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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Como os políticos manipulam nossos cérebros?

O cérebro humano toma duas espécies de decisões:
(a) uma rápida, que é emocional ou intuitiva (aqui atuamos de modo impulsivo – nossos ancestrais assim agiam diante de um animal feroz; esse pensamento rápido é o responsável pela nossa existência hoje; se eles não tivessem sobrevivido, transmitindo seus gens aos descendentes, não estaríamos mais de sete bilhões de pessoas no mesmo planeta);
(b) outra lenta, que é racional ou cognitiva (e fruto de pensamentos mais reflexivos). Diante de qualquer crise (ou sério problema) nosso cérebro a encara em cinco etapas (três emocionais e duas racionais): 1ª) negação do problema; 2ª) busca de culpados; 3ª) medidas desesperadas; 4ª) aceitação do problema e 5ª) busca de soluções racionais.[1]
O pensamento político brasileiro, em geral, transita bem pelas três primeiras fases citadas (“nego que participei do crime”, “todas as doações foram legais”, “nada errada há no meu governo” etc.); raramente alcança a quarta e normalmente não busca soluções racionais para nossos graves problemas coletivos. A chance de erro é maior quando tomamos decisões desesperadas, emocionais ou impulsivas, que são (Desgraçada Mente) as mais frequentes no nosso dia a dia. A chance de acerto é maior nas decisões mais refletidas (mais racionais). Cem por cento de acerto (em todas as nossas decisões) não existe. “Erros são parte do preço que pagamos por uma vida plena” (Sophia Loren). De qualquer modo, “Ninguém deve cometer a mesma tolice duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande” (Jean-Paul Sartre).
Quanto mais nos falta tempo para a tomada das decisões e quanto mais nos faltam informações, mais emocionais elas são. “A falta de informação é a variável com a qual mais jogam os políticos” [assim como os meios midiáticos e os difusores ideológicos] (Pedro Bermejo, Quiero tu voto, p. 24). O férreo controle da população [sobretudo pelas ditaduras] se faz por meio da limitação do acesso à informação (ou seja: por meio da ignorância).
Gary Becker (prêmio Nobel de Economia de 1992) estudou como os dois fatores já mencionados (decisão imediata, sem tempo para pensar e decisão desinformada ou impulsiva) podem ser inibidos (ou potencializados) diante de dois outros fatores: (a) quanto mais capacidade econômica menos emotividade e menos influenciabilidade e (b) quanto mais capacidade cognitiva (mais inteligência e sabedoria) menos manipulável é a pessoa.[2]
Como se constrói, assim, um novo nazismo, um novo fascismo, um partido ultrarreacionário ou um esquerdismo-fanático (inclusive do tipo stalinista, por exemplo) ou, ainda, um populismo penal irracional? Manipulando os cérebros das pessoas (até se alcançar um tipo de oclocracia, que é o governo influenciado pelas multidões, pelas massas).
De que maneira isso se torna possível? Somando todos os fatores adequados a essa finalidade: (a) falta de tempo e de debate sério sobre as questões em pauta (decisões impulsivas), (b) falta de informação sobre os problemas, (c) manipulação escancarada dos que contam com pouca capacidade econômica bem como (d) dos que possuem precária capacidade cognitiva (capacidade de compreensão e raciocínio).
Os líderes carismáticos e populistas que souberem aplicar as variáveis de tempo e limitação da informação, podem ter uma enorme influência e capacidade de manipulação [sobretudo] naqueles grupos menos formados ou com menores recursos econômicos” (P. Bermejo, Quiero tu voto, p. 26). Se considerarmos que a média de escolaridade do brasileiro anda na casa dos 7,2 anos (igual a Zimbábue), logo se vê o campo imenso e fértil para muitos tipos de manipulação. O Brasil, neste aspecto, mesmo que se saiba que a emoção, sobretudo no campo das políticas públicas, é perturbadora da razão (Descartes), continua sendo um dos melhores paraísos do planeta para a manipulação política, ideológica e midiática.

Por Luiz Flávio Gomes

[1] BERMEJO, Pedro, Quiero tu voto, Madrid: LID Editotial Empresarial, 2015, p. 31 e ss.
[2] BERMEJO, Pedro, Quiero tu voto, Madrid: LID Editotial Empresarial, 2015, p. 26.

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