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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A ERA DOS SURTADOS

Alberto Afonso Landa Camargo

O mundo vive um surto de paranoia. Qualquer coisa que se diga ou se escreva acaba se identificando com alguém em algum lugar do planeta e sempre haverá um indivíduo para esbravejar contra o “ataque pessoal desferido”. A quantidade de surtos está tão evoluída, que escrever um artigo, uma crônica, contar piada, descrever um fato, valer-se da história para justificar teses, ou interpretar e comentar uma mensagem na internete já é suficiente para que alguém acabe se identificando com algum detalhe textual. Isto quando não “veem nas entrelinhas” intenções outras do autor. Daí para um surto paranóico é só uma questão de tempo. É o que a minha avó chamava de “mania de perseguição”. “Não olha pra ele, meu filho – dizia ela – que ele tem mania de perseguição e vai te destratar”.

Os surtos já chegaram a tal ponto, que até aquela antiga e inocente paquera na rua ou num barzinho, aquele olhar de relance para uma mulher, já é suficiente para que seja interpretado como uma ofensa, quem sabe a identificação de alguma coisa errada na roupa, na maquiagem, no cabelo ou no corpo. Se olhar para os pés, então, é porque o problema é o joanete.

O mundo está assim. Sair na rua tornou-se um problema. Olhar para cima só para admirar o detalhe de uma construção já é suficiente para que achem que o cara é um voyeur que quer olhar para dentro dos apartamentos para ver alguma coisa que o deixe sexualmente excitado. Se sorrir inocentemente para uma criança, estamos diante de um tarado pedófilo.

Para os que, como eu, escrevem poesias de vez em quando há sempre alguma vantagem, o que indica que nem tudo é um caos, pois sempre haverá alguém a ler o poema para, num pequeno momento de romantismo, dizer: “identifiquei-me nestes versos, ele escreveu para mim”.

Deve ser para se livrar dos surtos paranoicos que alguns autores de livros têm o hábito de se utilizar daquela expressão que diz que “qualquer semelhança com fatos ou pessoas na vida real terá sido mera coincidência”. Mesmo assim, muitas vezes esta precaução é inútil, pois o grau do surto e as causas que contribuem para com ele neste mundo de atribulações são tão grandes, que sempre haverá um se identificando com alguma passagem do livro e esbravejando para soltar impropérios por ter sido “atacado pelo autor”.

É por isto, prezados leitores, que eu encerro esta mal escrita e inútil crônica dizendo que “qualquer coisa que eu aqui escrevi que tenha semelhança com fatos ou pessoas na vida real terá sido mera coincidência”.

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