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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Gladiadores, arenas e bundas: o espetáculo humano


"Os gladiadores do novo milênio", exalta o narrador da praça de nossa pólis "global". Os novos grandões fazem cara feia em entrevistas e velam a brutalidade através de um discurso sobre regras e ética esportiva que confortam o público enquanto alimentam seu desejo por sangue. O UFC ou MMA é a versão pós-moderna das antigas arenas, é uma tentativa descabida de maquiar o grotesco para que pareça civilizado - como se algumas regras, que só impedem um homicídio televisionado, fossem suficientes para transformar  pancadaria em atividade desportiva. 
A política do pão e circo vigora, senhores! Paguem caro e instiguem seus instintos mais baixos, deleitem-se com o vermelho sangue em HD e distraiam-se com a selvageria humana. Colaborem para que a tradição de usar a racionalidade em prol da irracionalidade se perpetue. A reflexão, prova a história, não é nosso forte mesmo - queremos apenas a excitação causada pelos instintos básicos, queremos a destruição do outro, a disputa animalesca, o sexo sem restrições, a liberdade dos selvagens que ignoram as regras - a humanidade está sendo um enorme sucesso de público!
Nenhuma imagem pode ilustrar tão bem nosso tempo quanto o casal Vitor Belfort e Joana Prado. Eles formam a nova imagem do sucesso social. Ele, o ogro musculoso que vive da violência disfarçada. Ela, a feiticeira do sexo que estimula o imaginário da fêmea objeto sempre disposta a satisfazer os instintos do macho alfa. O "romance" dos dois, claro, só poderia ter nascido dentro de um reality show - um outro tipo de arena que funciona como zoológico humano, uma representação bizarra da baixaria que protagonizamos desde as cavernas. Eles se tornaram a expressão de nossa realeza que nasce do povo e,  que sem qualquer instrução, impõe a ignorância e a mediocridade como referentes de excelência e sucesso. 
Aqui está a receita de nossa "nova humanidade": ignorância, violência, sexo e espetáculo. Enquanto a baixaria se mantiver em altos níveis, os administradores de nossa pólis podem ficar despreocupados - tendo o pão e o circo nos sentimos humanos e não ficamos suscetíveis à racionalidade - assim, os únicos gritos que ouvirão serão àqueles que ecoam de nossas arenas em veneração aos musculosos gladiadores e às "bundudas" que se expõem como troféus. Sentem-se e aproveitem!
 
Mabel Oliveira Teixeira

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