Mentes que visitam

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

AMIGOS SECRETOS




Oscar Bessi Filho 


Toda vez que enfrento – sim, a gente enfrenta, pois é um desafio de escolha,
tempo e preço compatível – esse tal de amigo secreto, contemplo a abertura
dos presentes e fico matutando como acontece aquele ritual noutras rodas. 
Sou curioso. Entre meus amigos, há um combinado de presentes a dérreal, etc.
Não se vai muito além. Que a gente ainda tem filhos, impostos, festas, colégios,
confraternizações e todo aquele estresse de final de ano. Que não acaba nem 
no ano que era para o mundo acabar. Enfim. Minha maior dúvida é o que dar 
de presente. Ainda mais para homens. Mas há situações piores. Como deve 
ser o amigo secreto, por exemplo, entre os parceiros num esquema de desvio 
de dinheiro público?

Numa mansão qualquer, com segurança privada “top”, eles degustam um 
champanhe (não espumante, essa coisa nacional e barata) e brindam. 
Foi um bom ano. Entre escândalos e CPIs, saíram todos vivos. Ou eleitos. 
E com mais contas na Suíça. Na hora do amigo secreto, o primeiro a abrir o
 presente ganha uma rodovia para asfaltar. Com um jogo de pedágios. 
Os outros aplaudem e ensaiam um “óh!”. Novo amigo secreto, novo presente.
O sujeito afrouxa a gravata e abre o pacote. É um kit educação com duas 
escolas para construir, uma rede de creches para abastecer com merenda e
 uns índices de previdência para tirar no salário dos professores. 
Aplausos. Vivas. 
Outro, ganha um lote de concessões para a Copa. Inclui até o merchan da 
birita liberada nos estádios. A noite segue e ainda surgem umas compras de
saúde pública, licitações com empreiteiras douradas, lista fantasma para 
desviar bolsa-família, etc. Encabulado, o último diz que não teve muito tempo
 para procurar, mas conseguiu umas cuecas e meias de fundo falso. 
Aplausos tímidos. 
Pô, isto até vereador consegue, cochichou um dos presentes.

Agora, não quero nem pensar em como é o Natal no núcleo de comando do
PCC. O que eles bebem e o que eles ouvem. Muito menos quem paga a festa.
Os presentes? Macabros. Dizem que um dos líderes recebeu uma cabeça de
policial. E quem mandou nem foi gente do PCC. Foi de um bando muito, mas
muito maior. Outro amigo secreto que eu não queria nem chegar perto é o 
daquela torcida organizada do Grêmio, que fez fiasco na inauguração da 
Arena. Eles sempre brigam no final. Nem que seja com eles mesmos.

Aliás, alguém aí pode convidar é o Papai Noel para um amigo secreto. 
Que tal? O sujeito só dá, dá, dá presente e não recebe nada. Uma injustiça.
 E que mal há, caro leitor, se eu acredito em Papai Noel? Eu ainda creio num
 combate às drogas e a violência em nosso país. Papai Noel é café pequeno.

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