Kátia R. Maffei dos Reis*
Falar sobre educação gera polêmica. Uma pessoa lhe pergunta sua profissão e você
responde: professor. Nesse momento, a expressão e os comentários de pena
ganham a cena. Infelizmente, na opinião popular, professor é um trabalhador
sofrido, injustiçado, que perdeu o respaldo e ainda recebe um salário miserável.
Se assim fosse, a profissão já havia sido extinta. Afinal, por que continuar sendo
professor se tudo é tão massacrante?
Acredito que essa ideia tão negativa começou a se propagar com notícias de
violência contra o educador, com greves da classe, e pela má interpretação de
algumas leis. As frases mais comuns são “professor não pode fazer nada”,
“perdeu a autoridade”.
Comecei a trabalhar como professora há cinco anos, um ano depois de concluir
a licenciatura em Letras. Inicialmente, apenas no turno da noite, porque eu
gerenciava uma loja durante o dia; três anos depois, consegui trabalho em mais
uma escola.
Deixei o comércio para ser somente professora, atividade com a qual me realizo.
Ser educador não é esse caos que fomentam por aí. A verdade é que os alunos
mudaram. Os estudantes de hoje são a geração Z, da tecnologia, da inovação,
o que também pede educadores de uma nova geração. Não precisa ser da mesma
faixa etária, aliás, nem é possível, mas no mínimo com uma cabeça Z.
É comum ouvir discursos como “no meu tempo os alunos eram melhores”.
Acontece que esse tempo já foi. Agora, o tempo é outro. Precisamos aceitar que a
evolução deve ser acompanhada. E que bom que os alunos mudaram. São eles os
responsáveis por deixar nossa mente tão aberta. Ser professor dessa geração é ter
o privilégio de rejuvenescer todos os dias. É assim que eu me sinto. E isso não
significa que eu não levo meu trabalho a sério. Pelo contrário.
Sempre tenho minhas aulas bem elaboradas, exijo o empenho da gurizada, cobro
muito diariamente, tudo é avaliado na minha aula: rendimento técnico, relações
humanas, cumprimento de normas.
Os adolescentes devem ter a consciência de que todos os atos geram alguma
consequência. No entanto, tudo isso não precisa ser feito na base do berro,
da ofensa, da régua, do grão de milho. Física ou verbal, violência gera mais
violência. Isso não é novidade. Obviamente, sempre existem os dias difíceis,
em que todas as tentativas de conduzir a aula parecem frustrantes.
Há os momentos em que se faz necessário levantar o tom de voz e falar com
firmeza, mas não com estupidez.
Dessa maneira é que se vai adquirindo respeito como professor. Precisamos parar
de arranjar desculpas: famílias mal estruturadas, leis polêmicas, salários não tão
atraentes. Com certeza, esses fatores devem ser pensados, mas não é por isso que
podemos desistir das nossas convicções. Cada um deve fazer a sua parte e jamais
esquecer que a educação se constrói com base em bons exemplos.
*Professora especialista de língua portuguesa e literatura das redes
particular e municipal de ensino, em Farroupilha (RS)
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