EDITORIAL INTERATIVO ZERO HORA 01/04/2012
Quando classificou o Brasil de país de não leitores, o articulista do Le Monde Diplomatique Lucas Murtinho sequer conhecia o resultado da terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência e divulgada na última quarta-feira. O novo estudo, feito com 5 mil pessoas em 315 municípios do país, confirma os piores vaticínios: de 2007 para cá, o índice de leitura caiu de 4,7 livros por pessoa para quatro títulos. O número de leitores caiu de 95,6 milhões há cinco anos para 88,2 milhões no ano passado – uma queda de 9,1% no universo de leitores ao mesmo tempo em que a população cresceu 2,9% no mesmo período.
Se o analfabetismo diminuiu, o acesso à escola se tornou universal e o governo investe cada vez mais na compra e na distribuição de livros para escolas e bibliotecas, por que estamos lendo tão pouco? Talvez não exista uma resposta simples para esta questão, mas a comparação com outros países, inclusive sul-americanos, evidencia o desapreço cultural dos brasileiros pela leitura, especialmente nos formatos tradicionais. Ainda que as novas tecnologias venham despertando o interesse dos jovens pelas letras e pela comunicação escrita, não está comprovado se nessa leitura superficial e interativa o leitor assimila conteúdos suficientes para utilizar na transformação de sua vida.
E não há dúvida de que a leitura transforma. O ato de ler é um processo de entendimento do mundo por meio da palavra, que é o instrumento de interação entre os homens. Portanto, a leitura no papel também é interativa. A leitura do mundo, como disse o educador Paulo Freire, precede a leitura das palavras, mas é a conjugação de letras que dá significado às coisas que nos cercam. Por isso, é decisiva a leitura crítica, que percebe a relação entre texto e contexto. Um leitor crítico é mais do que um decifrador de signos – é alguém capaz de captar sentidos e utilizá-los em seu próprio benefício e da sociedade.
O interesse pela leitura deveria começar em casa, mas parcela expressiva de brasileiros só tem acesso a livros na escola. E as escolas do país, principalmente nas redes públicas, ainda deixam muito a desejar no que se refere ao estímulo à leitura. Muitas, ao transformar em obrigação o que deveria ser prazer, afastam ainda mais os jovens dos livros. Não é de admirar que as bibliotecas públicas do país tenham pouca frequência, pois também elas – ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa – raramente desenvolvem programações culturais para atrair o público.
Não nos faltam livros, nem oportunidade para lê-los. Falta-nos o interesse pela leitura. Falta-nos a visão de que ler é importante, falta-nos a convicção de que ler realmente transforma as pessoas em seres humanos melhores e mais capacitados para entender o mundo.
A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que a leitura é essencial para formar cidadãos críticos e produtivos. Você concorda?
O leitor concorda
Concordo que a leitura é essencial para a formação de cidadãos críticos e produtivos, pois é através da leitura que podemos ficar informados e defender nossas posições, tendo mais argumentos e aumentando nosso vocabulário. Sirce Garcia Santana do Livramento (RS)
Com a leitura, viajamos pelos pensamentos, ideias e imaginação. Construímos esperanças e sonhos. A leitura nos conduz ao conhecimento e nos induz ao aprendizado. Eloisa Menezes Pereira Porto Alegre (RS)
Todos somos diferentes desde a geração. Portanto, não é de se estranhar as diferenças das opiniões em relação ao tema. A leitura de um bom livro fortalece a nossa consciência crítica. Enriquece o vocabulário e facilita a escrita. Portanto, quem lê bem costuma escrever bem. Hoje as facilidades para leitura são maiores que outrora. Encontramos bibliotecas públicas em municípios que antes não ofereciam esse serviço à comunidade. O que observo é a pequena frequência de usuários das bibliotecas. As pessoas preferem as “lan houses” as bibliotecas por ocasião da realização dos trabalhos. Talvez incentivados pela facilidade das teclas“copiar” e “colar”. Manuel Souza Neto Souza, Fortaleza (CE)
Concordamos em gênero, número e grau. Paulo Roberto Rossal Guimarães – Porto Alegre (RS)
O leitor não concorda
Não concordo. Temos inúmeros exemplos de cidadãos letrados que, essencialmente, leram e leem muitos livros, mas que não produzem nada que possa ser aproveitado. Casos como de políticos de alto escalão que só pensam em seu próprio umbigo, de médicos que fingem trabalhar no poder público, mas que atendem bem tranquilos em seus consultórios particulares ganhando também seu salário de servidor, ou representantes de empresas que superfaturam serviços para a União, e repartem a fatia com servidores corruptos. Leitura por si só não cria cidadão crítico, nem produtivo: vai muito também da índole e do ensinamento familiar ao indivíduo, que, daí sim, pode usar a leitura para a crítica e a produção que o valha. Juliano Pereira dos Anjos, Esteio (RS)
Discordo em parte. As pessoas têm noção da importância da leitura, admiram escritores e livros, mas falta-lhes algo fundamental para que gostem da leitura: fluência linguística. Muitos jovens saem da escola com enormes dificuldades de leitura, escrita, interpretação. Exigir deles a leitura de um romance é como me obrigar a correr uma maratona. Temos de valorizar o ensino de nossa língua em particular e a educação em geral, até porque aposto que a diferença do índice de leitura do Brasil e da França seja proporcional ao investimento em educação dos dois países. Marcelo Spalding – Porto Alegre (RS).
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