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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O DESAFIO DA ESCOLA PÚBLICA


ZERO HORA  | N° 17263

EDITORIAIS


Repete-se e amplia-se, na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio, a 
conclusão de que a realidade das escolas públicas é desalentadora. O desempenho
dos colégios mantidos pelos Estados piorou no ano passado em relação a 2010. 
Dos 50 melhores educandários do país, apenas três são públicos, e todos são 
federais – na edição anterior, eram seis. É uma disparidade grande demais, que 
não se explica apenas pelo conjunto de distorções do programa encarregado de 
avaliar a performance de estudantes e escolas do Ensino Médio. 
Entre as deficiências apontadas, denuncia-se com frequência que o Enem faz o 
confronto da escola pública com instituições privadas que selecionam seus alunos.

O exame seria assim um duelo desigual de estudantes de colégios muitas vezes 
precários – e em condições socioeconômicas inferiores – com alunos de escolas
de elite. Há dados que comprovam algumas falhas, como o fato de que, entre as
10 melhores escolas, em sete eram menos de cem os alunos que estavam 
concluindo o Ensino Médio e fizeram o teste. Essa seletividade não é suficiente, 
no entanto, para alterar o conjunto dos resultados e sustentar pretextos 
desqualificadores do exame. O Enem deve ser mantido e aperfeiçoado, com a 
correção de eventuais falhas. Seria um desserviço continuar a atacá-lo, como 
tática diversionista, para esconder as limitações da educação pública.

Os números divulgados pelo MEC são incontestáveis: 92% das escolas estaduais 
tiveram nota abaixo da média geral do país, que já é insatisfatória. E esse não é 
um problema localizado nas regiões mais pobres. Nenhum Estado conseguiu 
registrar mais de 20% das escolas com notas acima da média nacional. 
A precariedade revelada pela amostragem exige, há muito tempo, reações do 
setor público. Mas a capacidade de articulação dos governos federal e estaduais 
tem se mostrado insuficiente para que aconteça uma virada na educação 
brasileira. Como apenas 12% dos estudantes estão na rede privada, isso significa
que 88% do contingente do Ensino Médio continua à espera de investimentos 
em estrutura, em equipamentos e em pessoal.

Os avanços proporcionados pelo próprio Enem, que buscam a melhoria das 
práticas pedagógicas e procuram ampliar o acesso de egressos da rede pública ao
Ensino Superior, não são suficientes para compensar os erros das políticas públicas
e as omissões de comunidades e pais alheios ao que se passa nas escolas. 
O descaso do Brasil com a formação básica assumiu, como têm alertado os 
especialistas, a conotação de desprezo com parcela da população que mais 
depende do suporte dos governos. 
Alunos de escolas mantidas pelos Estados são, em sua maioria, de famílias de
baixa renda. Privá-los de um bom ensino é também uma forma de ampliar 
suas privações e negar-lhes a chance de crescer econômica e socialmente 
através da educação.

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