Oscar Bessi Filho
Toda vez que enfrento – sim, a gente enfrenta, pois é um desafio de escolha,
tempo e preço compatível – esse tal de amigo secreto, contemplo a abertura
dos presentes e fico matutando como acontece aquele ritual noutras rodas.
Sou curioso. Entre meus amigos, há um combinado de presentes a dérreal, etc.
Não se vai muito além. Que a gente ainda tem filhos, impostos, festas, colégios,
confraternizações e todo aquele estresse de final de ano. Que não acaba nem
no ano que era para o mundo acabar. Enfim. Minha maior dúvida é o que dar
de presente. Ainda mais para homens. Mas há situações piores. Como deve
ser o amigo secreto, por exemplo, entre os parceiros num esquema de desvio
de dinheiro público?
Numa mansão qualquer, com segurança privada “top”, eles degustam um
champanhe (não espumante, essa coisa nacional e barata) e brindam.
Foi um bom ano. Entre escândalos e CPIs, saíram todos vivos. Ou eleitos.
E com mais contas na Suíça. Na hora do amigo secreto, o primeiro a abrir o
presente ganha uma rodovia para asfaltar. Com um jogo de pedágios.
Os outros aplaudem e ensaiam um “óh!”. Novo amigo secreto, novo presente.
O sujeito afrouxa a gravata e abre o pacote. É um kit educação com duas
escolas para construir, uma rede de creches para abastecer com merenda e
uns índices de previdência para tirar no salário dos professores.
Aplausos. Vivas.
Outro, ganha um lote de concessões para a Copa. Inclui até o merchan da
birita liberada nos estádios. A noite segue e ainda surgem umas compras de
saúde pública, licitações com empreiteiras douradas, lista fantasma para
desviar bolsa-família, etc. Encabulado, o último diz que não teve muito tempo
para procurar, mas conseguiu umas cuecas e meias de fundo falso.
Aplausos tímidos.
Pô, isto até vereador consegue, cochichou um dos presentes.
Agora, não quero nem pensar em como é o Natal no núcleo de comando do
PCC. O que eles bebem e o que eles ouvem. Muito menos quem paga a festa.
Os presentes? Macabros. Dizem que um dos líderes recebeu uma cabeça de
policial. E quem mandou nem foi gente do PCC. Foi de um bando muito, mas
muito maior. Outro amigo secreto que eu não queria nem chegar perto é o
daquela torcida organizada do Grêmio, que fez fiasco na inauguração da
Arena. Eles sempre brigam no final. Nem que seja com eles mesmos.
Aliás, alguém aí pode convidar é o Papai Noel para um amigo secreto.
Que tal? O sujeito só dá, dá, dá presente e não recebe nada. Uma injustiça.
E que mal há, caro leitor, se eu acredito em Papai Noel? Eu ainda creio num
combate às drogas e a violência em nosso país. Papai Noel é café pequeno.
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