil construir uma mente inteligente com pouca leitura. Portanto, leia!

Lembre-se, amigo leitor, o Mundo é uma grande escola e para o bom aluno ela tem muito a ensinar. Bom trabalho!

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