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sexta-feira, 1 de maio de 2015

O menino e o Mocassim

Andava desconjuntado, meio aflito, meio envergonhado, um menino curioso e educado que jogava futebol sozinho, com aqueles sapatos mocassim. Sapatos estes que odiava por ao pé, chutava a bola pra La e pra ca ate perde-los ao ar. Colocava-os apressado, e o futebol não podia parar. Tratava com pouco respeito aquele artefato de couro, sem entender o que representava para seu pai, este que via o significado da humildade, sem perder o requinte das pessoas cultas.
Sonhava em seu mundo imaginário, sem fronteiras, onde tudo podia. Queria ser grande, fazer coisas nobres, e dar a seu pai o que orgulhar. Apesar de não saber o como fazê-lo, não perdia a esperança de menino, acreditava em algo justo e maior, mesmo sem saber qual era seu destino.
Com o passar dos anos, seu velho mocassim ficou ali jogado, como o antigo garotinho do futebol, que agora era adolescente, e não mais queria saber daquele velho e imundo sapato de seu pai. Queria coisas novas, tênis de skate e bota de couro. Queria estar na moda e fazer parte de um grupo social como todos. E não sabia o menino, que sua vida estava destinada ao mocassim, que aquele velho sapato um dia representaria orgulho e sabedoria.
O tempo passa, o menino já crescido, encontra seu destino meio aos tribunais, estudando e aprendendo, vendo gente fina e elegante e via tantos sapatos mocassim quantos podia contar. O que era aquilo, um clichê social? Não, era um perfil, perfil de gente grande que já estava impregnado em sua alma, sei lá devia ser coisa de seu pai. Contudo, já sabia como se portar, um menino adequado para aquele lugar.
Percebera que já não estava mais sozinho, que tudo é questão de se encontrar. Agora podia ser diferente, grande como queria, sem fronteiras como imaginava, ajudar pessoas com seu conhecimento e senso ético, e viver daquilo que tanto gostava. Ser grande não era tão difícil assim, era só questão de olhar aquele velho mocassim como olhava seu velho pai.

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