Treze meses após o lançamento, o Orçamento Fácil superou a marca das 200 mil visualizações nas redes sociais e pela página www.senado.leg.br/orcamentofacil. É o primeiro material pedagógico desenvolvido pelo Senado com recursos multimídia para ajudar os brasileiros a conhecer o Orçamento do país e as leis que o regem.
— A linguagem usada no projeto é a raiz do seu sucesso — avalia o responsável pela roteirização dos vídeos, Bernardo Ururahy, da Agência Senado e cineasta de formação.
Para quem ainda não sabe, a área de comunicação do Senado (Secom) desenvolveu uma série de animações para explicar de um jeito simples o orçamento público. Por enquanto, são 12 vídeos que, de um modo lúdico, facilitam o entendimento sobre leis orçamentárias, como o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), que deixam de ser uma sopa de letras ao cidadão comum. Os vídeos mostram como elas são importantes para o dia a dia.
Conhecê-las permite ao cidadão participar não só da elaboração, mas também da execução. Isso se chama controle social do orçamento público.
— Os brasileiros precisam se interessar pelo que é feito com o dinheiro arrecadado aos cofres públicos na forma de impostos, taxas e contribuições. Só assim poderão participar efetivamente do processo orçamentário —, afirma a consultora de orçamento do Senado Rita Santos, integrante do núcleo do projeto.
Embora focado nos alunos do ensino médio, o que a divulgação nas redes sociais tem demonstrado é que o alcance se estende de jovens com idade superior a 13 anos até idosos com mais de 65 anos. O maior número de acessos está entre os que têm entre 35 e 54 anos, como mostra o gráfico ao lado. Outra avaliação possível é a expressiva participação, entre os seguidores do canal, dos que estudam para concurso público. Há, inclusive, quem tem deficiência auditiva. Os vídeos são legendados, garantindo essa acessibilidade.
Ainda não foi feita pesquisa que consolide o perfil do internauta que busca o Orçamento Fácil. No entanto, é possível identificar professores que utilizam as animações como material didático para auxiliá-los em sala de aula, alunos curiosos, cursinhos pela internet e mesmo presenciais para treinamento e capacitação, servidores públicos, funcionários que trabalham em gabinetes de parlamentares e cidadãos comuns à procura de informações nas redes que possam ajudá-los a entender melhor as mazelas do país em que vivem.
As taxas de aceitação dos vídeos e de fidelização no canal impressionam. A primeira alcança 98,6%.
— Isso quer dizer que de cada 70 pessoas que curtem o vídeo, apenas 1 não gosta—, compara o analista de redes sociais Christiano Lopes, do Jornal do Senado.
O indicador de fidelização, ou seja, pessoas que se inscrevem no canal e permanecem como assinantes, também é alto. Atinge 95,4%.
— Qualquer taxa de aceitação e de fidelização acima de 95% em qualquer atividade humana é algo excepcional — avalia Lopes, com a experiência de quase 20 anos na área de tecnologia da informação (TI).
E qual é o segredo para esse sucesso? Para Ururahy, a inovação do projeto não está no tipo de animação, mas sim no casamento benfeito entre os recursos técnicos e a maneira simples de explicar conceitos complexos, usando para isso comparações com situações do cotidiano, de fácil compreensão para os cidadãos comuns.
Exemplo disso é o cofrinho no formato de um porquinho, daqueles que muitas crianças ganham para aprender a juntar economias, a que o desenhista do projeto, Cássio Costa, do Jornal do Senado, recorreu para traduzir o superávit primário.
Esse conceito, que a imprensa já popularizou, indica a economia que o país se compromete a fazer para mostrar aos credores que pode pagar as dívidas. Ou, de um modo mais complicado, é a diferença entre receitas e despesas excluindo o pagamento dos juros da dívida pública. Ou, ainda, é o esforço fiscal para pagar dívida.
Uma decisão acertada, na avaliação de Ururahy, foi a publicação dos vídeos no YouTube, porque favorece o compartilhamento dos conteúdos e interação com os internautas. Ele lembra que o YouTube é a plataforma mais usada para consumo de vídeo na internet. Do total, 67% das visualizações são diretas pelo YouTube (http://tinyurl.com/orcamentofacil). Outros 30% são acessos pelo site do Senado, na página do e-Cidadania, onde está localizado o Orçamento Fácil. E os 3% restantes correspondem a acessos em outros sites que compartilham o link da página.
