No próximo dia 23 de abril, comemora-se o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, data oficializada pela Unesco em 1996 e que é festejada em mais de cem países. A Espanha, desde 1926, já celebrava o livro na data da morte de Shakespeare e Cervantes. Na região espanhola da Catalunha, é o Dia de São Jorge, da Rosa e do Livro: o dia do padroeiro, do amor e da cultura. As mulheres recebem flores dos homens e retribuem presenteando-os com livros.
Diante da profusão de novas plataformas de leitura, a cadeia produtiva do livro começa a se preocupar com o futuro do livro impresso. Após o surgimento das novas tecnologias para a publicação de conteúdo, como a internet, o processo de produção, edição e impressão de livros na forma convencional se tornou motivo de debate.
Não confundo o futuro do livro com o futuro do papel. Nunca tantas ideias forma escritas como na era digital. As plataformas impressas e digitais não são excludentes, mas complementares. Ao lado do livro impresso, já temos o livro digital. A internet já é a maior biblioteca do mundo. Vivemos uma verdadeira reinvenção do livro ante o mundo digital, com novos paradigmas no mercado editorial e de linguagem. Começa-se a ler cada vez mais em celulares e tablets. Contudo, em qualquer uma de suas formas, o livro não foi só uma celebração do conhecimento e registro da memória da espécie humana, mas uma celebração da vida.
O filme O Leitor nos mostra que, se existe alguma redenção para o ser humano, ela passa pela linguagem. A falta de comunicação ou o erro nela podem ser determinantes nas vidas das pessoas. Os livros falam e dialogam com os homens e são amigos valiosos em nossas vidas. O mundo vive um paradoxo: na era da internet e do celular, ainda reina a incomunicabilidade, pois as questões essências não são ditas e tudo passou a ser descartável.
Em 2008, uma escola formada por escritores, em Londres, que se denominou Escola da Vida, criou a chamada biblioterapia, que consiste em indicar leituras para o perfil do aluno / cliente, numa verdadeira terapia através dos livros. Em tempos em que um livro é publicado a cada trinta segundos e seriam necessárias 163 vidas para ler todos os livros oferecidos somente pelo site Amazon (como bem lembra o site da escola), as sessões de biblioterapia podem ser um guia para quem está perdido.
A boa leitura é uma experiência mágica. Nos livros, conhecemos santos, reis, filósofos e homens comuns. Podemos saber o que disseram Jesus Cristo na Palestina e Gautama Buda no continente asiático. A leitura de um livro não pode parecer uma obrigação, deve ser um ato de prazer ou de paixão. Um livro tem que ser uma forma de felicidade. Alguém já disse que o livro é apenas um instrumento para encontrarmos a verdade por nós mesmos. “Todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra é um instrumento que lhe permite discernir o que, sem ele, não teria visto em si”, afirmava o escritor Marcel Proust, filosofando sobre a leitura.
O livro atravessou eras de guerras e perseguições, sobreviveu e, mais ainda, saiu fortalecido. Nesta época de contradições e incertezas, a cultura e o livro são as armas para se manterem os valores básicos do homem acima dos conflitos econômicos e de credo.
Desejamos contribuir para que o amor pelos livros e a leitura sejam disseminados em nosso país, que ainda precisa conquistar para seu povo um maior acesso ao livro. Queremos contagiar o maior número possível de pessoas ou, no dizer do bibliófilo José Mindlin, inoculá-las com essa espécie de loucura mansa, que é a paixão pelos livros. O livro é uma forma de resistência e reexistência numa globalização que trouxe mais solidão e exclusão social. Longa vida ao livro!
Fonte: Antônio Campos - Advogado e Escritor.
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