Os marxistas ateus e os cristãos, fingindo esquecer um passado de invasores e injustiças, sentaram-se lado a lado para comentar, cada um de seu jeito, o milênio do cristianismo.
Depois de 60 anos de perseguição aberta ao dissimulado contra os cristãos, em 1988 os marxistas ateus e os cristãos, fingindo esquecer um passado de invasores e injustiças, sentaram-se lado a lado para comentar, cada um de seu jeito, o milênio do cristianismo na Rússia.
Foi um gesto de paz? É mais provável que tenha sido uma trégua, como antigamente, quando havia tréguas de religiões. Com efeito, o marxismo é realmente uma religião: tem seus pontífices máximos que são inapeláveis.
Tem seu colégio de cardeais, que é o políburo; tem seus dogmas, que são indiscutíveis; tem seu culto e rituais feitos para suscitar a emoção; tem seu deus que está na matéria; e tem seu inferno, que são os hospitais psiquiátricos, cheios de políticos dissidentes e as prisões políticas.
Eles ficaram furiosos com Einstein, décadas atrás, quando ele expôs que espaço e tempo não existem separadamente, mas conjuntamente, com perspectiva de observação quadrimensional.
Perspectiva muda com o ponto de vista e movimento do observador. Onde estaria a certeza marxista? Perguntavam-se os comunistas russos! Mas, sobretudo, ficaram muito mais furiosos quando o mesmo Einstein propôs a equivalência da energia e da matéria: o deus matéria dos marxistas, como iria ficar virando deus energia?
Galileu também ficou numa situação parecida muito difícil, quando provou que a terra não está parada, mas gira ao redor do sol: como combinar isto com a palavra de DEUS contida no livro de Josué?
Vê-se então, como os homens são simplórios; tanto quem mata, porque DEUS está na matéria e é matéria, quando quem já matou muito (a inquisição) porque DEUS está n céu.
Mas então, no dia 29 de abril de 1988, Pimen, o patriarca de moscou e de todos os russos, juntamente com os membros do santo sínodo da igreja ortodoxa russa, entram oficialmente no kremlin e foram recebidos por Mikhail Gorbachev que os esperava com um sorriso e gestos fraternos dos braços para comemorar mil anos de cristianismo na Rússia. Ah, se Marx, Lênin e Stalin tivessem saído do túmulo naquele momento!
As palavras de Gorbachev foram muito bonitas, e o mais interessante é que a expressão do rosto parecia realmente sincero. Falou sobre a importância do significado do milênio de cristianização da Rússia, “tanto pelo seu caráter religioso quanto pelo valor que o evento teve para a vida política e social do país, firmando uma importante etapa do desenvolvimento multissecular da história e da cultura nacional do estado russo”
Provavelmente, Marx, Lênin e Stalin apareceram realmente e Gorbachev viu seus vultos carrancudos, porque passou logo e desculpar o passado, dizendo uma boa mentira: “o decreto sobre a separação da igreja do estado e da escola, baixado pela jovem republica soviética em 1918, assinalou uma mudança substancial no relacionamento entre a igreja e o estado, criando as condições para que a igreja pudesse e possa desenvolver suas atividades sem intromissão externa”.
A mentira não se referia somente ao passado, mas também ao presente, pois naqueles mesmos dias os dignitários do patriarcado de moscou, falando a imprensa no mosteiro Danilov, haviam colocado no centro da mesa, um lugar de hora, o seu chefe político supremo, o ministro do culto, um marxista ateu convicto.
A revista russa “em foco” apresentou a fotografia. Mas esta boa mentira emplacou os ânimos tanto dos vivos quanto dos mortos. Toda religião institucionalizada ao redor de um deus no céu, ou de um deus na matéria, uma vez que detém ou simplesmente visa o poder, deve acostumar-se a essas mentiras: chamam-se a estas mentiras de diplomáticas. A igreja católica tem o seu instituto de diplomacia.
Em seguida, Gorbachev recobrou ânimos, então, para que soubessem que os lideres mortos estavam realmente mortos e que ele era agora o líder supremo, reconheceu que, ao longo dos anos do poder soviético, nem sempre as relações entre igreja e estado foram um mar de rosas.
Os acontecimentos trágicos do período do culto a personalidade se fizeram sentir nas organizações religiosas. Mas hoje os erros cometidos em relação a igreja e aos crentes, nas suas tribos e, posteriormente, estão sendo corrigidos. Os crentes também são trabalhadores e patriotas soviéticos e tem pleno direito e manifestar condignamente suas convicções (...); a Perestróica, a democratização e a glasnost dizem respeito a eles do mesmo modo e sem restrições. Isto se refere em partilhar aos costumes humanos gerais e podem contribuir para a causa comum.
“para o nome causa comum”, todos sabem que a causa comum era a situação econômica da Rússia. Se quiser aprofundar este assunto, leia o “relatório para o XIX conferencia nacional do pcus”. Do mesmo Gorbachev, publicado pela editora revan-rj.
Gorbachev, o marxista convicto de que DEUS é a matéria e está na matéria e não no céu, é um político muito hábil que sabe fazer somatória de tudo.
Veja o leitor o fato de sua mulher Raissa, também está convicta, que sendo no meio de patriarca, arcebispo e bispos para comemorar os mil anos do cristianismo na Rússia.
Stalin, também vendo que ao se conseguir destruir mil anos de cristianismo e sendo-se estrangulado pelas circunstancias da segunda guerra, concedeu liberdade aos cristãos para que participassem do esforço coletivo nacional. Não pensem os ingênuos que Gorbachev tenta modificar a filosofia marxista! Não! Ele está realmente preocupado com o seu deus matéria! O que ele realmente não quer é salientar os mil anos de cristianismo na Rússia, mas arrumar a economia e cortar a burocracia que não tem nada a ver com o marxismo, isto é, quer investir mais na produção para elevar o nível de vida do povo
Ele sabe muito bem que a competição com os americanos no campo da tecnologia espacial está desviando demasiado dinheiro e deixando o povo muito insatisfeito. Então, para mostrar que realmente não estava a fim de gastar dinheiro com possíveis guerras, mas que criou a paz dentro e fora da Rússia, aproveitou a comemoração do milênio do cristianismo na Rússia para somar mais um ponto no seu tabuleiro político.
Com isso não se pense que ele não seja sincero! Ele está agindo com extrema sinceridade; mas o objetivo desta sua sinceridade não são os mil anos de cristianismo na Rússia, como pensaram certos jornais católicos e nem a revisão do passado, como supunha certa imprensa internacional, e sim a situação econômica do seu povo, que não deve ficar a margem da história num momento em que a comunidade econômica estava observando a maior parte da economia mundial.
Prova do que estou dizendo é um artigo do economista Vassili Seliunin, da revista russa Novi Mir, de junho de 1988, em que fez uma veemente critica ao “comunismo de guerra” (1917-1921) por causa dos erros e dos horrores realizados pelos bolcheviques já no dia seguinte em que conquistaram o poder.
Isto é, o fato de Lênin ter mandado massacrar milhões de camponeses e ter arruinado a economia soviética que “antes da primeira guerra mundial estava em franca expansão”.
Ora, com toda essa critica a Lênin e ao “comunismo de guerra” Vassili Seliunin visava exaltar a experiência liberal do nep, precursor da Perestróica.
Mas Gorbachev fingiu desconhecer não só esse, como todas as demais que pedem uma revisão histórica. É que na religião marxista, como em todas as religiões, há sempre que distinguir os homens que governam, a linha oficial dos governos que se sucedem e o dogma dentro do qual governo e governantes atuam.
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