Levantamento para identificar esses sites revelou que, entre os 25 mais acessados, há instituições públicas de ensino, tanto universidades quanto escolas técnicas e organizações não governamentais (ONGs).
— Isso evidencia que o projeto está focado para a área de educação e conhecimento — ressalta Rita Santos.
Iniciativa mais recente que tem se mostrado apropriada para o projeto é o Tumblr, rede social que tem crescido no exterior nos últimos anos e que atrai principalmente jovens e produtores de conteúdo. Ela funciona como uma espécie de meio-termo entre um blog e uma rede como o Twitter, permitindo publicação de fotos, vídeos e textos mais longos.
Por essas características, é um local para divulgar conteúdos mais descontraídos e criativos, ideal para a comunicação com estudantes. O Senado é um dos poucos órgãos públicos presentes nessa rede. Entrou há apenas quatro meses e já é o quarto site que mais gera acessos para os vídeos da série Orçamento Fácil. Eles estão entre os conteúdos mais procurados no Tumblr do Senado.
Conteúdo do site facilita aulas para universitários de ciências contábeis
No noroeste paulista, a pouco mais de 500 quilômetros da capital, em Votuporanga, os alunos de ciências contábeis da principal universidade da cidade, que tem 95 mil habitantes, aprendem as leis orçamentárias federais pelo Orçamento Fácil.
— Minhas aulas ficaram mais animadas. Consegui participação maior dos alunos e percebo que eles entendem melhor os conceitos — diz a professora Marli Buzzo Sant’Ana.
Desde o ano passado, quando localizou a página pelo Google, ela usa as animações para auxiliar as aulas de contabilidade pública e orçamento. Na grade curricular do curso de contábeis, o tempo de aprendizado da disciplina é pequeno, avalia.
— Os alunos precisam fixar todo o conteúdo em um espaço de 80 horas a 120 horas, sendo que o curso inteiro dura quatro anos — compara.
A professora precisava de material pedagógico que facilitasse e agilizasse o entendimento dos alunos. Encontrou isso no Orçamento Fácil. Passou a usar as noções básicas sobre as leis orçamentárias federais como ponte para a realidade municipal. Os alunos, conta a professora, ficaram mais motivados e começaram a analisar o que os prefeitos dos 15 municípios de onde vêm estão fazendo na administração. Em fevereiro, Marli pediu que eles entrassem em contato com as áreas de orçamento das prefeituras para elaborar um projeto de lei do Plano Plurianual (PPA).
— Os alunos apresentaram o Orçamento Fácil para que os funcionários dos departamentos entendessem o que precisavam para o trabalho — exemplifica ela, que trabalha há 14 anos no Centro Universitário de Votuporanga (Unifev).
Para Marli, poucos autores tratam do tema e a maioria dos livros explica só o Orçamento federal.
— Isso confunde muito os alunos. Agora com as animações ficou mais fácil explicar o que ocorre no âmbito federal e as diferenças na esfera municipal.
Admiradora do projeto, a professora usa o Orçamento Fácil nas consultorias que presta a empresas privadas quando precisa explicar conceitos orçamentários de um jeito simples.
Internauta divulga os vídeos e sugere projeto semelhante sobre a Constituição
Morador da periferia de São Paulo, Alex Eufrásio, 41 anos, técnico de informática com ensino médio completo, é exemplo do brasileiro comum que busca informação pela rede para poder opinar e exercer a cidadania. Interessou-se por política no final do ano passado e começou a consultar os Portais do Senado e da Câmara dos Deputados para saber como tramitavam os projetos de lei.
— O que se prega não é o voto consciente? Para isso, preciso me informar — afirma.
Foi com esse objetivo que se interessou pelo Orçamento Fácil. Localizou as animações pelo YouTube e se tornou fã do projeto.
— Ficou fácil entender assunto tão complexo. Imagino o trabalho que deu para colocar em linguagem acessível.
Há dois anos, Eufrásio criou uma página intitulada Negopatia para denunciar abusos raciais. No entanto, não se considera um ativista.
— Sou negro e tento exercer minha cidadania, compartilhando meus pensamentos — define o internauta, que possui 178 seguidores e quase 3 mil visualizações.
Eufrásio postou o link do Orçamento Fácil e afirma que alguns dos seguidores dele repassaram. Diz que é avesso a rotulações, como esquerda ou direita.
