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domingo, 14 de outubro de 2012

POR QUE APENAS 2% QUEREM SER PROFESSORES?


 

A 4ª PERGUNTA
Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?


MARCELO GONZATTO

O desafio da educação brasileira não se resume a estimular crianças e adolescentes a
 aprender.
Exige, também, encontrar quem se disponha a ensiná-los. Nas últimas décadas, a 
perda de interesse dos jovens pela carreira de professor dificulta a seleção de 
educadores em quantidade e qualidade suficientes para garantir o salto de desempenho
 que se espera nas escolas. Ao cativar o interesse de apenas 2% dos estudantes do 
Ensino Médio, conforme demonstrado pela pesquisa A Atratividade da Carreira 
Docente no Brasil, o magistério brasileiro segue caminho inverso ao de países 
desenvolvidos.

Em lugares como Japão, Finlândia ou Coreia do Sul, todos com ensino de excelência, 
a atividade conta com bons salários e reconhecimento social. Por isso é capaz de 
peneirar candidatos entre os melhores alunos. No Brasil, os baixos rendimentos, a 
perda de status e o desgaste do trabalho contribuem para o envelhecimento da 
categoria e despertam temor em relação ao futuro da profissão.

Em apenas quatro anos, entre 2007 e 2011, as sinopses estatísticas da Educação Básica
 revelam que o percentual de docentes com menos de 24 anos caiu de 6% para 5,1% no
 país, enquanto a proporção de mestres com mais de 50 subiu de 11,8% para 13,8%. 
No Rio Grande do Sul, o fenômeno se repete: os educadores mais jovens reduziram de 
5% para 4,7%, e os mais velhos avançaram de 16,3% para 18,1%. Para a coordenadora
 do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, 
Regina Pacheco, as razões vão além dos baixos salários:

– Precisamos repensar o trabalho do professor e a carreira no setor público, que segue 
um modelo de cem anos atrás. Hoje, a concepção de vida é outra, os mais jovens 
querem ir atrás de oportunidades, enquanto o sistema prevê que fiquem 30 anos 
fazendo a mesma coisa.

Conforme a pesquisadora, além de dificultar a renovação da categoria, as más 
condições de trabalho estimulam distorções como excessos de faltas e licenças. 
Confira, a seguir,  um resumo das condições que afugentam novos professores.

Fonte: realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor 
Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em 
dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados 
em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar 
Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de professor. 
Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.


Magistério atrai novo perfil de candidatos

Nos últimos anos, o abandono da profissão de professor pelas classes mais abastadas 
abriu espaço para um novo perfil de candidato ao magistério: estudantes de colégios 
públicos, filhos de pais com baixa escolaridade, e que são os primeiros de suas 
famílias a chegar à universidade.

Conforme a pesquisa A Atratividade da Carreira Docente, quanto maior o nível 
socioeconômico e a escolaridade dos pais, menor a intenção de se tornar educador.

Essas características ilustram o caso da estudante do 4º semestre de Pedagogia da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Nathália Cargnin, 20 anos. 
Filha de uma ex-doméstica, atualmente auxiliar de serviços gerais, ela entrou na 
carreira por um empurrão do destino.

– Minha mãe se enganou ao fazer a matrícula no Instituto de Educação (Flores da 
Cunha) e, em vez do Ensino Médio normal, me inscreveu no Magistério. Mas acabei
 gostando e resolvi seguir a carreira – conta Nathália, que mora na Restinga e hoje 
atua como bolsista na UFRGS.

A escolha da profissão, porém, foi recebida com estranhamento entre amigos – 
refletindo a pouca apreciação social da atividade hoje no país.

– Muitas pessoas me diziam que eu era inteligente, não deveria passar o resto da vida 
limpando bunda de nenê ou me tornar uma futura grevista – conta, fazendo referência
a sua intenção de trabalhar com Educação Infantil.

A candidata a professora, que também está se habilitando para trabalhar com séries 
iniciais e Educação de Jovens e Adultos, faz uma aposta:

– Acho que as nossas condições de trabalho vão melhorar. O Brasil está vendo que é 
necessário ter educação de qualidade. Para isso, é preciso ter melhor remuneração, 
mais horas para planejar aulas. Eu acredito no futuro da educação.






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