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domingo, 26 de agosto de 2012

Brasil Carinhoso


Profª MARTA PANUNZIO


> Bom dia, dona Dilma!

> Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera
 do Dia das Mães. Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora de impostos escorchantes descontados na fonte no meucontracheque de professora aposentada da rede pública mineira e em cada Nota Fiscal Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio do BRASIL CARINHOSO.

> Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista?
 Faça-me o favor, senhora presidentA! É preciso que o Brasil crie um mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos seus executivos (presidente da república, governador e prefeito) para que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil.

> Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos
 entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular o  convívio familiar destas pessoas, porque elas irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para "engordar" sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem  dúvida, um plano qüinqüenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.

> É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer
 gracinha, jogar para a platéia. É fácil e é um sintoma evidente de que  se trabalha (que se governa, no seu caso) irresponsavelmente. 

> Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora.
 Sou bastante madura, bastante politizada, marxista, sobrevivente da  ditadura militar e radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem  votarei num petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT  é raivosa e burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no  mau sentido, e delirante. Vocês são adeptos do "quanto pior, melhor".  São discricionários, praticantes do "bullying" mais indecente da  História do Brasil.

> Em 1988 a Assembléia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço
  espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática e  moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são iguais perante a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta disposição,  enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu  modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei,  menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das  bolsas-esmola. A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro  é negro, pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que  vá para a pqp. 

Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras,  colocaram-nos no tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram  com ferro quente, para não deixar dúvida de que são mal-nascidos. Não  fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza,  publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou  num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação.  Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter sido  fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual,  empresarial, cultural e política do País. A Câmara Federal endoidou? O Senado endoidou? O STJ endoidou? O ex-presidente e a atual  presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por uma  escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora disse  que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma? Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!

> Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País
 empreendedor, com uma grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da carreira, felizes, é disto  que o Brasil precisa. Para ontem. De ensino técnico, profissionalizante. Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de localizar a oração principal de um período composto por coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos Estadosnem de suas capitais. Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste. Nossos meninos e jovens lêem (quandoleem), mas não compreendem o que leram. Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de causa porque domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola pública  mineira, por opção política e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma o que estou informando.

> Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do seu exemplo, como mãe de uma única filha, e umaescola de um turno só, de doze horas. Não sabe como fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. Releia Anísio Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos gaúcho efluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina.

> A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola
 em tempo integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as  camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com quatro refeiçõesdiárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente.  Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de zero a seis, para estudantes de ensino fundamental e para os de ensino médio, em instalações individuais para um máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia, dona Dilma. No aerolula  dá pra chegar num piscar de olhos. Vá até lá ver como se gerencia a  educação pública com responsabilidade e resultado. Enquanto os  finlandeses amam a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante. Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa. Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente. Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos. Vale à pena investir mais em educação do que em caridade, pelo menos assim penso eu, materialista convicta.

> Antes que eu me esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar
 não tem nada a ver com controle de natalidade. Aliás, é a única medida capaz de evitar a legalização do controle de natalidade, que é uma medida indesejável, apesar de alguns países precisarem recorrer a ela.  Uberlândia, inspirada na lei de Cascavel, Paraná, aprovou, em novembro  de 1992, a lei do planejamento familiar. Nossa cidade foi a segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se ao SUS. Eu, vereadora à  época, fui a autora da mesma e declaro isto sem nenhuma vaidade,  apenas para a senhora saber com quem está falando.
> Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo  sucesso do seu governo como mulher e como cidadã. Mas a maior torcida  é para que não lhe falte discernimento, saúde nem coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso. A primeira chibatada  é o seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito ruim,  precisado de muito amadurecimento e aprendizado. O planeta terra é  muito mais importante do que o lucro do agronegócio e a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo. Sou fazendeira e  ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente por isto não perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar um pouco mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados e bem remunerados, para  isto mesmo. E acautele-se durante o processo eleitoral que seaproxima. Pega mal quando um político usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada. Outros usaram? E daí? A senhora não é  "os outros". A senhora á a senhora, eleita pelo povo brasileiro para  ser a presidentA do Brasil, e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer.


> Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro.
  Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães  excluídas do seu presente: as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média alta, e da classe dominante, sabe porquê? Porque somos nós, com marido ou sem marido, que, junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores de impostos,  sustentamos a carruagem milionária e a corte perdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base aliada oportunista e voraz.

> A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários
 da Bolsa-família? Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar  qualquer trabalho de carteira assinada, por medo de perder o  benefício. Estou firmemente convencida de que este novo programa,  BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de propaganda institucional feita  incessantemente pelo governo petista na última década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro, a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão todos os empregos disponíveis,  se contentando até mesmo com a informalidade. E aí os brasileiros e  brasileiras vão ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à delinquência e às drogas.

> Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar da
  pancadaria de 1964. Isto não está sendo possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação que deu a todos a  obrigação de votar e o direito de votar e ser votado, mas gostou da xyzwhijp de manter a maioria silenciosa no ostracismo social, desprecisada e desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade,  mas com um título de eleitor na mão, pronto para depositar um voto na urna, a favor do político paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar, esta foi a escolha de vocês.

> A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu
 pagar. Vai. Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos, pense  bem! Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais.  Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? Não refrescou niente? Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil  miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo  de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do  BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de  dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada de  capital. Democracia é isto, minha cara. Transparência. Não ofende.  Não dói.

> Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE. Não sou
 impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora de latim,  francês e português. Por favor, corrija esta informação.

> Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare na
 Casa Civil ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora nunca  saberá que desagradou alguém em algum lugar. Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente para que alguém,  ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito saudável.

> Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda.
 R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem tem em casa uma  criança de zero a seis anos, é uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma? Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento, no meu conceito, é uma campanha institucional  a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já produziu dois filhos.  É mais creche institucional e laica. Mais escola pública e laica em  tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula, do laboratório, competente e bem remunerado. É ensinoprofissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.

> Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer da
 corrupção escandalosa o meu assunto para esta catilinária. Mas não.
Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que é um
 desvio de conduta de líderes políticos desonestos, chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa ignara. Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos. Esta é a jogada. Suja.

> A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social. Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a
  população luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona Dilma!

> Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência da
 minoria de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia para
sustentar a máquina extraviada do governo petista.

> Último lembrete: a pobreza é uma conseqüência da esmola. Corta a
 esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são quatro.

> Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de
 protestar, sabe por quê? Porque, de cada delírio seu, quem paga a  conta sou eu.
> Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa, Ub erlândia, em 16-05-2012
marthapannunzio@hotmail.com
  a CPF nº 394172806-78

 
*CONSTITUIÇÃO FEDERAL
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
 natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes  no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,  à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
 
desta Constituição;


De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
 de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem
chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. - RUI BARBOSA.

 
Repasse para todos os seus contatos.

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