— Meu negócio é conhecer e divulgar a Constituição e defender o país — declara.
Ele já leu duas vezes o texto inteiro da Carta de 1988 e confessa que, no início, não entendia nada.
— Pelo menos 30% dela é de difícil compreensão — calcula. Ele sugere que o Senado faça projeto com a mesma linguagem do Orçamento Fácil para explicar aConstituição.
Mesmo com tantos termos jurídicos, o técnico de informática não desanimou. Começou a estudar trechos da Constituição para poder ter argumentos sólidos. Conta que lê bastante, que compra livros em sebos e que frequenta sites de intelectuais. Tenta estimular outros internautas a seguir o exemplo e conhecer a Constituição.
Legendas permitem utilização por deficientes auditivos
Candidato a vaga no setor público, Bruno Lírio, 25 anos, recém-formado em sistemas de informação, mudou-se para Brasília com os pais. Com deficiência auditiva congênita, usa aparelho para surdez desde 1 ano de idade e fez tratamento intensivo de fonoaudiologia até os 16 para aprender a falar. Resolveu estudar para concurso público depois que enviou o currículo para várias empresas e não obteve lugar no setor privado.
Porém, como concurseiro, também se deparou com novos obstáculos. Os editais exigem conhecimentos específicos sobre orçamento público.
— Comprei material on-line. Mas tive muita dificuldade de entender o texto. Procurei no Google algo que pudesse me ajudar. E, de repente, localizei Senado Federal — Orçamento Fácil. Cliquei no site e os vídeos apareceram, e com legenda — relata Lírio, em entrevista ao Jornal do Senado pela internet.
O concurseiro conta que ficou emocionado com o projeto, que tem lhe ajudado significativamente nos estudos.
— Assisti a todos os vídeos mais de duas vezes e compartilhei com um grupo no Facebook, que está se preparando para o concurso de analista de gestão corporativa da Empresa de Pesquisa Energética — contou.
Como no YouTube as legendas já estão disponíveis em barra de rolagem, os vídeos do Orçamento Fácil no site do Senado usam o recurso em cada tela, facilitando o acesso aos deficientes auditivos e a compreensão dos desenhos.
Linguagem fácil faz escolas adotarem como material
Capixaba de Colatina, Fabricio Moraes Cunha, 36 anos, conheceu o Orçamento Fácil quando fez um dos cursos a distância da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), intitulado Gestão de Convênios para Convenentes, no primeiro semestre do ano passado.
Como é servidor público na área de licitação e compras, além de ser professor de políticas públicas e coordenador de curso a distância de pós-graduação em gestão pública, ele considera indispensável para o desempenho das atribuições possuir conhecimentos sobre orçamento público.
— As animações me auxiliaram muito no curso que fiz na Enap. A linguagem dos vídeos é fácil e possibilita ao aluno que se aprofunde no assunto posteriormente, por meio da leitura de materiais mais complexos — avalia Fabricio.
Acesso da TV pelo YouTube supera 100 mil visualizações e conteúdo será ampliado
Os internautas também estão aumentando a procura no YouTube de conteúdo produzido pela TV Senado. Em 10 meses, os 1.580 vídeos publicados superaram as 100 mil visualizações até meados de março. E, por enquanto, só vão para essa plataforma os vídeos da área de jornalismo e dos programas semanais e mensais. Da média diária de 40 novos vídeos produzidos, apenas 10 são publicados no YouTube.
Essas visualizações compreendem mais de 173 mil minutos assistidos, o que corresponde a 120 dias ininterruptos de programação da emissora, segundo Paulo Sérgio Azevedo, que responde interinamente pela página da TV na internet. E há novidade a caminho.
O Senado, de acordo com Azevedo, está em negociações para firmar parceria com o Google para publicar de modo simultâneo, no YouTube e na página da TV na internet, todo o conteúdo produzido diariamente pela emissora. Isso significa oferecer pelo YouTube os vídeos das sessões plenárias e das reuniões das comissões do Senado, que representam nada menos do que 63% do total da produção da TV. Eles vão ter acesso também ao acervo de 36 mil vídeos.
A parceria com o Google é necessária, continua Azevedo, porque esses vídeos possuem média de duração de 20 minutos cada um. O sistema de automação do processo já foi desenvolvido pelo setor de engenharia da TV.
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