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quarta-feira, 1 de junho de 2016

CASAMENTO REAL x OSAMA


Alguém que sigo no Twitter (meu segundo lar, diga-se de passagem) disse que nestes últimos dias o mundo vivenciou uma história digna do universo encantado de Wall Disney. O twett desta pessoa, sobre a qual não estou tentando criar nenhum mistério simplesmente não lembro quem é,  dizia algo como: O príncipe casou com uma linda plebéia e, após tantas lutas, o vilão foi morto pelo mocinho. É isso mesmo? por favor me digam ... estamos mesmo vivenciando um momento histórico que contaremos com uma enorme nostalgia e alegria aos nossos netos? bom, pra variar não estou muito convencida e confiante nessa euforia ocidental. 

Pra início de conversa acho que a relação entre o casamento real e a morte de Osama Bin Laden será sempre incompatível ... principalmente quando pensadas sobre o prisma das emoções que despertaram. A meu ver, o casamento do Príncipe inglês acendeu uma chama de encantamento nas pessoas, elas pararam tudo que estavam fazendo para acompanhar cada detalhe da construção do cenário em que seria encenada a mais nova história de amor do mundo. Nela, há todos os elementos que compõem um típico conto de fadas ocidental: um príncipe que teve uma triste trajetória na infância e, por fim, se apaixona por uma linda e carismática plebéia, uma rainha misteriosa e controversa, uma família real com uma extensa trajetória de intrigas, desastres, escândalos e, ao mesmo tempo, magia e aura de poder.  Cá entre nós, não é o enredo mais original do mundo e nem o que mais me agrada, mas ainda assim funciona, e funciona muito bem. Não, não é ironia. Acredito honestamente que o casamento real despertou algo positivo nas pessoas, de alguma forma elas se envolveram, se permitiram sonhar e compartilhar o súbito clima de romantismo e festejo que se espalhou pelo ocidente. A história toda foi como uma fuga em massa da realidade cinzenta para um universo de encantamento no qual os finais felizes são possíveis. O casamento de tornou um refúgio para aqueles que o excesso de realidade já havia secado, definhado ... uma esperança. E isso é ótimo! 

Mas então, chegamos ao ponto com o qual não consigo concordar. Nesta segunda-feira, os sites de notícia do mundo inteiro começaram a divulgar a notícia de que Osama Bin Laden estava morto. O cara do 11 de setembro havia morrido. Ok. Tudo bem. As informações foram chegando, as notícias se acumulando até que eu parei um segundo e percebi que algo estava muito errado ... "Peraí", em primeiro lugar ele não foi morto e sim assassinado ... não, não é a mesma coisa e ... SIM, isso faz toda diferença. Alguém consegue imaginar que, caso o Obama fosse morto em um ataque idealizado por Bin Laden, algum jornal utilizaria o termo MORTO no lugar de ASSASSINADO? ... É claro que não estou aqui defendendo o Osama Bin Laden, muito menos validando nenhuma de suas ações ... na verdade estou mesmo preocupada com o espetáculo que sua morte se tornou. Em poucos minutos após a confirmação do fato, americanos saíram às ruas para comemorar, beber e festejar como se tivessem ganho alguma final de campeonato. Pessoas de todos os países, principalmente os ocidentais, mandavam mensagens pelo Twitter festejando o que, a meu ver, foi mais um derramamento de sangue em uma sociedade doente e ainda medieval. 

As manifestações após a morte do, então dito, maior inimigo do ocidente trouxe consigo não o sentimento de encantamento gerado pelo casamento real, mas um clima de libertação de um ódio insaciável por vingança. As imagens pareciam as reproduções típicas do mundo antigo no qual a população clamava pelo sangue, pela crucificação e açoitamento de seus criminosos. Então é isso? é essa nossa sociedade? é isso que somos? ... Honestamente, não vejo diferença entre as ações desumanas sejam elas oriundas do ocidente ou do oriente, do norte ou do sul, do leste, do oeste ... E o que assisti foi a mais cruel manifestação de apologia à violência, aos massacres, às guerras e aos atentados, de que já tive notícias.

Alguém pode se perguntar se eu fiquei triste com a morte de Bin Laden, e respondo que SIM, eu fiquei. Assim como me entristeci com as mortes do 11 de setembro, das guerras históricas que só promovem o ódio, a discriminação e as divisões imbecis que os poderosos estabelecem e nós acatamos eufóricos. Não há o que se comemorar na vigança. Não há o que se comemorar em uma guerra. Ninguém nunca vence. A história apenas se repete e aumenta o número de corpos ... de mortos ... de futuras retaliações. Até quando isso irá durar? quanto sangue precisa ser derramado para saciar nossa sede? A humanidade, desde sempre, baseou sua história nos inúmeros conflitos que travou e, pelo que assisti e pelo que continuo assistindo, isso nunca irá mudar. A humanidade promove e celebra a violência, mesmo sabendo que ela será a única vítima do terror que gera.

Ao meu colega de Twitter, sinto informar que o final feliz esperado por ele não parece próximo. Existirá apenas na imaginação dos plebeus que sonham com o mundo encantado de Wall Disney ou com príncipes, princesas e seus castelos ... No mundo de verdade a felicidade parece sempre estar mais distante de nós do que nosso próprio fim.



    Mabel Oliveira Teixeira
              Jornalista

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