A 4ª PERGUNTA
Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?
MARCELO GONZATTO
O desafio da educação brasileira não se resume a estimular crianças e adolescentes a
aprender.
Exige, também, encontrar quem se disponha a ensiná-los. Nas últimas décadas, a
perda de interesse dos jovens pela carreira de professor dificulta a seleção de
educadores em quantidade e qualidade suficientes para garantir o salto de desempenho
que se espera nas escolas. Ao cativar o interesse de apenas 2% dos estudantes do
Ensino Médio, conforme demonstrado pela pesquisa A Atratividade da Carreira
Docente no Brasil, o magistério brasileiro segue caminho inverso ao de países
desenvolvidos.
Em lugares como Japão, Finlândia ou Coreia do Sul, todos com ensino de excelência,
Em lugares como Japão, Finlândia ou Coreia do Sul, todos com ensino de excelência,
a atividade conta com bons salários e reconhecimento social. Por isso é capaz de
peneirar candidatos entre os melhores alunos. No Brasil, os baixos rendimentos, a
perda de status e o desgaste do trabalho contribuem para o envelhecimento da
categoria e despertam temor em relação ao futuro da profissão.
Em apenas quatro anos, entre 2007 e 2011, as sinopses estatísticas da Educação Básica
Em apenas quatro anos, entre 2007 e 2011, as sinopses estatísticas da Educação Básica
revelam que o percentual de docentes com menos de 24 anos caiu de 6% para 5,1% no
país, enquanto a proporção de mestres com mais de 50 subiu de 11,8% para 13,8%.
No Rio Grande do Sul, o fenômeno se repete: os educadores mais jovens reduziram de
5% para 4,7%, e os mais velhos avançaram de 16,3% para 18,1%. Para a coordenadora
do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas,
Regina Pacheco, as razões vão além dos baixos salários:
– Precisamos repensar o trabalho do professor e a carreira no setor público, que segue
– Precisamos repensar o trabalho do professor e a carreira no setor público, que segue
um modelo de cem anos atrás. Hoje, a concepção de vida é outra, os mais jovens
querem ir atrás de oportunidades, enquanto o sistema prevê que fiquem 30 anos
fazendo a mesma coisa.
Conforme a pesquisadora, além de dificultar a renovação da categoria, as más
condições de trabalho estimulam distorções como excessos de faltas e licenças.
Confira, a seguir, um resumo das condições que afugentam novos professores.
Fonte: realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor
Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em
dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados
em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar
Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de professor.
Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.
Magistério atrai novo perfil de candidatos
Nos últimos anos, o abandono da profissão de professor pelas classes mais abastadas
abriu espaço para um novo perfil de candidato ao magistério: estudantes de colégios
públicos, filhos de pais com baixa escolaridade, e que são os primeiros de suas
famílias a chegar à universidade.
Conforme a pesquisa A Atratividade da Carreira Docente, quanto maior o nível
socioeconômico e a escolaridade dos pais, menor a intenção de se tornar educador.
Essas características ilustram o caso da estudante do 4º semestre de Pedagogia da
Essas características ilustram o caso da estudante do 4º semestre de Pedagogia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Nathália Cargnin, 20 anos.
Filha de uma ex-doméstica, atualmente auxiliar de serviços gerais, ela entrou na
carreira por um empurrão do destino.
– Minha mãe se enganou ao fazer a matrícula no Instituto de Educação (Flores da
– Minha mãe se enganou ao fazer a matrícula no Instituto de Educação (Flores da
Cunha) e, em vez do Ensino Médio normal, me inscreveu no Magistério. Mas acabei
gostando e resolvi seguir a carreira – conta Nathália, que mora na Restinga e hoje
atua como bolsista na UFRGS.
A escolha da profissão, porém, foi recebida com estranhamento entre amigos –
refletindo a pouca apreciação social da atividade hoje no país.
– Muitas pessoas me diziam que eu era inteligente, não deveria passar o resto da vida
limpando bunda de nenê ou me tornar uma futura grevista – conta, fazendo referência
a sua intenção de trabalhar com Educação Infantil.
A candidata a professora, que também está se habilitando para trabalhar com séries
A candidata a professora, que também está se habilitando para trabalhar com séries
iniciais e Educação de Jovens e Adultos, faz uma aposta:
– Acho que as nossas condições de trabalho vão melhorar. O Brasil está vendo que é
– Acho que as nossas condições de trabalho vão melhorar. O Brasil está vendo que é
necessário ter educação de qualidade. Para isso, é preciso ter melhor remuneração,
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