ZERO HORA | N° 17263
EDITORIAIS
conclusão de que a realidade das escolas públicas é desalentadora. O desempenho
dos colégios mantidos pelos Estados piorou no ano passado em relação a 2010.
Dos 50 melhores educandários do país, apenas três são públicos, e todos são
federais – na edição anterior, eram seis. É uma disparidade grande demais, que
não se explica apenas pelo conjunto de distorções do programa encarregado de
avaliar a performance de estudantes e escolas do Ensino Médio.
Entre as deficiências apontadas, denuncia-se com frequência que o Enem faz o
confronto da escola pública com instituições privadas que selecionam seus alunos.
O exame seria assim um duelo desigual de estudantes de colégios muitas vezes
precários – e em condições socioeconômicas inferiores – com alunos de escolas
de elite. Há dados que comprovam algumas falhas, como o fato de que, entre as
10 melhores escolas, em sete eram menos de cem os alunos que estavam
concluindo o Ensino Médio e fizeram o teste. Essa seletividade não é suficiente,
no entanto, para alterar o conjunto dos resultados e sustentar pretextos
desqualificadores do exame. O Enem deve ser mantido e aperfeiçoado, com a
correção de eventuais falhas. Seria um desserviço continuar a atacá-lo, como
tática diversionista, para esconder as limitações da educação pública.
Os números divulgados pelo MEC são incontestáveis: 92% das escolas estaduais
tiveram nota abaixo da média geral do país, que já é insatisfatória. E esse não é
um problema localizado nas regiões mais pobres. Nenhum Estado conseguiu
registrar mais de 20% das escolas com notas acima da média nacional.
A precariedade revelada pela amostragem exige, há muito tempo, reações do
setor público. Mas a capacidade de articulação dos governos federal e estaduais
tem se mostrado insuficiente para que aconteça uma virada na educação
brasileira. Como apenas 12% dos estudantes estão na rede privada, isso significa
que 88% do contingente do Ensino Médio continua à espera de investimentos
em estrutura, em equipamentos e em pessoal.
Os avanços proporcionados pelo próprio Enem, que buscam a melhoria das
práticas pedagógicas e procuram ampliar o acesso de egressos da rede pública ao
Ensino Superior, não são suficientes para compensar os erros das políticas públicas
e as omissões de comunidades e pais alheios ao que se passa nas escolas.
O descaso do Brasil com a formação básica assumiu, como têm alertado os
especialistas, a conotação de desprezo com parcela da população que mais
depende do suporte dos governos.
Alunos de escolas mantidas pelos Estados são, em sua maioria, de famílias de
baixa renda. Privá-los de um bom ensino é também uma forma de ampliar
suas privações e negar-lhes a chance de crescer econômica e socialmente
através da educação.
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