Alberto Afonso Landa Camargo |
Jean-Jacques Rousseau estabelece no seu "Contrato Social" três formas de governo: democracia, aristocracia e monarquia.
Ele vê coisas boas e coisas más em todas elas, mas acaba se desiludindo com todas graças aos homens que as deturpam. Isto é uma dedução minha, talvez não a encontrem em autores que o analisam.
Segundo B. de Juvenel, em "O Poder", "Rousseau viu perfeitamente que os homens do Poder formam corpo, que esse corpo é habitado por uma vontade de corpo, e que visa apropriar-se da soberania".
E parece que Juvenel tem razão ao ver nele este desencanto, pois segundo analistas de sua obra, fascinado pelo que chama de "esforço contínuo" de qualquer governo a lutar contra a própria soberania, denuncia "o vício inerente e inevitável que, desde o nascimento do corpo político, tende infatigavelmente a destruí-lo, assim como a velhice e a morte acabam por destruir o corpo do homem".
Depois de tantas conjeturas e análises sobre o contrato, em que o povo entrega a administração do Estado para que o soberano o exerça conforme a vontade do povo, Rousseau diz magistralmente, conforme análise de Jean-Jaques Chevallier, que
"...se queremos formar uma organização duradoura, não pensemos, pois, de maneira alguma em torná-la eterna. Pensemos tão somente em prolongá-la o mais possível, dando-lhe a constituição que se opõe ao perigo denunciado - anarquia ou tirania - os mais eficazes obstáculos. E, uma vez que o princípio da vida política está na autoridade soberana ou poder legislativo 'coração do Estado', é conservando a autoridade soberana que se conservará o Estado. Conservar a autoridade soberana, porém, é, essencialmente, preservar a vontade geral contra as vontades particulares que, não podendo destruí-la - porque ela é indestrutível - desejariam ao menos subordiná-la e vencê-la".
Em tempos em que a política está à nossa volta, com candidatos de todos os matizes com suas idiotices grotescas anunciando a redenção do Brasil uma vez eleitos após as eleições municipais, conveniente seria a releitura de tantos pensadores como Rousseau para ver até que ponto as propostas contemplam a constituição de mecanismos que se oponham aos perigos que enfrentamos e estão aos nossos narizes a cada minuto a demonstrar que aqui é fácil corromper e corromper-se em proveito próprio o sistema. É bom para que vejamos quantos se tentam eternizar no poder buscando - e na maioria das vezes conseguindo - vencer a vontade geral, ou tentando subordiná-la para colocar interesses particulares acima da vontade soberana geral do povo.
Quem sabe o povo, soberano, sendo mais consciente separe e se livre daqueles que visam apropriar-se da soberania em proveito próprio e acabe por demonstrar que o Brasil não é a comprovação dos temores de Rousseau.
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