:: FRANCISCO VIANNA
Sexta feira, 11 de janeiro de 2013
Em fim de ano, a maioria das pessoas questiona sobre o que de mais importante deverá ocorrer no novo ano. Na maioria das vezes, tais questionamentos são simplistas, uma vez que são tantos os acontecimentos que costumam advir com o desenrolar do ano, que fica difícil para o simples mortal fazer qualquer previsão com segurança. Uma coisa é certa, em tempos de crise econômica – e política nem se fala – todos anseiam que o novo ano seja diferente e essa expectativa acaba sendo a mais importante.
Todavia, ainda vale a pena considerar alguns assuntos isoladamente numa tentativa de avaliar a possibilidade deles mudarem de curso. Um desses assuntos, segundo penso, são os rumos que tomarão a Europa e a América latina em 2013.
Se a considerarmos como uma única entidade geográfica, a Europa tem de fato a maior economia do mundo, ao passo que a América latina, em conjunto, não chega a ser a sexta. Assim considerada, a Europa pode se tornar uma rival militar dos EUA, já a América latina está bem longe disso. Ora, a Europa é um dos pilares do “sistema global”, e o que vier a acontecer com a Europa irá definir em última análise como o mundo irá funcionar. Eu acredito que, ao longo do ano de 2013, o mundo começará a ver com maior clareza o futuro da Europa. Não acredito, por outro lado, que a América latina, como um todo, irá melhorar, pelo contrário. Nações como a Venezuela e a Argentina estão em queda livre, enquanto o Brasil, cujo PIB é maior do que os PIBs latinoamericanos somados, escorrega no pântano da corrupção, da incompetência e do centralismo governamental.
A maioria dos países europeus foi em grande escala influenciada pelas doutrinas políticas e econômicas geradas na Alemanha a partir do final do século XIX e que em seu conjunto cofiguram o que hoje se chama de “socialismo”. Por outro lado, o final do século XX demonstrou sobejamente que o estatismo, a concentração de poder político na mão dos governos nacionais em detrimento dos governos locais e regionais, bem como a centralização da economia na mão do estado – configurando aquilo que hoje chamamos de “capitalismo estatal” – juntamente com a multiplicação de oligopólios, monopólios e trustes, tudo isso junto, fez com que as populações europeias se sentissem falsamente ricas acreditando que seus estados eram portentos capazes de lhes garantir uma vida mais confortável e com um custo menor de trabalho do que a realidade costuma impor.
A primeira grande desilusão com o socialismo ocorreu com o fim da ex-União Soviética e com a independência política (pelo menos) de todos os estados que a ela estavam incorporados a partir da revolução bolchevista de 1917. A reação europeia veio em cascata e, com ela, a crise iniciada em 2008.
Para muitos, a questão sobre se a União Europeia irá ou não se estabilizar, passa necessariamente pela eventual capacidade de fragmentação nacional e aumento de sua integração e expansão. Em vista de isso ser esperado com um processo já em curso, as tensões do bloco – que deverá ser cada vez menos bloco e cada vez mais nação – com os países que o compõem irão também aumentar, gerando uma crise de legitimidade entre as instituições pan-europeias e as de cada país componente, fazendo com que cada um da maioria deles busque a adoção de suas próprias políticas, tanto externas quanto internas.
Apesar da crise financeira que se abate sobre a maioria dos seus países membros, na verdade, os europeus devem estar agora mesmo buscando um meio de não voltar aos tempos difíceis de pobreza e miséria do sovietismo e ao mesmo tempo não cair na esparrela ilusória distributivista que fez com que o europeu se acostumasse a um padrão de vida elevado a Europa ocidental sem a contrapartida de este mesmo padrão ser fruto do trabalho duro e persistente de sua gente.
Para isso, os europeus têm um excelente modelo para se autoajustarem, sendo ou não mais do que um simples bloco econômico, que é o histórico de mais de um século dos países escandinavos, histórico esse muito parecido com o que ocorreu no Canadá e na Austrália.
Podemos dizer que esses países são “socialistas”? Não, dentro da conceituação comum de socialismo (nazista, soviética, fascista, e outras variantes, inclusive a gramscista e a mais atual islamofascista). Mas são países que já há algum tempo entenderam para o que realmente serve o estado, têm altas cargas tributárias, mas ninguém, por lá, está insatisfeito com isso, uma vez que o estado devolve à população – na maioria das vezes em nível local e regional – serviços públicos de alta qualidade, sobressaindo-se a educação /ensino, e a assistência médico-hospitalar.
Acredito que 2013 possa ser o ano em que o europeu irá decidir o que quer fazer do seu futuro, ou seja, se irá permanecer fiel às soberanias de cada um de seus estados tentando tirar proveito econômico de uma Europa mantida apenas como bloco econômico, ou se irá aceitar sua condição de europeu como uma nova nacionalidade, proveniente de um novo país, algo como uns Estados Unidos da Europa.
A segunda hipótese parece ser a menos entusiasmante, haja vista que, desde o início da crise em 2008 até hoje, os países europeus, com a exceção da Alemanha e dos países escandinavos, mergulharam numa recessão econômica preocupante com uma taxa de desemprego média passando dos dez por cento no continente. Nada como um choque de realidade para acabar com o onirismo socialista...
Reforçando a primeira hipótese, está o fato de, durante esse período, no qual o aparato de tomada de decisão ficou centralizado pelo bloco, a União Europeia não foi capaz de criar soluções políticas que fossem amplamente aceitáveis pelos estados membros ou facilmente postas em prática.
Enquanto o mundo livre e civilizado está de olho nos rumos a serem tomados pelos países europeus, na América Latina, a maioria dos estados tenta repetir os mesmos erros cometidos no século passado no leste europeu, na Ásia e na Europa. Parecem incapazes de aprender as mais simples lições da História recente da humanidade.
Destarte, os países latinoamericanos, liderados por Chile, Colômbia, Brasil e México, deverão continuar a patinar na sua própria incúria e incompetência, até decidirem, como se espera que os europeus decidam, construir, pela educação e pelo ensino, basicamente, uma cidadania melhor capaz de coibir a corrupção endêmica que os afeta e de estimular o trabalho produtivo como única ferramenta de criação de capital e riqueza, fatores que realmente aumentam a produção e elevam o padrão de vida de seus povos.
Aí poderão, até, adotar algumas práticas distributivistas, desde que baseadas em contrapartidas de mérito, principalmente em âmbitos locais e regionais, e que não sejam apenas meios de comprar votos como têm sido observados nos governos onde predominam as viúvas do Muro de Berlim.
Parabéns Francisco Viana pela brilhante análise.
ResponderExcluirAgora nos cabe, usando a força da Internet, ensi-
nar um pouco de história a nossos governantes pa-
ra que não repitam êrros já cometidos no passado