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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Homem Que Venceu Auschwitz

Como todos os livros que relatam atrocidades de qualquer guerra, em particular as do Holocausto, “O Homem Que Venceu Auschwitz” impressiona. Cria forte mal-estar ao retratar os requintes de crueldade de que um ser humano é capaz em relação ao próximo. Por outro lado, relembra como a solidariedade e a força de vontade podem mudar o curso da história de cada um. Nessa obra, o inglês Denis Avey, de 90 anos, ex-soldado e prisioneiro na Segunda Guerra Mundial, relata a experiência que viveu aos 20 a Rob Broomby, ex-correspondente da BBC em Berlim.

Se o testemunho de Avey sobre a guerra já é assustador, pior é a proximidade que teve com o campo de concentração de Auschwitz. Impressiona ainda mais a sua coragem de entrar naquela pequena amostra de inferno deliberadamente, após correr grande perigo e trocar de roupa com um de seus habitantes – se é que assim se pode chamar quem foi obrigado a existir naquele lugar.
Ainda assim, quem abre o livro movido pelo título tem de ter alguma paciência. O relato detalhado da participação de Avey na guerra até ser feito prisioneiro pelos alemães e jogado no campo de trabalhos forçados vizinho a Auschwitz é cansativo. Minucioso demais. Até chegar ao ponto, o leitor tem de atravessar mais de cem páginas. Algumas revelações, porém, são fundamentais para entender o que o moveu a tomar atitude tão temerária.
Avey era um rapaz de pouco mais de 20 anos quando se alistou na guerra mais por espírito de aventura do que por patriotismo. Tinha boa educação e carregava no DNA um senso ferrenho de justiça. Passou pelos preparativos para entrar em combate e tomou consciência de que todos estavam sendo transformados em máquinas de matar. Por fim, viveu na carne a dureza dessa aventura, que se transformou em pesadelo ao lado da sua companhia em combate com os italianos na África.
Experimentou privações, doenças, medos e perdas até que foi feito prisioneiro por duas vezes. Na primeira, conseguiu escapar de forma espetacular do navio que o levaria à prisão e naufragou, deixando-o à deriva por dias até ir parar em algum ponto do litoral da Grécia. Na segunda, foi encerrado no campo de trabalhos forçados E715, bem ao lado de Auschwitz III.
A partir daí, a história toma outro rumo e provoca no leitor uma mescla de revolta com sentimentos de esperança ao ver que, mesmo nos locais mais desolados, ainda se pode encontrar resquícios de solidariedade. Avey protagonizou um desses casos ao trocar de lugar – por duas vezes, durante um fim de dia e uma noite – com um prisioneiro judeu chamado Ernst.
Ele decidiu se infiltrar no campo para depois testemunhar diante da humanidade o que acontecia lá dentro. E presenciou barbaridades, como um soldado bater na cabeça de um resistente jovem judeu e feri-lo até a morte. Ou o assassinato de um bebê, no colo da mãe, com o violento tapa de um agente nazista irritado com o seu choro.
Com o fim da guerra, os prisioneiros foram libertados – a descrição dessa libertação também é angustiante. Avey nunca mais viu Ernst. Por meio da irmã dele – para quem havia conseguido enviar notícias do irmão durante o confinamento -, soube que sobreviveu. Depois de viver na Inglaterra, Ernst se estabeleceu como comerciante bem-sucedido nos Estados Unidos.
Avey também recuperou a sua vida e se firmou. Casou-se, teve filhos e netos. Mas passou por um transtorno de estresse pós-traumático que o manteve calado sobre essa história por quase 60 anos.

Fonte: Cristina R. Durán

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